por Nicholas Stern The Observer, Sunday 18 October 2009
Ministros do meio ambiente e energia de diversos países estão reunidos hoje em Londres para tentar consensar e acelerar os pontos mais cruciais sobre as negociações relativas ao tratado internacional sobre mudanças climáticas.
Alguns progressos significativos foram feitos nas últimas semanas, como Japão, por exemplo, que anunciou sua intenção em reduzir as suas emissões de dióxido de carbono e outros gases de estufa em 25% até 2020,tendo o ano de 1990 como base.
Mas ainda há obstáculos importantes e algumas dúvidas pairam sobre se um sólido pacto global pode ser forjado em tempo hábil para ser apresentado na conferência sobre mudanças climáticas em Copenhague, que acontecerá dentro de sete semanas.
Este acordo poderá ser consolidado caso os governos concentrem-se na questão primordial: as exigidas e necessárias reduções globais das emissões , com os países ricos a assumindo a liderança através da assunção de metas agressivas,dando o exemplo, e apoio financeiro aos países em desenvolvimento para que estes também possam assumir metas significativas de redução.
Os números são importantes para isso, então deixe-me explicar o porquê.
As emissões globais de gases com efeito de estufa apenas no ano de 2010 devem atingir o patamar dos 47 bilhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente (podendo ultrapassar os 50 bilhões de toneladas, caso não haja uma desaceleração econômica global). Países ao redor do mundo têm delineado e apresentado programas que podem reduzir as emissões anuais em cerca de 49 bilhões de toneladas de CO2 equivalente até o ano de 2020. Caso nada seja feito,nenhum acordo global assinado entre os países e tudo continue na mesma;cenário conhecido como “business as usual”; as emissões de CO2 chegarão aos 55 a 60 bilhões de toneladas.
No entanto, para que seja economicamente viável e mantendo o aumento da temperatura em até 2 graus centigrados; o que os cientistas já apontam como perigoso; as metas de reduções não devem ser menores que 44 bilhões de toneladas até 2020. Outras projeções mais conservadoras apontam para 35 bilhões de toneladas em 2030 e 20 bilhões de toneladas até 2050.
Colocado de outra forma, isto quer dizer que as emissões no mundo atual, na média per capita é cerca de 7 toneladas de dióxido de carbono equivalente a cada ano. Existem grandes variações entre os países: por exemplo, os Estados Unidos emitem cerca de 24 toneladas per capita, enquanto a Índia emite per capita menos que 2 toneladas .
Em 2050,a população mundial deverão chegar a 9 bilhões, de forma que a emissão média per capita terá que ser inferior a 2 toneladas por ano. Para os países ricos, isso vai exigir uma redução das suas emissões anuais em pelo menos 80% até 2050.
Dado que as emissões da China hoje são de 6 toneladas por habitante e devem crescer, e que os países em desenvolvimento possuirão 8 bilhões de pessoas em 2050, fica muito claro que estes países representarão um importantíssimo foco de atenção na questão das alterações climáticas.
Desta forma será necessário encontrar uma modelo para reduzir 5 bilhões de toneladas de CO2 até 2020.
Isso é possível. Por exemplo, um esforço concentrado na luta contra o desmatamento poderá reduzir as emissões de forma efetiva em pelo menos mais 2,5 bilhões de toneladas. O transporte aéreo e marítimo internacional poderão diminuir ainda mais o total global em pelo menos meio bilhão de toneladas.
Os países ricos também poderiam reduzir o total global de emissões em mais de hum bilhão de toneladas, caso implementassem suas ambiciosas ações de cortes.A união Européia, por exemplo, sinaliza que vai reduzir os seus níveis de emissão entre 20 e 30% até o ano de 2020(tendo como ano-base 1990, caso haja um acordo global significativo).
Os países em desenvolvimento também deveriam fazer uma contribuição similar, descobrindo caminhos viáveis de desenvolvimento e expansão de suas economias ao mesmo tempo que reduzindo as suas emissões médias per capita.
Tanto os países Desenvolvidos quanto os em Desenvolvimento possuem grande potencial para programas de eficiência energética e desenvolvimento de novas tecnologias com baixa-emissão.
Tudo isto poderá ser realizado na próxima década através da estruturação de criteriosas politicas.Na realidade se investirmos fortemente nesta área criaremos uma nova era de prosperidade e crescimento.Os inovadores possuem muitas idéias e os investidores reconhecem que existem grandes oportunidades.O que é necessário agora é a criação de uma política internacional confiável.
Muitos países em Desenvolvimento já possuem seus planos prontos para fazer a transição para uma nova economia de baixa emissão de CO2 e já deram importantes passos nesta direção nas ultimas semanas
A China por exemplo. Seu presidente Hu Jintao anunciou recentemente na conveção da ONU em Nova York que seu país cortará suas emissões de forma significativa até o ano de 2020, tomando por base o ano de 1990.
O ministro do meio-ambiente da India, Jairam Ramesh, anunciou ou na ultima semana uma serie de medidas importantes que o país deseja adotar em sua economia. Destacou que 1/5 de sua energia deve vir de fontes renováveis como solar, eólica e hidrológica, até o ano de 2020.
Os países “ricos” deverá dar sua contrapartida para fomentar tais planos. A quantia estimada é de 100 bilhões de dólares por ano até o ano de 2020, direcionados para medição e redução das emissões. Outros 100 bilhões de dólares adicionais devem ser dedicados para ações de Adaptação às Mudanças Climáticas já que não mais poderão ser evitadas.
Os países em desenvolvimento tendem a duvidar da credibilidade de tais promessas, a menos que os países ricos também definam uma meta intermédia de US $ 50 bilhões por ano até 2015
Estes montantes deveriam ser maiores que os atuais compromissos de assistência oficial ao desenvolvimento. Eles podem parecer grandes, mas US $ 200 bilhões representam apenas cerca de 0,5% do atual produto interno bruto dos países ricos, e é minúsculo quando comparados com os riscos que podem ser evitados através de um acordo internacional. Também não será possível lidar com a questão da pobreza nos países pobres, sem também combater a ameaça das alterações climáticas: o Acordo Global deve basear-se em um claro entendimento de que estas duas questões estão intimamente ligadas entre si.
Um acordo ambicioso em matéria de alterações climáticas, que seja eficaz, eficiente e eqüitativo está ao nosso alcance, mas apenas se os nossos líderes políticos mantiverem o foco nos objetivos comuns mantendo a sua determinação em chegar a um comum acordo.
link para o artigo em Ingles: http://www.guardian.co.uk/commentisfree/cif-green/2009/oct/18/nicholas-stern-carbon-emission
Carta da Terra
"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)
Penso que, pela gravidade e interdependência do assunto, deve haver uma mudança de paradigmas, passando da competição para a cooperação.
ResponderExcluirO Planeta sofre com as manobras econômicas de maximização dos lucros, quando uma parceria energética que pudesse compartilhar os avanços tecnológicos aceleraria a implantação de usinas solares e eólicas por todo o Planeta.
Além disso, uma mudança de postura de consumo e de destinação adequada dos resíduos é premente. O que se vê são empresas querendo implantar usinas de tratamento de resíduos sólidos a preços impagáveis para os municípios pobres e, portanto, seguindo a mesma dinâmica de "vender o meu peixe, que é o melhor"...
Nesta questão energética/logística reversa de matérias-primas, o parâmetro deveria ser outro, de interesse coletivo, pois a fonte de recursos é uma só para todos - o Planeta Terra. As divisões geográficas são políticas, não biológicas. Num organismo vivo não pode haver secção, está tudo integrado.
Mudança de atitude é o que trará alguma alteração efetiva...
Que se crie um Fundo Mundial de Abastecimento de Energias Renováveis e Reversão de Matérias-primas > capital é o que não falta.
Angela Barea - Economista - SP