Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Demitidos da vida, empregados da autonomia >>> IHU Unisinos

Desvincular trabalho de emprego pode ser uma das tarefas mais difíceis de se executar. Foi a partir de profundas reflexões sobre o conceito de trabalho e os tipos e possibilidades de produção que nasceu o Movimento dos Trabalhadores Desempregados (MTD). No IHU ideias desta semana, o último de 2010, a doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul Rita de Cássia Machado tratou do tema: “Os demitidos da vida: reflexões do mundo do trabalho a luz do MTD/RS”.

A ideia do MTD, segundo ela, era aglutinar a parcela mais empobrecida da sociedade. Assim, passaram a debater e buscar definir o que é o trabalho. Citando os autores que a ajudaram a construir seu mestrado sobre o tema tratado no evento, Rita disse que o trabalho é entendido como uma condição social e emancipação das pessoas. “Mais do que produzir objetos, todo trabalho produz sentidos”, disse.

Hoje, o MTD, que nasceu no Rio Grande do Sul, está presente em sete estados brasileiros. “A maior parte das pessoas que formam o MTD são mulheres, negras e desempregadas, mas há muitos homens que participam da organização também, constituindo o MTD como um movimento misto de trabalhadores e trabalhadoras jovens”, relata Rita.

A realidade da maior parte dos trabalhadores que fazem parte do MTD é de baixa qualificação profissional, precariedade de acesso a informação e educação. “Eles relatam que vivem o drama da violência urbana, a falta de escolas públicas e acesso ao sistema público de saúde”, conta a educadora.

O exemplo não estava muito longe da Sala Ignácio Ellacuría, onde aconteceu a palestra. Na platéia estava José Alencar Pereira, o Dico, que nos contou que vindo do interior e sem o ensino fundamental completo, enfrentou inúmeros e pesadas dificuldades na hora de encontrar emprego, mas principalmente nos momentos em que esteve desempregado. Natural de Sobradinho, Dico é hoje presidente da Associação dos Trabalhadores Urbanos de Reciclagem Orgânico e Inorgânico Aturói-Vitória, localizada no bairro Vicentina, em São Leopoldo. “Na minha cidade, eu trabalhava na colônia e quando cheguei aqui dei de cara com uma empresa grande. Comecei a trabalhar com plástico e os produtos me fizeram mal, depois disso fiquei desempregado por um ano. Depois fui trabalhar com estruturas metálicas, um trabalho muito perigoso e que pagava muito mal e depois fiquei mais um ano e pouco desempregado”.

Dico é um exemplo de grande parte das pessoas que precisam sair da zona rural e migrar para as capitais e regiões metropolitanas. Sair de um emprego porque questões de saúde é, muitas vezes, encarado negativamente por vizinhos, familiares e colegas. A concepção de trabalho como um status social, trazida por Rita, é destacada na fala de Dico. Já pensando em voltar para Sobradinho, com um filho pequeno para criar, Dico, então, conheceu, em 2002, o MTD. “O movimento me deu a oportunidade de buscar alternativas sem depender de patrão”, disse ele. Ao ser perguntado como é trabalhar sem patrão, Dico diz: “é muito complicado no início. Logo que formamos a Associação todo mundo entendia que eu deveria coordenar tudo, participar de reuniões, decidir. Hoje isso é bem diferente, todos têm autonomia, a gente divide as tarefas dentro do galpão e na rua. A maior parte das pessoas que trabalha com nós vem de emprego e eles demoram para acostumar a não ter alguém mandando”.

Rita, durante a palestra, conta também que o processo de trabalho, para quem é um “desempregado da vida”, é muito precário. “A experiência do MTD mostra que é fundamental elevar as condições de vida das pessoas transformando vidas individuais em vidas coletivas”, analisou. E propõe, como chave para a mudança, que surja uma nova organização pedagógica a partir de uma nova organização do trabalho.

Para ler mais:

Transformando vidas individuais em vidas coletivas. Entrevista especial com Rita de Cássia Machado

O mundo do trabalho no Brasil hoje. Mudanças e novos desafios. Edição 256 da Revista IHU On-Line

O mundo do trabalho e a crise sistêmica do capitalismo globalizado. Edição 291 da Revista IHU On-Line

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