Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

A economia verde e as organizações

DCI Opinião
Ricardo Guggisbergé gestor da MES Eventos

Conceitos como negócios sustentáveis e economia verde nunca estiveram tão na moda. Hoje, mais do que nunca, executivos de empresas dos mais variados portes estão cientes da necessidade de desenvolver sistemas de produção que levem em conta o impacto de suas ações no meio ambiente. O planeta sai ganhando com essa tomada de consciência. A população sai ganhando com esse despertar. Mas e as empresas? Levam o que, com isso? - A pergunta pode soar indecente para alguns. Fora de lugar para outros. Inadequada para a maioria. Afinal, é um absurdo colocar a manutenção das condições naturais que garantem nossa existência no mesmo prato da balança que dinheiro, resultados financeiros e congêneres.

Ok, no melhor dos mundos a preservação da biosfera seria, realmente, razão suficiente para empreender transformações de qualquer tipo. Mas, infelizmente, vivemos no mundo real. E no mundo real, a necessidade de lucro ainda dá as cartas no universo corporativo.

Não queremos, com isso, afirmar que outro mundo não seja possível, ou desencorajar mudanças. Muito pelo contrário. Inúmeras pesquisas mostram que é viável atuar de forma ambientalmente responsável sem deixar de ser competitivo.

Mais do que isso: levantamentos apontam que alinhar as companhias a critérios sustentáveis de produção agrega valores às marcas, garantindo inserção em nichos de mercado relativamente novos, pouco explorados e com imenso potencial de expansão.

Claro que ninguém está falando, definitivamente, em sacrificar o faturamento dos negócios em nome de uma causa nobre. Longe disso. Assumir, verdadeiramente, uma postura mais "verde" na realidade é estar de acordo com um discurso que ganha força na atualidade e uma ideologia que conquista mais adeptos a cada dia.

E qualquer um com o mínimo de conhecimento sobre mercado sabe que estar alinhado com os anseios do cliente, ainda que latentes, é uma das principais regras para se dar bem nesse jogo. Trocadilhos à parte, há muitas notas verdes mundo afora, ansiosas para serem gastas com organizações atentas a tais demandas.

Prova disso são os números revelados por uma pesquisa do Instituto Akatu sobre a percepção dos consumidores brasileiros com relação à responsabilidade social nas empresas. Segundo o levantamento, que ouviu moradores de 12 regiões metropolitanas do País, nos últimos quatro anos o número de pessoas que adotaram hábitos consistentes de consumo consciente aumentou em 5%. Embora em termos percentuais o número possa parecer pequeno, na prática são cerca de 500 mil brasileiros que passaram a valorizar empresas com práticas sustentáveis.

Outro ponto da pesquisa que merece destaque é a percepção de que consumidores que desenvolvem um grau mais elevado de consciência em seu consumo tendem a preservar esse comportamento. Ou seja, ao contrário do que muitos dizem, o consumo consciente não é uma moda passageira. Essa postura mais atenta por parte da população veio para ficar e tende a se expandir.

Esse fenômeno não é privilégio do Brasil. Um outro levantamento realizado pela consultoria Kantar Worldpanel nas 16 maiores cidades da América Latina mostrou que 76% dos consumidores estariam dispostos a pagar mais caro por produtos ambientalmente responsáveis.

O desenvolvimento de novas tecnologias com o objetivo de tornar os processos mais sustentáveis, as chamadas greenovations, são exemplo claro e atual de que ganhos financeiros e ambientais não precisam ficar eternamente em lados opostos do balcão.

É cada vez mais comum encontrar companhias que se dedicam a elaborar novas formas de trabalhar a fim de melhorar seu desempenho sustentável e, de quebra, aumentar os lucros. Maneiras inovadoras de obtenção de energia alternativa, reutilização de resíduos, redução do desperdício de combustíveis, melhoria dos processos agrícolas e de produção de alimentos, utilização de materiais mais eficientes na construção civil e criação de sistemas de conservação de energia melhores são só algumas das ações desenvolvidas hoje por corporações ao redor do mundo com o objetivo de reduzir indicadores como a pegada carbônica, por exemplo.

Mais do que trabalhar de forma ambientalmente responsável, a existência de projetos como esses prova que é possível alinhar-se ideologicamente a uma sociedade que reconhece a necessidade de "esverdear" a economia, sem colocar em risco a saúde financeira das instituições.

O aparecimento dessa terceira via representa uma mudança importante nos paradigmas que norteiam os negócios na atualidade. Trabalhar de forma sustentável tem deixado de ser uma exigência de ambientalistas e se mostrado um bom negócio.

Estamos todos ligados. As diretrizes que norteiam o modo de produzir são um reflexo da sociedade sobre a qual elas se apoiam. A sociedade é um reflexo das pessoas que a compõem. As pessoas estão mudando. Diante disso, quanto antes as corporações reconhecerem esse novo cenário que se configura, maior margem de manobra terão para assumir um papel privilegiado na disputa por fatias mais generosas do mercado. O bonde da história já está passando. Não perca a oportunidade de participar desse futuro.

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