Por: Redação TN / Pete Harrison, Reuters
Os planos europeus de incentivar os biocombustíveis levarão agricultores a converter 69 mil Km2 de terras selvagens em campos e plantações, tirando comida dos pobres e acelerando as mudanças climáticas, gerou um relatório. O impacto equivale a uma área do tamanho da Irlanda. Como resultado, os biocombustíveis que a Europa usará na próxima década gerarão entre 81% e 167% mais dióxido de carbono do que os combustíveis fósseis, diz o relatório. Nove grupos ambientalistas chegaram a esta conclusão ao analisar dados oficiais sobre a meta de União Européia de conseguir 10% dos combustíveis para transporte de fontes renováveis até 2020. Porém, o grupo de energias da Comissão Européia, que formulou a meta, reagiu dizendo que grande parte das terras necessárias seriam áreas abandonadas re-cultivadas na Europa e Ásia, minimizando o impacto. Novos dados científicos emergiram este ano colocando dúvidas sobre a sustentabilidade da meta de 10%, porém oficiais europeus argumentam que apenas dois terços da meta serão cumpridos através dos biocombustíveis, com o restante sendo alcançado através de veículos elétricos.
Contudo, 23 dos 27 membros da UE já publicaram suas estratégias nacionais para energia renovável, revelando que 9,5% do combustível dos transportes será biocombustível em 2020, 90% dos quais virão de cultivos de alimentos, alega o relatório. A Comissão Européia está agora considerando se ajustará a sua legislação levando em conta os estudos científicos emergentes. As dúvidas sobre os impactos da política de biocombustíveis já levaram a alegações tendenciosas, ações no tribunal contra a Comissão e alertas que os questionamentos podem acabar com o nascente setor.
Disputa comercial
O debate focaliza em um novo conceito conhecido como “mudança indireto no uso da terra”. Na essência, significa que se houver uma conversão de um campo do plantio de grãos para cultivo de biocombustíveis, alguém em alguma parte do mundo ficará faminto a menos que estes grãos passem a ser produzidos em outro local. Os cultivos para satisfazer a demanda podem vim de qualquer lugar, que geralmente é na zona tropical, incentivando agricultores a explorar novas terras de florestas férteis.
A queima das florestas pode liberar quantidades enormes de gases do efeito estufa, suficientes para cancelar qualquer benefício dos biocombustíveis. O efeito indireto da estratégia européia gerará entre 27 e 56 milhões de toneladas métricas de gases do efeito estufa ao ano, diz o relatório. No pior caso isto seria equivalente a colocar nas ruas 26 milhões de automóveis.
A Comissão Européia diz que o déficit de grãos pode ser evitado com a melhoria da produtividade e cultivo de terras abandonadas. Já os produtores de biocombustíveis alegam que os oficiais europeus não devem levar em conta as novas pesquisas, pois ainda há muita incerteza.
“Qualquer política pública baseada em tais resultados altamente discutíveis seria facilmente questionada na Organização Mundial do Comércio”, comentou Emmanuel Desplechin da União Nacional da Indústria da Cana de Açúcar (UNICA).
O relatório foi compilado pelas organizações: ActionAid, Birdlife International, ClientEarth, European Environment Bureau, FERN, Friends of the Earth Europe, Greenpeace, Transport & Environment e Wetlands International.
*Traduzido por Fernanda B. Muller, CarbonoBrasil
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