Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

População de 9 bi em 2050 dependerá de mudança alimentar, dizem pesquisadores

BORIS CAMBRELENG
da France Presse, em Paris

Os nove bilhões de pessoas que habitarão a Terra daqui a 40 anos poderão ser adequadamente alimentadas se mudarmos nossos hábitos agrícolas e alimentares, pois 30% da produção atual ainda é inutilizada, segundo dois institutos de pesquisa franceses.
Pesquisadores do programa Agrimonde reconstituíram as quantidades de alimentos produzidas entre 1961 e 2003 para fazer projeções para os próximos 45 anos. Eles traçaram, a partir disso, dois cenários.
"O primeiro cenário corresponde ao prolongamento das evoluções históricas das produções e das utilizações de biomassa em um mundo totalmente liberalizado", dizem.
Eles supõem uma continuidade do crescimento dos rendimentos agrícolas, mas também das terras dedicadas à criação de animais, com o consumo de carne aumentando. Neste cenário, as desigualdades de acesso à alimentação aumentam e os desgastes ambientais são tratados "somente a partir do momento em que se tornam agudos".
Alteração sustentável
O segundo cenário aposta em uma ruptura, com a humanidade adotando condições de desenvolvendo sustentável do planeta.
De acordo com este segundo cenário, a quantidade média disponível em 2050 seria igual a 3.000 quilocalorias (kcal) por habitantes por dia, dos quais somente 500 kcal de origem animal. Esta norma supõe de um lado uma baixa de 25% dos consumos individuais nos países industrializados, e um aumento equivalente na África Subsaariana, ressaltaram os autores da pesquisa.
Existem a possibilidade de enormes ganhos na luta contra o desperdício, enquanto cálculos realizados ano passado mostram que 30% da produção de alimentos mundial continuam não sendo utilizados, segundo os pesquisadores.
Atualmente, 4.800 kcal são produzidas por dia por habitante na Terra, mas 600 kcal são perdidas nos campos e 800 kcal nas cadeias de transformação e distribuição.
Como exemplo do desperdício, mais da metade da produção mundial de alimentos é destinada à ração para animais de abate, para produção de carne, mostra dossiê divulgado por ONGs.
Nos países industrializados, a produção de carne capta uma parte importante das terras cultiváveis. São necessárias 7 calorias vegetais para produzir 1 caloria de carne bovina ou ovina. Para os porcos ou as aves, esta relação é de 4 para 1.
Dietas distintas
Nos países da OCDE, há um crescimento regular para chegar a 4.000 calorias por dia e por habitante, enquanto na África fica entre 2000 e 2500 calorias, destacou Gérard Matheron, diretor geral do Centro de Cooperação e de pesquisa agronômica para o desenvolvimento (CIRAD).
"Historicamente, cada vez que o homem fica mais rico, ele diversifica sua alimentação, para ter acesso a mais gordura e mais açúcar", lembrou Marion Guillou, presidente do Instituto Nacional de pesquisa agronômica (INRA).
Portanto, reequilibrar o consumo de alimentos em escala planetária não é nada impossível, mas exige um controle dos mercados e das criações de animais, insistiu.
De fato, nos países ricos, o modelo de consumo está saturado. Além disso, até 2050, "a idade média da população mundial vai aumentar em 10 anos. E quando uma população envelhece, as necessidades calóricas diminuem", disse a pesquisadora Guillou.
No começo deste ano, o conselheiro científico do governo britânico John Beddington projetou uma população sob crise global em 2030. Por outro lado, o escritor de ambiente Fred Pearce insiste que enfocar na população traz uma distração perigosa da questão real: o consumo.

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