Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Noruega corta financiamento a dois projetos de REDD

29/02/2012 - Autor: Jéssica Lipinski - Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Mongabay/Daily News

Iniciativas de conservação florestal na Tanzânia são acusadas de terem desviado US$ 85 mil, dinheiro que terá que ser reembolsado; crime não deve interromper financiamento norueguês a outros programas de REDD


Nesta terça-feira (28), a Noruega anunciou que suspendeu o financiamento de dois projetos de REDD na Tanzânia, que em dezembro de 2011 haviam sido acusados de desfalque pelo WWF. A própria ONG é responsável pela administração dos fundos dos projetos, que já haviam recebido juntos US$ 4 milhões.

O primeiro programa, Fortalecimento da Capacidade de Organizações Ambientalistas da Sociedade Civil, foi assinado em abril de 2008 e era estimado em US$ 4,5 milhões, sendo que já havia arrecadado US$ 3,5 milhões do governo norueguês. O segundo, Reforçando a Capacidade da Tanzânia para Entregar em Curto e Longo Prazo Dados sobre Estoques de Carbono Florestal, foi firmado em dezembro de 2010 e havia recebido US$ 500 mil dos US$ 2,5 milhões.

“A embaixada foi informada da suspeita de má gestão financeira no último ano e pretendemos conduzir uma investigação. Suspendemos todos os desembolsos para os dois projetos”, comentou Simon Milledge, assessor da embaixada norueguesa, ao Daily News.

“Dois programas foram suspensos, rescindimos a contratação de oito funcionários e um pediu demissão depois que a evidência de fraude foi confirmada”, confirmou Kimunya Mugo Munya, diretor de comunicação e marca do WWF-África Ocidental e Austral.
Estima-se que US$ 85 mil tenham sido desviados das iniciativas, dinheiro que o governo norueguês quer ver reembolsado. Um relatório da firma de consultoria Ernst & Young, que foi convidada para investigar o caso, deve estabelecer exatamente quanto de fundos foi desviado.

“O WWF pediu que a Ernst & Young conduzisse uma investigação independente dessas irregularidades e a embaixada está aguardando o recebimento do relatório antes de tomar quaisquer decisões, de acordo com nossa política de tolerância zero à corrupção”, observou IngerNæss, secretária da embaixada norueguesa, ao site Mongabay.

Além da Ernst & Young, o WWF também está realizando suas próprias investigações. “Tivemos um problema com fraude em dois programas na Tanzânia e quando constatamos embasamento para agir houve uma resposta firme. Acreditamos que isso é o que devemos a nossos funcionários, doadores e apoiadores honestos e comprometidos. Continuamos a investigar e criamos uma equipe de gestão provisória”, disse Phil Dickie, do WWF-Internacional.

Apesar do ocorrido, o governo norueguês ressaltou que continuará apoiando e financiando projetos de REDD tanto na Tanzânia quanto em outros países. “A Noruega está comprometida em assistir países como a Tanzânia a se prepararem para um futuro mecanismo internacional de REDD+ e espera que todos os seus parceiros demonstrem bons níveis de governança na gestão de programas/projetos”, afirmou Inger.

“Embora esse tipo de incidente seja lamentável, isso não deve impedir que muitas outras iniciativas valiosas de progresso para o benefício geral da Tanzânia e dos tanzanianos. Por isso, continuaremos a apoiar não apenas a Tanzânia, mas também esforços globais para combater as mudanças climáticas”, concluiu a secretária.

Crédito da Imagem: Fanny Schertzer/Wikimedia Commons

Ações para compatibilizar desenvolvimento econômico com sustentabilidade ambiental

29/02/2012Por Elton Alisson
Agência FAPESP – Um grupo de especialistas mundiais em meio ambiente publicou um documento reunindo um conjunto de recomendações para os líderes governamentais sobre ações necessárias e urgentes para compatibilizar desenvolvimento econômico com a sustentabilidade ambiental e social do planeta.

Intitulado Desafios ambientais e desenvolvimento: o imperativo para agir, o documento foi elaborado por 20 cientistas laureados com o Blue Planet Prize.

Concedido pela fundação japonesa Asahi Glass Foundation desde 1992 – por ocasião da realização no Rio de Janeiro da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, mais conhecida como ECO-92 –, o prêmio é considerado o “Nobel do Meio Ambiente”, dado que a máxima distinção científica concedida pela Fundação Nobel não premia essa área de pesquisa.
Entre as personalidades laureadas com o prêmio, cujo nome é inspirado na máxima “a Terra é azul”, cunhada pelo cosmonauta russo Yuri Gagarin (1934-1968) após viajar pelo espaço, em 1961, está Gro Harlem Brundtland.

A diplomata presidiu no início da década de 1980, quando era primeira-ministra da Noruega, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento criada pela Organizaç]ao das Nações Unidas (ONU) e coordenou a realização do documento nomeado Nosso futuro comum, publicado em 1987 e mais conhecido como Relatório Brundtland, que popularizou a expressão “desenvolvimento sustentável”.

O prêmio também foi concedido em 2008 a José Goldemberg, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da Universidade de São Paulo (USP), que era secretário do Meio Ambiente do Brasil durante a ECO-92.

Algumas das recomendações dos cientistas no documento são eliminar os subsídios em setores como os de energia, transporte e agricultura, que, na opinião dos autores, criam custos ambientais e sociais, e substituir o Produto Interno Bruto (PIB) como medida de riqueza dos países.
Na avaliação dos autores do artigo, o índice é incapaz de mensurar outros indicadores importantes do desenvolvimento econômico e social de um país, como seu capital social, humano e natural e como esses dados se cruzam. Por isso, poderia ser substituído por outras métricas, como o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

“O PIB só mede transações econômicas, que não é a única medida para se avaliar o progresso de um país. Há países como Cuba, que tem um desempenho econômico muito ruim e PIB e renda per capita baixos, mas cujo sistema educacional e de saúde são excelentes”, disse Goldemberg à Agência FAPESP.

Outras recomendações dos cientistas são conservar e valorizar a biodiversidade e os serviços do ecossistema e criar mercados que possam formar as bases de economias “verdes” e investir na criação e compartilhamento do conhecimento, por meio da pesquisa e desenvolvimento, que, na opinião dos autores, permitirão que os governos e a sociedade, em geral, “possam compreender e caminhar em direção a um futuro sustentável”.

“Em síntese, a mensagem do documento é que não se pode seguir uma trajetória de desenvolvimento cujo único parâmetro seja o crescimento econômico”, avaliou Goldemberg.
“Isso é muito comum no Brasil, por exemplo, onde os economistas dizem que a economia do país deve crescer 5% ao ano, mas se nesse processo a floresta amazônica for destruída, para muitos deles está tudo bem, porque o PIB está aumentando e gerando atividade econômica. Porém, se por um lado é gerado valor econômico, o país perde sua biodiversidade e futuro”, ponderou.

O documento foi apresentado em 20 de fevereiro aos ministros de mais de 80 países que participaram da 12ª Reunião Especial do Conselho de Administração do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) e do Fórum Global de Ministros do Meio Ambiente em Nairóbi, no Quênia.
O cientista inglês Bob Watson, que coordenou a redação do documento e o apresentou em Nairóbi, presidiu o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e atualmente é o principal conselheiro científico do Reino Unido para questões ambientais.

Alerta para a RIO+20
De acordo com Goldemberg, um dos objetivos do documento é que a RIO+20, que será realizada no Rio de Janeiro de 20 a 22 de junho, resulte em resoluções concretas como as que emergiram na ECO-92, em que foi aprovada a Convenção do Clima.

“Os preparativos da conferência estão dando a impressão de que ela será mais um evento de natureza retórica, o que será muito ruim. Ainda não há nenhuma proposta de assinatura de uma nova convenção ou de protocolos”, afirmou.
Goldemberg participará em 6 de março da abertura do evento preparativo para a RIO+20 “BIOTA-BIOEN-Climate Change Joint Workshop: Science and Policy for a Greener Economy in the context of RIO+20”, que a FAPESP realizará nos dias 6 e 7 de março no Espaço Apas, em São Paulo.

Em sua palestra, na abertura do evento, Goldemberg abordará o papel da biomassa no contexto do desenvolvimento tecnológico e apresentará alguns pontos do documento.
O artigo Environment and development challenges: the imperative to act, de Golbemberg e outros, pode ser lido em qualenergia.it/sites/default/files/articolo-doc/Blue-Planet-Synthesis-Paper-for-UNEP.pdf.

155 litros de água para 1 litro de cerveja

Postado em 28/02/2012 às 15h00
Para a fabricação de um litro de cerveja são gastos, em média, 155 litros de água. |
 Imagem: Omar Junior
Os alimentos ou bens de consumo dificilmente são relacionados à água. No entanto, este bem natural está presente em tudo e em proporções maiores do que se pode imaginar. Para a fabricação de um litro de cerveja, por exemplo, são gastos, em média, 155 litros de água.

A esse uso de recurso hídrico que não é visto, dá-se o nome de água virtual e o Brasil está entre os grandes exportadores de água virtual do mundo, além de gastar água para suprir a demanda interna, cuja média de consumo diário é de 3.780 litros de água por habitante. Para que seja possível calcular o impacto das produções é necessário avaliar toda a cadeia, desde a matéria-prima até o consumidor final.

No caso da cerveja a fase agrícola, ou seja, o cultivo da cevada é a etapa que concentra os maiores gastos hídricos. Segundo uma pesquisa realizada pela cervejaria SAB Miller e a ONG WWF, em 2009, 98,3% do consumo de água na fabricação da cerveja está ligado à agricultura.
O estudo foi realizado em dois países, África do Sul e República Tcheca, e apresenta uma média de água virtual que pode ser aplicada globalmente, considerando possíveis variações de acordo com o clima e a forma de cultivo. Mesmo assim, a pesquisa considera os gastos de água com a produção da cerveja baixos, já que o café e o vinho têm a pegada hídrica três vezes maior.

O mesmo cenário se repete em outros produtos de origem agrícola, o que faz com que este setor da economia seja o responsável por mais de 60% dos gastos hídricos do Brasil. No entanto, os cálculos em relação à água virtual ainda são pouco conhecidos da maior parte da população brasileira. Por isso, o tema já foi alvo de campanhas de conscientização, estudos científicos e materiais informativos.
Alguns elementos considerados básicos na alimentação tradicional do brasileiro, como o arroz, o feijão e a carne estão entre os que mais necessitam de água em sua produção.
Conforme o estudo “Recursos hídricos: Questões Agrícolas e Ambientais”, publicado na revista Bioscience, em 2004, são necessários 1.600 litros de água para produzir um quilo de arroz. A mesma publicação informa que um quilo de carne bovina pode chegar a consumir 43 mil litros de água.
Redação CicloVivo

Irlanda é primeiro país a aceitar créditos REDD no seu regime fiscal

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REDD+

ruimregular bomótimoexcelente

27/02/2012 - Autor: Fernanda B. Müller - Fonte: Instituto CarbonoBrasil/Agências Internacionais

No início de fevereiro, o ministro irlandês de Finanças Michael Noonan publicou um projeto de lei (Finance Bill 2012) que amplia a gama de créditos de compensação de carbono reconhecidos sob seu Código Fiscal, incluindo aqueles gerados por projetos de redução das emissões por desmatamento e degradação (REDD), reportou a Environmental Finance.
Assim, a Irlanda se torna o primeiro país a aceitar estes créditos no seu regime fiscal, gerando títulos florestais.
Desenvolvedores de projetos de REDD na Irlanda já comemoram a medida, como a empresa Celestial Green Ventures (CGV), que possui direitos a créditos de carbono gerados por dezessete projetos na Amazônia brasileira.
"Esta abordagem inovadora certamente beneficiará a economia irlandesa, especialmente em termos de criação de empregos", comentou a CEO da CGV Ciaran Kely ao jornal Wallstreet Online.

Irish tax innovation to support REDD

 


Date:
February 11, 2012
 
According to a report in Environmental Finance, Ireland has become the first country in the world to recognize forest carbon credits in its tax regime – paving the way for the issuance of forest bonds, according to a leading banker.
On Wednesday, Ireland’s government published a finance bill which extends the range of carbon offsets recognized in its tax code to explicitly include those generated by projects that reduce emissions from deforestation and forest degradation (REDD).

The inclusion of REDD credits in the tax code makes establishing a special purpose vehicle (SPV) to buy forest carbon credits and then issue forestry bonds “very tax efficient, very cost-effective,” said Paul Harris, head of natural resources risk management at the Bank of Ireland in Dublin.
“This is part of the effort to ensure that Ireland offers the best possible environment for green finance,” he told Environmental Finance.

In recent years the Irish tax code has been amended to recognize mandatory and voluntary carbon credits. The new section allows costs associated with the creation of SPVs to be offset, and gives favorable treatment to any profits generated.

An SPV can be used to securitize carbon credits, with the cashflow used to pay the bondholders’ interest and principal.

Causas Profundas do Subdesenvolvimento, artigo de Millos Augusto Stringuini

Publicado em fevereiro 27, 2012 por
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AS PROFUNDAS DO SUBDESENVOLVIMENTO.
Millos Augusto Stringuini, Dr. Sc1
[EcoDebate] O desenvolvimento dos países tem sido analisado e comparado segundo uma ótica econômica tradicional usando indicadores como, por exemplo, PIB, IDH e similares.
Esses indicadores sempre serão incompletos, pois o desenvolvimento de um país depende fundamentalmente de sua Gestão Territorial. O grau de administração territorial integrada (gestão territorial) determina o nível de desenvolvimento dos países. Paises com gestão territorial eficaz são desenvolvidos, independentemente da exuberância de suas riquezas naturais. Para entender essa realidade, basta comparar os países nórdicos com países da África ou mesmo da América Latina.
Obviamente, fatores históricos e culturais possuem um peso muito grande nessa comparação. Todavia, hoje, é perfeitamente possível verificar que a evolução positiva de nações está amplamente ligada à gestão territorial. Preservar às águas, manejar adequadamente as florestas, gerenciar os processos de uso dos solos com práticas científicas, éticas e suportadas em matrizes adequadas de financiamento às redes produtivas, certamente, mudam o perfil de uma nação.
No caso brasileiro, o problema é bem conhecido com pouca probabilidade de reversão do quadro atual em curto prazo, pois o Brasil tem por tradição administrativa o culto ao Estado forte, legalista, fiscalista e, por vias de consequência, paternalista, personalista. Essa postura centralizada e centralizadora remonta aos tempos do Império e assim se mantêm nos dias atuais. Por exemplo, falamos em democracia, mas mantemos quase intacta, uma matriz tributária centralizada como nas ditaduras e a administração pública centralizada em todos os níveis prima pela adoção de procedimentos de mandato-controle.
Quando se fala do Marco Legal Ambiental, ufanam-se os brasileiros dizendo possuírem a mais evoluída legislação ambiental do mundo. Todavia, mesmo com essa legislação, continuamos com os rios, lagos e o mar territorial poluídos e as múltiplas formas de contaminação do meio ambiente terrestre e das pessoas. Prova dessa realidade é o equacionamento dos problemas de disposição final dos resíduos sólidos que está longe de ser resolvido no país, contendo um atraso tecnológico de décadas em relação a muitos países desenvolvidos. Os passivos de disposição final de resíduos sólidos existentes no Brasil ainda levarão decênios para serem solucionados na prática.
A realidade é uma só: – mesmo com todos os elementos legais e institucionais existentes, bem como com algumas medidas econômicas de melhoria da distribuição de renda, o Brasil não consegue administrar adequadamente seus enormes passivos sociais e ambientais ou de subdesenvolvimento e degradação ambiental.
Esses fatores de subdesenvolvimento continuam cotidianamente crescendo e gerando novos efeitos negativos, na exata proporção do crescimento populacional concentrado em grandes cidades, associado à estimulação continuada do consumo. As informações sobre violência e a criminalidade social e ambiental crescente, cotidianamente divulgadas por todas as mídias, são provas dessa realidade.
Rios poluídos que não possuem projeto de despoluição, favelas que não possuem projetos de regularização territorial, ampliação da produção de resíduos sólidos com ampliação dos lixões existentes são realidades que não podem ser escondidas e esquecidas.
Associado à falta de Gestão Territorial adequada e, principalmente, do uso corrente de suas eficazes ferramentas, todas elas cientificamente comprovadas, os processos de desenvolvimento no Brasil se mantêm muito pouco presentes para mais de 100 milhões de pessoas. Melhora um pouco aqui, outro pouco lá, mas no contexto geral muito pouco muda, pois as melhorias são aleatórias e intermitentes.

A redistribuição de renda se alterou de forma insuficiente e quase nada evoluímos na solução dos passivos e déficits, na saúde pública, nas infra-estruturas e ambientais. Ao contrário, em muitos casos, pioramos em termos quantitativos e qualitativos e, assim, continuamos com um Custo Brasil elevado.
Esses problemas possuem uma causa profunda, qual seja, muitas instituições públicas estão transformadas em corporações públicas.
Os princípios éticos que devem nortear as instituições públicas são aqueles relacionados com a promoção e a proteção da cidadania e do meio ambiente. Entretanto, quando as instituições públicas se transformam em corporações públicas os princípios éticos passam a sofrer relativização em detrimento dos fatores de promoção interna corporis.
Em todos os cantos do planeta, para as corporações, o desenvolvimento dos países só interessa se trouxerem benefícios “interna corporis”.
No Brasil, o processo corporativista de muitas instituições públicas e privadas é público e notório, sendo cotidianamente apresentado nas mídias, nos incontáveis casos de corrupção. Nada muda, pois corporações não combatem corporações e essas são sempre poderosas, econômica e politicamente.
O jornal Zero Hora (10/7/11), de Porto Alegre, publicou uma entrevista do Senhor ADYLSON MOTTA, ex-presidente do TCU-TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO.
Conforme a reportagem, Adylson Motta, foi Ministro do Tribunal de Contas da União por sete anos e com cinco mandatos legislativos no currículo, tendo sido testemunha de como os interesses políticos contaminam as decisões do principal órgão de controle das contas públicas do país.
Aquilo que seria um tsunami institucional e jurídico em um país desenvolvido, no Brasil não durou mais que quinze dias de pífia indignação nacional.
O Senhor Adylson Motta disse:
Em Brasília, chega a ser perigoso ser honesto.
A legislação é frouxa. E as autoridades, em vez de tornarem as leis ainda mais severas, fazem o contrário. Isso está acontecendo agora, com as licitações para as obras da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016. Não há interesse em fiscalização. Um dos maiores problemas do país é a leniência dos governos… o próprio ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva procurava desmoralizar os órgãos de controle, como o TCU. Não vejo razão para ser otimista. Qual é a melhora que tem havido no Congresso? A única certeza é de que a próxima legislatura será pior do que essa. Deveria haver uma lei, algo parecido com a ficha limpa. Mas hoje quem decide são os partidos. E, sejam governo ou oposição, não têm mais autoridade moral. O maior problema é essa relação incestuosa dos políticos com os empresários. Quem faz uma campanha patrocinada, corrompida, à base de dinheiro de empreiteiras e bancos, vai desempenhar o mandato com as mãos amarradas.
Essas declarações do ex-ministro provam que as corporações são monolíticas e dotadas de consistentes estabilidades organizacionais. Estão organizadas para proteger preferencialmente seus membros permanentes contra medidas institucionais e legais externas. A inimputabilidade das corporações é evidente e, os raros resultados obtidos pela cidadania contra elas são mínimos. Por exemplo, corporações não são punidas pela incompetência no desempenho de suas funções públicas delegadas.
Carlos Guilherme Mota2, publicou no jornal Estado de São Paulo em 19/02/2012, um artigo intitulado a Metástase da Mediocridade, nele diz:
…. o historiador Eric Hobsbawm gosta muito de nós, e do Brasil. Em uma de suas obras, porém, menciona São Paulo e a Cidade do México como das mais inabitáveis do planeta. Um amor ambíguo, vê-se, como quase todos os amores. Em outra obra, a conhecida A Era dos Extremos, o historiador “muy amigo” diz que o Brasil é um “monumento à irresponsabilidade social”, única referência ao País. Como discordar? A irresponsabilidade política e ideológica continua a ser uma das marcas do atual debate político-ideológico brasileiro, tanto no Estado como na cidade de São Paulo, urbe em que já floresceram algumas das mais significativas de nossas lideranças…
O problema não ocorre apenas neste Estado e nesta capital, pois quanto ao resto do País, o aterrador artigo “As cidades e o sertão”, do professor Luiz Werneck Vianna, sobre a nomeação de Aguinaldo Ribeiro (PP) para o Ministério das Cidades, publicado na página 2 do Estado em 14 de fevereiro, dá-nos a medida do buraco em que estamos todos metidos neste infernal “modelo” político de “governo de coalizão”. Um modelo, em verdade, fruto do velho coronelismo, enxada e voto, ou atualizando a tese do saudoso Victor Nunes Leal, do mandonismo, curral e mídia eletrônica…
Hoje cresce a irresponsabilidade dos políticos frente aos problemas da cidade de São Paulo, do Estado e do País, um dos traços mais graves denossa vida em sociedade.
Inegavelmente, os flagrantes de incompetência das corporações na gestão dos interesses coletivos e difusos são tão constantes que saltam a olhos vistos, sendo que essas incompetências no Brasil não são punidas, ou pior, são freqüentemente relativizadas e aceitas como parte integrante e necessária do “jeitinho brasileiro”.
Por exemplo, muitos dos “sistemas de informática” no Brasil estão impregnados de erros e ilegalidades, mas não existem instituições com poderes de auditoria sobre os mesmos, sem antes serem travadas infindáveis batalhas judiciais que duram anos, fazendo os problemas perderem sentido ao final do processo.
A correção dos erros dos diversos tipos de “sistemas e instituições”, vias de regra, nefandos por incidentes contra a população mais desprotegida, nunca ocorre e seus autores nunca sofrem qualquer tipo de punição. Tudo fica como está até que alguém com poder econômico e ou político seja atingido e exija a correção.
O mesmo ocorre com os problemas ambientais. O enredamento corporativo burocrático e tão grande que a perdedora sempre é a natureza.
O volume de incompetências é tão grave no Brasil que até hoje, em 2012, ainda temos atentados aos direitos humanos. Os maiores exemplos são os reincidentes casos de trabalho escravo ou semi-escravo de brasileiros e estrangeiros no território nacional e as masmorras do Brasil.
Definitivamente, o desenvolvimento de uma nação não comporta relativizações e incompetências, pois deve ser fundado sobre uma pirâmide de competências humanas e institucionais, as quais deverão praticar de forma eficaz a gestão territorial integrada e a ética pública.
Sem mudanças profundas no quadro institucional vigente, com um profundo processo de regionalização nacional e descentralização administrativa, o caminho do subdesenvolvimento social e ambiental continuará aberto e progressivo na nação brasileira.
Prof. Millos A. Stringuini, Dr.Sc.
Biólogo – Doutor em Ciências do Meio Ambiente.
Perito – Consultor Internacional – Projetos e Financiamentos.
Porto Alegre – RS – Brasil

1 Biólogo, Doutor em Ciências do Meio Ambiente. Prof. Chair Sud DSGE – Université de Liége – – Bélgica. Perito e Consultor Internacional.
2 Historiador, professor emérito da FFLCH –USP, Professor da Universidade Mackenzie, autor da obra Educação, Contraideologia, Cultura (ED. Globo).
EcoDebate, 27/02/2012

Fraternidade e Saúde pública: um grande desafio, artigo de Gilvander Moreira

Publicado em fevereiro 27, 2012 por
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Fraternidade e Saúde pública: um grande desafio.
Gilvander Moreira1
“A saúde é direito de todos e dever do Estado.” (Art. 196 da CF/1988)
[EcoDebate] Desde 1963, há 49 anos, a CNBB2, anualmente, durante os 40 dias da quaresma, promove a Campanha da Fraternidade – CF -, que tem colocado para estudo, reflexão e ação assuntos que são grandes desafios – clamores ensurdecedores – no seio da sociedade. O Tema da CF/2012 é “Fraternidade e Saúde pública”; o Lema: “Que a saúde se difunda sobre a terra!” (Eclo 38,8). Somos convidados conhecer as entranhas da realidade do SUS3, visitar pronto-socorros, ouvir as pessoas doentes que esperam muito para fazer exames e conseguir uma vaga para cirurgia no SUS. É hora de ouvirmos o apelo de 150 milhões de brasileiros que só tem como rara possibilidade de acessar saúde pública, via SUS.

A Organização Mundial da Saúde – OMS – definiu a saúde não como “ausência de doenças”, mas como “um estado de completo bem-estar físico, mental, social e espiritual4. Levada a sério, esta definição coloca em questão a base da medicina moderna. Em nossos hospitais e clínicas, quantos médicos e enfermeiros compreendem a saúde de modo integral? Onde as pessoas são atendidas, visando a saúde não só física, mas também mental, social e espiritual? A medicina de órgãos, por si só, é incapaz de resgatar saúde integral.

A saúde depende também de paz interior, de equilíbrio entre a pessoa e o seu ambiente social e, finalmente, da relação entre o ser humano e o universo. Toda doença tem conexão com aforça vital e espiritual do universo. Os gregos ensinavam que a “simpatia” entre as partes do corpo e os elementos da natureza fará com que se possa encontrar remédio para tudo. Basta colaborar com a natureza.
Povos indígenas, nas mar
gens do lago Titicaca, no altiplano peruano, dizem que todo ser humano tem três almas: a física, a interior e uma que nos liga ao universo. A pessoa fica doente quando “perde” uma destas almas. A cura consiste em recuperar a alma perdida.
Infelizmente, o cristianismo incorporou da cultura ocidental uma visão dualista que fragmenta corpo e alma, matéria e espírito. Privilegia, assim, um racionalismo abstrato que faz da religião mais um sistema de crenças intelectuais do que um caminho de amor e integração. Os evangelhos da Bíblia relatam que Jesus enviou os seus discípulos e discípulas para anunciar o Reino de Deus, curando as doenças e expulsando o mal que tomava conta das pessoas. O galileu de Nazaré, pela ternura e solidariedade, curou paralíticos, perdoou pecados para que as pessoas doentes se sentissem integradas com seu eu mais profundo, com Deus, um mistério de amor que nos envolve, com a comunidade e com toda a biodiversidade. O universo tem a cura para toda doença. A saúde mais profunda está escondida no fundo do coração de todo ser humano. Unindo as cordas do universo e do coração reencontramos saúde e salvação.

A Constituição Federal de 1988 – CF/88 – afirma: “A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e recuperação” (Art. 196). No caso de crianças e adolescentes, o direito à saúde deve ser assegurado com “absoluta prioridade” (Art. 227).
Temos, no Brasil, dois sistemas de saúde: a) Um público: o SUS, para os pobres; b) Outro privado, o dos planos de saúde, que atende 25% do povo, cerca de 50 milhões de pessoas. Milhares de pessoas pobres se sujeitam a continuar em-pregado em grandes empresas, porque estas oferecem plano privado de saúde. Ou seja, o caos no SUS leva empresas a arrochar salários, pois seguram trabalhadores ao ofertarem planos privado de saúde.
Na luta por saúde pública, tivemos várias conquistas: a) a Criação e organização do SUS, que é um projeto bom, mas sobrevive desde seu nascimento na UTI, pública; b) a criação do PSF – Programa de Saúde da Família, com a ênfase na prevenção, inspiração vinda do sistema de saúde de Cuba; c) o combate contra a AIDS, elogiado pela OMS. Mas a CF/88 está sendo desrespeitada cotidianamente, pois os lindos artigos 196 e 227 estão sendo pisoteados, isso sem contar o princípio do respeito à dignidade humana e tantos outros prescritos na nossa Carta Maior.

SAUDE PUBLICA: Grande São Paulo tem alta prevalência de transtornos mentais

27/02/2012Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Quase 30% dos habitantes da Região Metropolitana de São Paulo apresentam transtornos mentais, de acordo com um estudo que reuniu dados epidemiológicos de 24 países. A prevalência de transtornos mentais na metrópole paulista foi a mais alta registrada em todas as áreas pesquisadas.

O trabalho faz parte da Pesquisa Mundial sobre Saúde Mental, iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) que integra e analisa pesquisas epidemiológicas sobre abuso de substâncias e distúrbios mentais e comportamentais. O estudo é coordenado globalmente por Ronald Kessler, da Universidade Harvard (Estados Unidos).

Em artigo publicado na revista PLoS One no dia 14 de fevereiro, os autores apresentam os resultados da pesquisa São Paulo Megacity Mental Health Survey, que gerou para o relatório internacional os dados relativos ao Brasil – no país, o estudo se restringiu à Grande São Paulo.
O estudo foi realizado no âmbito do Projeto Temático “Estudos epidemiológicos dos transtornos psiquiátricos na região metropolitana de São Paulo: prevalências, fatores de risco e sobrecarga social e econômica”, financiado pela FAPESP e encerrado em 2009.
Entre os autores do artigo estão Laura Helena Andrade, professora do Departamento e Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina (FM) da Universidade de São Paulo (USP), e Maria Carmen Viana, professora do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).

Andrade conduziu o Temático em parceria com Viana, que teve Bolsa de Pós-Doutorado da FAPESP entre 2008 e 2009 no Núcleo de Epidemiologia Psiquiátrica do IP-FM-USP, coordenado por Andrade.
Estudo epidemiológico de base populacional, o São Paulo Megacity Mental Health Survey avaliou uma amostra representativa de residentes da região metropolitana de São Paulo, com 5.037 pessoas avaliadas em seus domicílios, a partir de entrevistas feitas com base no mesmo instrumento diagnóstico. Os questionários incluíram dados sociais.

Segundo o estudo, 29,6% dos indivíduos na Região Metropolitana de São Paulo apresentaram transtornos mentais nos 12 meses anteriores à entrevista. Os transtornos de ansiedade foram os mais comuns, afetando 19,9% dos entrevistados. Em seguida, aparecem transtornos de comportamento (11%), transtornos de controle de impulso (4,3%) e abuso de substâncias (3,6%).
“Dois grupos se mostraram especialmente vulneráveis: as mulheres que vivem em regiões consideradas de alta privação apresentaram grande vulnerabilidade para transtornos de humor, enquanto os homens migrantes que moram nessas regiões precárias mostraram alta vulnerabilidade ao transtorno de ansiedade”, disse Andrade à Agência FAPESP.

A prevalência dos transtornos mentais, de quase 30%, é a mais alta entre os países pesquisados. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com pouco menos de 25%. A razão da alta prevalência, de acordo com a pesquisadora, pode ser explicada pelo cruzamento de duas variáveis incluídas no estudo: a alta urbanização e a privação social.

Em relação às outras regiões estudadas, a Região Metropolitana de São Paulo também teve a mais alta proporção de casos de transtornos mentais considerados graves (10%), bem acima do estimado em outros 14 países avaliados. Depois da metrópole paulista, os países com maior porcentagem de casos graves foram os Estados Unidos (5,7%) e Nova Zelândia (4,7%).

“Existiam dados na literatura mostrando que esses transtornos mentais têm alta prevalência em áreas urbanas. Por isso observamos o efeito de exposição à urbanicidade, isto é, as pessoas que viveram a maior parte da vida em região urbana. Levamos em conta também a variável da privação social, estrutura etária da população, setor censitário, escolaridade do chefe de família, migração e exposição a eventos traumáticos violentos”, disse.

A exposição ao crime foi associada aos quatro tipos de transtornos mentais avaliados, segundo Andrade. A alta urbanicidade está associada especialmente ao transtorno de controle e impulso. A privação social também tem impacto sobre o transtorno de abuso de substâncias e interfere na gravidade das doenças.

“As pessoas que moram em áreas precárias apresentam quadros mais graves e tendência ao abuso de substâncias. As que tiveram mais exposição à vida urbana têm mais transtornos de controle e impulso – em especial o transtorno explosivo intermitente, que é típico de situações de estresse no trânsito, por exemplo”, apontou.

Promoção da saúde mental
Ao cruzar as variáveis, os pesquisadores chegaram aos grupos de maior vulnerabilidade: mulheres que vivem em regiões de alta privação apresentam mais transtornos de humor e homens migrantes que vivem em região de média e alta privação têm mais transtornos de ansiedade. Pessoas com baixa escolaridade têm mais transtornos de ansiedade e de abuso de substâncias.
“Um dos diferenciais desse estudo é que incluímos nas entrevistas medidas de incapacitação, a fim de avaliar a gravidade das doenças. Concluímos que, entre as pessoas diagnosticadas com transtornos mentais, um terço corresponde a casos graves, um terço a casos moderados e um terço a casos leves. As pessoas com transtornos moderados e graves sofrem com algum tipo de incapacitação”, disse Andrade.

O estudo sugere que é preciso fortalecer, no sistema brasileiro de saúde básica – que inclui o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Programa Saúde da Família –, uma integração entre atendimento e promoção da saúde mental.

“Não é possível ter um serviço especializado em todas as unidades, por isso é preciso equipar a rede com pacotes de diagnóstico e de conduta a serem utilizados pelos profissionais de cuidados primários. É preciso capacitar não só os médicos, mas também os agentes comunitários, que devem ser orientados para identificar casos não tão comuns como os quadros psicóticos, levando em conta os fatores de risco associados aos transtornos mentais”, afirmou Andrade.
O artigo Mental Disorders in Megacities: Findings from the São Paulo Megacity Mental Health Survey, Brazil, de Laura Andrade e outros, pode ser lido em www.plosone.org/article/info%3Adoi%2F10.1371%2Fjournal.pone.0031879.

SAUDE PUBLICA: Consumo de açúcar deve ser regulado, afirmam cientistas

02/2012Agência FAPESP – Doenças infecciosas foram ultrapassadas, pela primeira vez na história, por doenças não infecciosas. De acordo com as Nações Unidas, doenças crônicas não transmissíveis como câncer, diabetes e problemas no coração são responsáveis por cerca de 35 milhões de mortes ao ano.
Em comentário publicado na edição desta quinta-feira (02/02) da revista Nature, três cientistas da Universidade da Califórnia em San Francisco destacam outro responsável pela mudança na saúde pública mundial, além do cigarro e do álcool: o açúcar.

Os autores afirmam que os efeitos danosos do açúcar no organismo humano são semelhantes aos promovidos pelo álcool e que seu consumo também deveria ser regulado.
O consumo mundial de açúcar, apontam, triplicou nos últimos 50 anos. E, apesar de os Estados Unidos liderarem o ranking mundial do consumo per capita do produto, o problema não se restringe a esse ou a outros países desenvolvidos.

“Todo país que adotou uma dieta ocidental, dominada por alimentos de baixo custo e altamente processados, teve um aumento em suas taxas de obesidade e de doenças relacionadas a esse problema. Há hoje 30% mais pessoas obesas do que desnutridas”, destacaram os autores.

Mas eles destacam que a obesidade não é o principal problema neste caso. “Muitos acham que a obesidade está na raiz de todas essas doenças, mas 20% das pessoas obesas têm metabolismo normal e terão uma expectativa de vida também normal. Ao mesmo tempo, cerca de 40% das pessoas com pesos considerados normais desenvolverão doenças no coração e no fígado, diabetes e hipertensão”, disseram. Eles destacam que a disfunção metabólica é mais prevalente do que a obesidade.

No fim das contas, o problema é maior nos países menos ricos. Segundo o estudo, 80% das mortes devidas a doenças não transmissíveis ocorrem nos países de rendas média ou baixa.
De acordo com os autores do artigo, o cenário chegou a tal ponto que os países deveriam começar a controlar o consumo de açúcar. A regulação poderia incluir, sugerem, a taxação de produtos industrializados açucarados, a limitação da venda de tais produtos em escolas e a definição de uma idade mínima para a compra de refrigerantes.

Mas, diferentemente do álcool ou do cigarro, que são produtos consumíveis não essenciais, o açúcar está em alimentos, o que dificulta a sua regulação. “Regular o consumo de açúcar não será fácil, especialmente nos ‘mercados emergentes’ de países em desenvolvimento, nos quais refrigerantes são frequentemente mais baratos do que leite ou mesmo água”, destacaram.

O comentário The toxic truth about sugar, de Robert H. Lustig, Laura A. Schmidt e Claire D. Brindis, pode ser lido por assinantes da Nature em www.nature.com.

Brasil acanhado frente à Rio+20, artigo de José Eli da Veiga

 




[Valor Econômico] Muito se contradisse o negociador-chefe do Brasil para a Rio+20, embaixador André Corrêa do Lago, ao responder às excelentes perguntas da repórter especial do Valor Daniela Chiaretti (16/2, p. A13). Ele ressaltou que há 20 anos ninguém podia imaginar que a Convenção do Clima se tornaria a principal negociação econômica no mundo. Mesmo assim, rechaçou a hipótese de que a cúpula de junho tenha ênfase ambiental. Pior: serviu-se da conhecida parábola dos “três pilares” contra o terceiro princípio da Declaração do Rio: o de equidade entre necessidades desenvolvimentistas e ambientais.

Se ele mesmo diz que um tema eminentemente ambiental, como é a questão climática, acabou por gerar a principal negociação econômica do mundo, não deveria ao menos enxergar vasos comunicantes entre supostos “três pilares”?

Quando John Elkington lançou essa metáfora para sensibilizar executivos de multinacionais, ele se referia a lucro, gente e planeta, termos que em sua língua começam pela letra “p”: “profit”, “people” e “planet” (ver resenha do clássico de Elkington no Valor de 27/09/2011, p. D10). Não tinha como imaginar que, quinze anos depois, seu insight seria usado para se vender a ladainha de que as sociedades se apoiariam em três pilares distanciados e paralelos.

Muito antes da emergência do ideal da sustentabilidade, já se mostrava impossível separar o econômico do social e vice-versa. Além disso, quando se evoca o processo de desenvolvimento, não é possível ignorar a importância crucial de ao menos três outras esferas: política, cultural e psicológica. Boa pedagogia faz com que sejam evitadas em treinamentos empresariais, já que seu objeto não é o conjunto da sociedade. E se o truque for rebater tal crítica com a chicana de que todas as outras esferas seriam partes da dimensão social, então fica muito mais grave o problema da conexão que a economia mantém com a biosfera (ambiente), ambas reagindo a uma incomensurável imensidão que seria o “social”. Enfim, por ser todo o alicerce do desenvolvimento humano, o ambiente não pode ser retoricamente rebaixado a mero fator de um trinômio.

Mesmo supondo-se que as dimensões do desenvolvimento sustentável pudessem ser reduzidas aos três pilares dos negócios, eles não seriam assimiláveis a pilotis de um prédio. Nesse reducionismo, a metáfora precisaria realçar o caráter poroso das intersecções. Afinal, os supostos “pilares” da sociedade são atravessados por fluxos que permanentemente se misturam. Uma osmose que torna a integração dos vetores de desenvolvimento o nó górdio do processo.

Ora, é exatamente essa integração que deveria demover o Brasil de assumir na preparação da Rio+20 o positivismo dos “três pilares”. Essencialmente porque é o combate às desigualdades – tanto entre as nações (eufemisticamente chamadas de “assimetrias”), quanto nacionais (principalmente, mas não apenas de renda) – que dá a liga do desenvolvimento sustentável, seja quantos forem seus imaginários “pilares”. Como as mais cruciais desigualdades são reproduzidas antes de tudo por razões ideológicas, o Brasil não deveria enfiar essa viola no saco.

Mas há outra revelação igualmente chocante na entrevista de nosso “sherpa”: explícita afinidade com comportamento dos EUA, em contraposição ao da Europa, alvo de sistemática e repetida desqualificação.
Não é razoável que, quatro meses antes da abertura de tão relevante conferência, o governo anfitrião se mostre alinhado a algum dos polos, por mais direito que tenha em discordar de outros. Ainda mais deplorável, neste caso, é se aceitar que o tema da “governança internacional do desenvolvimento sustentável” se restrinja ao conflito norte-transatlântico sobre a eventual criação de mais uma agência especializada da ONU (a 16ª!) e de uma reforma de seu Conselho Econômico Social (Ecosoc).

Falando sério: poderá haver governança do desenvolvimento sustentável se ela não for assumida pelo G-20 (que inclui o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial)? Sem isso, será que ela poderia chegar à OMC e a poderosas instâncias do sistema das Nações Unidas que não respondem ao Ecosoc? Ou será que o desenvolvimento sustentável seria capaz de adquirir governança global sem engajamento da Corte Internacional de Justiça e, sobretudo, dos órgãos subsidiários do Conselho de Segurança?

Com certeza no final de junho sairá do Rio algum tipo de “upgrade” da sustentabilidade na hierarquia da ONU. Mas isso será, na melhor das hipóteses, um modestíssimo avanço na direção de sua efetiva governança global. Em tais circunstâncias, seria bem melhor se o Brasil aproveitasse a incomparável oportunidade histórica de ser o anfitrião de uma cúpula voltada a “repensar o desenvolvimento do mundo” (sic), para reerguer a bandeira branca da igualdade, em vez de se deixar levar a reboque em disputas sobre Ecosoc e programa ambiental (Pnuma). Mais: se mantivesse a altivez de não aderir ao polo que mais tem resistido à bandeira da sustentabilidade, nem rejeitar justamente o polo que mais se mostra disposto a levá-la a sério.

José Eli da Veiga é professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP) e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ).

Rio+20 e o futuro que queremos, artigo de José Goldemberg

[O Estado de S.Paulo] Finalmente começa a tomar forma a conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) para marcar o 20.º aniversário da grande conferência sobre o meio ambiente e o desenvolvimento que reuniu mais de 120 chefes de Estado em 1992, no Rio de Janeiro, e adotou a Convenção do Clima, a Convenção da Biodiversidade e a Agenda 21.

A conferência deste ano – que será realizada de 20 a 22 de junho – recebeu o apropriado nome de Rio+20 e seu objetivo é fazer um balanço do que se conseguiu realizar nos últimos 20 anos na direção de um desenvolvimento sustentável e, eventualmente, propor novos caminhos e novas ações. As perspectivas de seu sucesso são ainda incertas e mais esforço é necessário, por parte do governo brasileiro, para evitar que ela se torne apenas um palco para declarações retóricas e politicamente corretas.

A razão para um certo pessimismo tem origem no documento preparado pelas Nações Unidas em janeiro e que deverá ser discutido e, provavelmente, adotado pelos países em junho. Esse documento, com o sugestivo título O Futuro que Queremos, tem 128 parágrafos, a grande maioria dos quais não passa de exortações aos países-membros da ONU para que façam mais na direção do desenvolvimento sustentável, mas não delineia planos de ação para torná-los realidade. As palavras “reafirmar”, “reconhecer”, “encorajar” e “apelar” aparecem em 118 dos 128 parágrafos.

A Conferência do Rio em 1992 foi precedida de intensivas negociações e preparação das convenções que foram assinadas. Depois dela foram necessários cinco anos, até 1997, para a adoção do Protocolo de Kyoto, que fixou metas para a redução das emissões de gases responsáveis pelo aquecimento da Terra e um calendário para cumpri-las. O protocolo só entrou em vigor em 2005 e, mesmo assim, os Estados Unidos se mantiveram fora dele.

Os progressos alcançados desde 1992 foram modestos, o que não significa que nada tenha sido feito, apesar de os Estados Unidos não terem aderido ao Protocolo de Kyoto. Os países da União Europeia cumpriram razoavelmente bem os seus compromissos. Muitos municípios e até Estados de países federativos seguiram as recomendações da Agenda 21 e alguns adotaram metas para a redução de emissões, como o Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e o de São Paulo, no Brasil.

O que se esperava, portanto, da Rio+20 é que a ocasião fosse aproveitada para aprofundar os compromissos adotados em 1992 e assumir novos. Não é o que transparece do documento preparado pela ONU, que está em consideração pelos Estados-membros. De concreto mesmo, o que ele propõe é:

- Transformar o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) numa agência da ONU, como a Organização Mundial da Saúde ou a Organização Mundial do Comércio, o que lhe daria mais poderes e recursos. Essa é uma boa ideia, mas de caráter burocrático;

- Criar, até 2015, indicadores para medir os progressos feitos. Há sugestões de criar um indicador de desenvolvimento que leve em consideração, além do GDP (produto interno bruto, na sigla em inglês), os custos causados ao meio ambiente por um desenvolvimento predatório.

O documento também faz propostas na área de energia, o que não ocorreu na Agenda 21. Endossa a proposta do secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, de dobrar, até 2030, a eficiência com que a energia é usada e, o que é mais importante, duplicar no mesmo prazo a fração de energia renovável na matriz energética mundial. Reconhecer a importância da energia como fator fundamental para o desenvolvimento sustentável não é mais do que reconhecer a realidade, porém sua inclusão nas resoluções da Rio-92 foi vetada, na ocasião, pelos países produtores de petróleo.

Infelizmente, 2030 está longe e até a Conferência de Durban (COP 17 – 2011) foi mais ambiciosa ao acertar que até 2020 deverá entrar em vigor um acordo internacional que substitua o Protocolo de Kyoto e fixe os compromissos mandatórios de todos os países de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa – as emissões da China já superam as dos Estados Unidos.

Para “salvar” a Rio+20 seria preciso a adoção de protocolos e de prazos para cumpri-los por meio de instrumentos legais. É isso que não ocorreu até agora para a conferência deste ano. Até a presença de um grande número de chefes de Estado ainda é incerta.
Em última análise, quem terá de assumir ações concretas são os países-membros ou as associações de países, como fez a União Europeia em relação às emissões de gases de efeito estufa. Por essa razão o Brasil tem excelentes condições de assumir a liderança desse processo, juntamente com a África do Sul, a China e a Índia, com programas que já adotou e tiveram sucesso, como o Luz para Todos ou a produção de etanol da cana-de-açúcar. Outros países têm excelentes programas de energia eólica, como a Espanha, a Dinamarca e até os Estados Unidos.

Os problemas que a humanidade enfrenta hoje são sérios e comprometem efetivamente as gerações futuras. A exploração predatória dos recursos naturais está levando à exaustão dos combustíveis fósseis e da biodiversidade dos ecossistemas que são essenciais para garantir a continuidade da produção de alimentos. A euforia com descobertas de petróleo no pré-sal, no Brasil, não muda o fato de que as reservas mundiais de petróleo e de gás não deverão durar muitos anos e de que seu uso é a principal fonte da poluição urbana e também da poluição global que enfrentamos.

A percepção de que preocupações com a proteção ambiental são um obstáculo ao desenvolvimento econômico é equivocada e precisa ser desmitificada. A Rio+20 oferece uma oportunidade para fazê-lo.
JOSÉ GOLDEMBERG, PROFESSOR EMÉRITO DA USP; FOI SECRETÁRIO ESPECIAL DO MEIO AMBIENTE DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA EM 1992.

Bunge se prepara para comprar grupo investidor Climate Change Capital

Data: 23/02/2012 10:28
Por: Redação TN / Reuters
A gigante dos agronegócios Bunge afirmou ontem (23/2) que comprará o grupo investidor britânico Climate Change Capital (CCC) por uma quantia que não será divulgada. A venda acontece em um momento no qual o CCC, que já foi um dos maiores investidores em créditos de carbono, está bastante enfraquecido por causa da queda do preço dos créditos, que chegaram a valer menos de 4 euros nos últimos meses. A Autoridade de Serviços Financeiros do Reino Unido (FSA) aprovou a transação na segunda-feira (18/2) e o CCC já conseguiu obter a aprovação de seus acionistas, liberando a venda.
“A negociação deve ser fechada nas próximas semanas. Não divulgaremos os valores envolvidos”, afirmou uma declaração conjunta da Bunge e do CCC.
Na semana passada, James Cameron, fundador e vice-presidente do CCC, informou à Reuters que a companhia está sendo vendida por “um valor baixo” na sua avaliação. Em uma entrevista, Cameron se negou a informar o valor, mas reconheceu que o preço será inferior a £50 milhões. Além de ser visto como um gerenciador de investimentos em meio ambiente e um grupo conselheiro para sustentabilidade, o CCC é um grande investidor em projetos do mecanismo do desenvolvimento limpo (MDL) sob o Protocolo de Quioto.
Assim como o CCC, a Bunge, através de seu grupo de serviços financeiros, tem sido bastante ativa nos mercados de carbono, tanto como compradora de créditos quanto como uma consultoria para outros participantes do mercado.
“Esta transação é a promessa de uma presença de longo prazo no mercado, combinando dois atores já estabelecidos para criar uma organização com profunda experiência e alcance global”, afirmou Daniel Rudolph, diretor da Bunge.
*Traduzido por Fabiano Ávila, Instituto CarbonoBrasil

USP é universidade que mais forma doutores no mundo | Agência FAPESP :: Especiais

USP é universidade que mais forma doutores no mundo Agência FAPESP :: Especiais

Para onde irão os indignados e os "occupiers"? Pravda

14.02.2012 03:01      
Leonardo Boff

Para onde irão os indignados e os Uma das mesas de debates importante no Forum Social Temático em Porto Alegre, da qual me coube participar, foi escutar os testemunhos vivos dos Indignados da Espanha, de Londres, do Egito e dos USA. O que me deixou muito impressionado foi a seriedade dos discursos, longe do viés anárquico dos anos 60 do século passado com suas muitas "parolle".
O tema central era "democracia já". Revindicava-se uma outra democracia, bem diferente desta a que estamos acostumados, que é mais farsa do que realidade. Querem uma democracia que se constrói a partir da rua e das praças, o lugar do poder originário. Uma democracia que vem de baixo, articulada organicamente com o povo, transparente em seus procedimentos e não mais corroída pela corrupção. Esta democracia, de saida, se caracteriza por vincular justiça social com justiça ecológica.

Curiosamente, os indignados, os "occupiers" e os da Primavera Árabe não se remeteram ao clássico discurso das esquerdas, nem sequer aos sonhos das várias edições do Forum Social Mundial. Encontramo-nos num outro tempo e surgiu uma nova sensibilidade. Postula-se outro modo de ser cidadão, incluindo poderosamente as mulheres antes feitas invisíveis, cidadãos com direitos, com participação, com relações horizontais e transversais facilitadas pelas redes sociais, pelo celular, pelo twitter e pelos facebooks.
Temos a ver com uma verdadeira revolução. Antes as relações se organizavam de forma vertical, de cima para baixo. Agora é de forma horizontal, para os lados, na imediatez da comunicação à velocidade da luz. Este modo representa o tempo novo que estamos vivendo, da informação, da descoberta do valor da subjetividade, não aquela da modernidade, encapsulada em si mesma, mas da subjetividade relacional, da emergência de uma consciência de espécie que se descobre dentro da mesma e única Casa Comum, Casa, em chamas ou ruindo pela excessiva pilhagem praticada pelo nosso sistema de produção e consumo.

Essa sensibilidade não tolera mais os métodos do sistema de superar a crise econômica e derivadas, sanando os bancos com o dinheiro dos cidadãos, impondo severa austeridade fiscal, a desmontagem da seguridade social, o achatamento dos salários, o corte dos investimentos no pressuposto ilusório de que desta forma se reconquista a confiança dos mercados e se reanima a economia. Tal concepção é feita dogma e ai se ouve o estúpido bordão:"TINA: there is no alternative", não há alternativa. Os sacrílegos sumos sacerdotes da trindade nada santa do FMI, da União Européia e do Banco Central Europeu deram um golpe financeiro na Grécia e na Itália e puseram lá seus acólitos como gestores da crise, sem passar pelo rito democrático. Tudo é visto e decidido pela ótica exclusiva do econômico, rebaixando o social e o sofrimento coletivo desnecessário, o desespero das famílias e a indignação dos jovens por não conseguirem trabalho. Tudo pode desembocar numa crise com consequências dramáticas.

Paul Krugmann, prêmio Nobel de economia, passou uns dias na Islândia para estudar a forma como esse pequeno pais ártico saiu de sua crise avassaladora. Seguiram o caminho correto que outros deveriam também ter seguido: deixaram os bancos quebrar, puseram na cadeia os banqueiros e especuladores que praticaram falcatruas, reescreveram a constituição, garantiram a seguridade social para evitar uma derrocada generalizada e conseguiram criar empregos. Consequência: o pais saiu do atoleiro e é um dos que mais cresce nos paises nórdicos. O caminho islandês foi silenciado pela midia mundial de temor de que servisse de exemplo para os demais países. E a assim a carruagem, com medidas equivocadas mas coerentes com o sistema, corre célere rumo a um precipício.

Contra esse curso previsível se opõem os indignados. Querem um outro mundo mais amigo da vida e respeitoso da natureza. Talvez a Islândia servirá de inspiração. Para onde irão? Quem sabe? Seguramente não na direção dos modelos do passado, já exauridos. Irão na direção daquilo que falava Paulo Freire "do inédito viável" que nascerá desse novo imaginário. Ele se expressa, sem violência, dentro de um espírito democrático-participativo, com muito diálogo e trocas enriquecedoras. De todas as formas o mundo nunca será como antes, muito menos como os capitalistas gostariam que ficasse.

Timothy Bancroft-Hinchey

Pesquisadores nos EUA sugerem que uma dieta rica em calorias pode ter relação com a perda de memória | Portal EcoDebate

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Ex-diretores da multinacional Eternit condenados por terem causado a morte de 3.000 pessoas com o uso do amianto | Portal EcoDebate

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MMA e BNDES lançam linha de crédito para projetos que reduzam emissões

Novo programa possui taxas de juros atrativas para estimular investimentos

A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, lançaram nesta segunda, 13 de fevereiro, no Rio de Janeiro, as linhas de crédito do Programa Fundo Clima. O objetivo do novo Fundo é apoiar projetos relacionados a ações de mitigação e adaptação às mudanças climáticas e redução de emissões de gases do efeito estufa.

“O Fundo Clima é um dos principais instrumentos da política brasileira de mudança do clima e até 2014 seus recursos poderão atingir até R$ 1 bilhão”, disse Izabella.
Os recursos do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima – Fundo Clima – são provenientes da parcela de até 60% da Participação Especial do Petróleo, recebida pelo Ministério do Meio Ambiente. Os recursos estão divididos em duas modalidades: reembolsável, que será operada pelo BNDES, e não reembolsável, sob gestão direta do MMA.

Em 2011, o orçamento destinado às duas modalidades foi de R$ 230 milhões. Do total, R$ 30 milhões correspondem à parcela não reembolsável, que já entrou em vigor no ano passado, e R$ 200 milhões para a modalidade reembolsável, que estará disponível a partir de agora, com o lançamento da linha de crédito. Para 2012, o orçamento da parcela reembolsável é de R$ 360 milhões.

A nova linha, com o intuito de estimular investimentos privados, municipais e estaduais com maior eficiência do ponto de vista climático, apresenta juros mais atrativos do que os aplicados atualmente pelo BNDES. As novas taxas variam de acordo com os subprogramas, começando em 2,5% ao ano.
Os prazos de financiamento, também variáveis em função da aplicação, chegam a 25 anos — prazo máximo para empreendimentos de transporte urbano sobre trilhos. A participação do BNDES poderá ser de até 90% do valor dos itens financiáveis para todos os subprogramas.

Os subprogramas são os seguintes:
Modais de transporte eficientes – Voltado a projetos que contribuam para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e de poluentes locais no transporte coletivo urbano de passageiros, bem como para a melhoria da mobilidade urbana nas regiões metropolitanas.

Máquinas e equipamentos eficientes – Financiamento de máquinas e equipamentos novos e nacionais com maiores índices de eficiência energética.

Energias renováveis – Voltado para investimentos em geração de energia a partir da energia eólica em sistemas isolados, do uso de biomassa, dos oceanos e da radiação solar, além de projetos de desenvolvimento tecnológico e da cadeia produtiva desses setores.

Resíduos com aproveitamento energético – Apoio a projetos de racionalização da limpeza urbana e disposição de resíduos com geração de energia nas cidades-sede da Copa do Mundo ou em suas regiões metropolitanas.

Carvão vegetal – Destinado a investimentos voltados à melhoria da eficiência energética na produção de carvão vegetal.

Combate à desertificação – Projetos de restauração de biomas e de atividades produtivas sustentáveis de madeiras nativas, fibras e frutos na região Nordeste.
Com o lançamento do Programa Fundo Clima, o Ministério do Meio Ambiente e o BNDES buscam incentivar investimentos relevantes para que o Brasil atinja suas metas de redução de emissões de gases do efeito estufa — estabelecidas na Política Nacional sobre Mudança do Clima —, reduza suas vulnerabilidades aos efeitos adversos da mudança do clima e se prepare para competir em uma economia de baixo teor de carbono.

Confira aqui a apresentação feita pelo diretor do Departamento de Políticas para o Combate ao Desmatamento do Ministério do Meio Ambiente, Mauro Pires, durante o evento de lançamento do Programa Fundo Clima.
Fonte: BNDES

Proibido desmatamento e obra de condomínio de luxo em praia de Bertioga (SP) | Portal EcoDebate

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Neurologista alerta que os primeiros sinais de Alzheimer são ignorados pela maioria das pessoas | Portal EcoDebate

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O homem que se reinventou

Por Claudia Safatle
Valor

Unanimidade ele nunca foi. Mas é impossível ser indiferente a esse personagem que desde 1967 participa ativamente da vida econômica e política do país.

Antônio Delfim Netto, 84 anos, é um homem que se reinventou. Foi ministro nos governos dos generais Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e João Baptista Figueiredo e é um dos principais conselheiros dos governos da era PT.

Inimigos ele afirma que não tem.
"Nunca tive nenhum. Os economistas com quem trabalhei continuam grandes amigos. Tem pessoas com quem eu tenho outra relação, mas não de inimizade. E há alguns que pretendem que eu seja inimigo. Mas eu não..." Críticos, sim.

Ele minimiza: "São divergências no campo profissional".
Discretíssimo na vida pessoal, Delfim escondeu os 18 dias de coma e os 60 dias que passou internado no Incor (SP), há um ano e meio, com embolia pulmonar e um problema cardíaco que lhe rendeu dois 'stents' e quatro meses de ausência de suas atividades cotidianas.
"Tenho uma grande confiança na dialética entre a urna e o mercado. [Se] a urna exagera nos benefícios, o mercado vem e pune. [Se] o mercado exagera, vem a urna e pune"

"Foi um negócio terrível!", diz. Do coma, brinca: "Não vi o tal túnel com a luz branca. Foi uma decepção!".

Este "À Mesa com o Valor" começa por volta das 11 horas no escritório do ex-ministro e se estende, almoço adentro, até as 14h30 na cantina Roma, na rua Maranhão, em Higienópolis. Delfim criou a Consultoria Ideias quando saiu do governo, em março de 1985.

É uma agradável casa de dois andares, próxima ao estádio do Pacaembu, de decoração espartana. Nas paredes da sala onde trabalha há uma coleção de caricaturas suas, publicadas nos jornais quando era ministro. Os cartunistas costumavam chamá-lo de "O Gordo".

Totalmente avesso a exercícios físicos, Delfim diz que, após a doença, recebeu dos médicos a recomendação para fazer dieta e ginástica, a mesma orientação que havia recebido nos anos 60 do século passado para tratar de uma gota que o acompanha desde os 33 anos. Até então, tudo que Delfim havia feito fora na infância. "Quando menino, eu remava no rio Tietê", conta.

Em 1967, já ministro da Fazenda, ele até que tentou voltar a remar, por prescrição médica. Comprou o equipamento e o levou para o apartamento, em Copacabana.

"No segundo movimento do remo, começaram a cair sobre mim as contas do balanço de pagamentos. No momento em que eu estava usando só as mãos, os problemas brotavam na minha cabeça".
Delfim (no centro) e os assessores que levou de São Paulo para o Ministério da Fazenda, no Rio, em março de 1967, um dia antes da posse.

"Se eu tivesse continuado a fazer exercício, ia ter um stress de louco."
Para Delfim, 1967 foi um ano particularmente difícil. Aos 39 anos, ele chega ao Rio para assumir o Ministério da Fazenda (que, na época, funcionava principalmente na ex-capital da República), a convite do presidente Costa e Silva. A ideia disseminada na elite carioca, conta ele, era que "aquele paulista caipira não aguentaria até o fim do ano". O primeiro grande teste foi em maio, mês em que venciam 100 milhões de ORTNs (Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional).

"Diziam que eu não conseguiria rolar essa dívida e cairia ali mesmo." Passou maio, junho, agosto e a dívida pública foi sendo rolada pelo mercado.

"Eu sempre tive bons amigos no mercado."
Essa proximidade também lhe custou dissabores.
"Diziam, por exemplo, que eu era sócio do Bradesco, né? Diziam que eu era sócio do Geraldo Bordon (do frigorífico Bordon). Diziam que eu era sócio de uma porção de gente", fala o ex-ministro.

Banqueiros como Amador Aguiar, Gastão Vidigal, Moreira Salles "sempre foram extremamente cooperativos com o governo. Se o governo queria baixar a taxa de juros, conversava com eles e o que a gente prometia, cumpria".

Neto de imigrantes italianos, Antônio Delfim Netto nasceu e cresceu no Cambuci, bairro operário de São Paulo. Dona Maria Delfim, sua mãe, costurava para fora. "E eu ganhava um dinheirinho entregando os vestidos." O pai, José Delfim, trabalhava na CMTC, empresa de transportes da prefeitura de São Paulo.
"O Samuelson fez a maior sacanagem com os economistas. Antes de morrer, deixou um recado: 'A economia nunca foi uma ciência e nunca será'"

Tem duas irmãs mais novas, Filomena (nome da avó) e Terezinha, uma porção de sobrinhos e, agora, o neto Rafael, de um ano e meio, filho de sua única filha, Fabiana. O nome da filha remete à juventude, quando, segundo conta, era socialista fabiano, reformista, corrente que, afirma hoje, "trazia um equívoco fundamental, no qual eu também acreditava: de que o Estado deveria ser proprietário dos meios de produção".

Foi a leitura da "Teoria dos Preços", de George Stigler, que o fez mudar de ideia.
Delfim foi avô aos 83 anos. "É uma experiência absolutamente extraordinária! Sublime! A última coisa que eu podia pensar na minha vida. Isso me diverte mesmo!". Para ficarem próximos, a filha está morando no mesmo prédio que ele. "Eu moro no 6º andar e eles no 14º". Sobre uma mesa lateral, na sua sala, há uma única foto, dele com o neto no colo.

"Passei uma infância muito gostosa", diz. Fez o curso primário num grupo escolar e contabilidade na Escola Técnica Carlos de Carvalho. O sonho era engenharia, mas o dinheiro da família era curto para um curso puxado, que não lhe permitiria trabalhar meio período. Optou por economia na Universidade de São Paulo. Era a terceira turma da FEA - Faculdade de Economia e Administração da USP. Chegou, por concurso, a professor catedrático em 1963, responsável pelas disciplinas análise macroeconômica, contabilidade nacional, teoria do desenvolvimento econômico, economia brasileira e planejamento governamental. Foi o primeiro aluno da FEA a tornar-se um de seus catedráticos e da escola só se desligou para se aposentar.

"É uma coisa fantástica. Eu gastei 6 mil réis com um selinho para, depois, viver a vida inteira na universidade", conta. O selo era colado no título de admissão. "Aquilo garantiu a minha vida." Provavelmente, esteja aí o início da profunda ligação do ex-ministro da Fazenda, da Agricultura, do Planejamento e do deputado federal por cinco mandatos consecutivos, com o Estado.

Em retribuição, Delfim doou à USP sua biblioteca de quase 300 mil títulos de economia, matemática, história, geografia, antropologia e estatística.

"Me dá vontade de dar risada quando alguém diz: 'Mas vejam! É um absurdo esse negócio de educação e saúde gratuitos!'. Você até pode discutir se quer cobrar mais de um sujeito ou de outro. Mas a antropologia ensina: o macaco virou homem pelo conhecimento; e o homem só ganha a humanidade se tiver saúde".

Antropologia é o "hobby" do economista. Dos tempos em que era jovem e frequentava um boteco na avenida Angélica, do seu amigo Horácio Coimbra, e bebericava com Paulo Vanzolini e Luís Carlos Paraná, restaram boas lembranças. "O primeiro disco que o Carlos Paraná gravou foi financiado pelo Café Cacique, do Horácio", recorda.

Boêmio mesmo, nunca foi. "Sempre gostei de estudar." É o que mais gosta de fazer ainda hoje.

Por quase quatro horas, Delfim falou com entusiasmo sobre os mais variados temas. A crise na Europa, a origem do homem, religiosidade, a democracia e os bons tempos em que estudou na USP.

"O que mais me fascina é a origem do homem. Antropologia é a única coisa que leio fora da economia. Sou um amador, me entende? Mas tenho algumas convicções sobre por que o homem está aqui."

Tem grande admiração pela parte antropológica da obra de Karl Marx.

"O homem é um animal que produz trabalho, como a abelha faz o mel. Suas mãos produzem você, e o seu cérebro é produzido pelas suas mãos."

O homem saiu da África há 150 mil anos e se dividiu dessa forma porque "somos animais territoriais; isso aqui é meu e ninguém mexe". Para os economistas, diz, é fundamental o entendimento de que o ser humano é muito mais complexo do que os modelos que eles usam.

O assunto anima Delfim. "Na minha opinião, tem duas teorias absolutamente fantásticas: o darwinismo e a física quântica. O Darwin a gente está começando a entender do que se trata; a física quântica dá certo, mas ninguém sabe por quê".

Max Planck, prêmio Nobel de física em 1918, dizia: A física quântica ninguém sabe o que é, mas funciona. A economia, todo mundo sabe o que é, mas não funciona.

- Na sua visão, de onde viemos?

-"Somos a natureza tentando saber quem ela é.

- E para onde vamos?

- Aí é uma coisa hegeliana. É mais complicado...

- O senhor acha que há vida após a morte?

- Não sei. Mas acredito que tem alguma coisa que controla o mundo. Tenho minha própria religiosidade e acho que é uma ligação que não tem nada que ver com o racional. Eu gosto desse ponto de vista, acho que dá conforto.

Ele retoma a questão do processo civilizatório e conclui que a evolução é rumo a uma sociedade republicana, democrática.

"Tenho uma grande confiança na dialética entre a urna e o mercado. Cada vez que a urna exagera nos benefícios, o mercado vem e pune. E cada vez que o mercado exagera, vem a urna e pune."

Num momento em que a crise, tanto nos Estados Unidos quanto na zona do Euro, leva pensadores e movimentos sociais a questionar o regime capitalista e a prever seu fim, o ex-ministro não crê em alternativas.

"O capitalismo não foi inventado por ninguém. O homem foi procurando formas de produzir sua sobrevivência da maneira mais econômica possível. O capitalismo não tem fim. De vez em quando ele quebra, se recupera e sai da crise diferente de como entrou. O que se chama de capitalismo, portanto, nunca é a mesma coisa." E conclui: "Cada vez que um cérebro peregrino inventa uma nova forma de organização, termina em porcaria".

A crise europeia entra na conversa.

"Ah, essa crise, na minha opinião, vai confirmar a nossa teoria. Ou a Europa se salva como uma federação ou vai voltar para a barbárie." Na hipótese de destruição do euro, o futuro da Europa é sombrio. Se isso ocorrer, o que não acredita, "esses países todos daqui a 20 anos vão fazer uma guerra".

Haveria o risco de a Europa estar caminhando para uma fase pré-Tratado de Versalhes?

O então presidente Lula, em campanha para a reeleição, em 2006.
"Se você permitir o desastre, tá tudo perdido! Não posso pedir para o grego: descoma o que você comeu. Não tem como! E você precisa do processo democrático para aperfeiçoar esse sistema. Ele não será aperfeiçoado na marra, a não ser que apareça um Napoleão, ocupe todos os 17 Estados e ponha ordem na casa. Aí, na Itália também vai aparecer um Mussolinizinho...."

Akihiro Ikeda e Gustavo Silveira participam do encontro com o Valor. Ikeda é economista e ex-aluno de Delfim e de Mário Henrique Simonsen. Ambos acompanham o ex-ministro há quatro décadas. Silveira começou como assessor de comunicação em 1967, quando foi com Delfim para a Fazenda, no Rio. Ikeda incorporou-se ao grupo pouco depois. Formou-se, ali, o que os cariocas chamavam de "Delfim boys". Eram todos ex-alunos: Affonso Celso Pastore, Paulo Yokota, Milton Dallari, Eduardo de Carvalho, Flávio Pécora, Carlos Antônio Rocca, Carlos Viacava, Carlos Alberto Andrade Pinto, Nelson Mortada, dentre outros.

De novo, Delfim se reporta ao momento em que desembarcou com seus ex-alunos no Rio, em 1967. "No Rio, era o seguinte: chegou esse gordo, italiano e vesgo. Nós vamos matá-lo em seis meses, tá certo? E além de tudo tem uns animais estranhos com ele, uns japoneses." Por anos e até hoje ainda se fala nos "Delfim boys", em referência àquele grupo e a outros nomes que foram se incorporando. Ikeda, Yokota e Gustavo trabalham com o ex-ministro na Ideias.

Seguimos, Delfim, Ikeda e a repórter para o almoço. O maître da cantina Roma, Luís, o mesmo que serve o ex-ministro há 26 anos, já o aguardava.

"Você tem uma truta bonita aí?", pergunta. Luís confirma e explica que o prato que Delfim pede não está no cardápio. É uma truta cozida, levemente temperada no sal, azeite, cebola, pimentão e louro. Acompanha espinafre ao vapor. De entrada, grão de bico e champignon.

Após participar de dois governos militares e patrocinar o "milagre econômico" - período em que as taxas de
crescimento da economia brasileira eram exuberantes - ele volta para São Paulo e para a USP, com planos para uma carreira política. Em 1975, um ano após a posse do general Ernesto Geisel na Presidência da República (1974-1979), Delfim é enviado a Paris onde, por três anos, assume o comando da embaixada brasileira. O exílio concebido por Geisel tinha como propósito abortar a pretensão do ex-ministro de candidatar-se ao governo de São Paulo e vir a ser, eventualmente, candidato à Presidência da República.

Delfim aceita uma pitaya mexicana na sobremesa: "Seja lá o que for, vamos lá, vamos comer!".

São desse tempo as primeiras notícias sobre a existência do "Relatório Saraiva", documento a que ninguém nunca teve acesso. Nele, o coronel Raimundo Saraiva, então adido militar em Paris, fazia uma série de denúncias de corrupção, como a cobrança de comissões sobre empréstimos de bancos franceses pela embaixada então chefiada por Delfim. O coronel Saraiva mandou para a 2ª Seção do Estado-Maior do Exército um informe dizendo que Delfim teria ligações com o irmão do presidente da França, Giscard D'Estaing, e que estaria recebendo 10% de comissão pelos financiamentos obtidos junto a bancos franceses. Tal relatório nunca foi divulgado e o assunto morreu de inanição.

O que era o relatório Saraiva?.

"Na verdade, era um bando de mentiras. Simplesmente, fogo amigo. Dizia que nós tínhamos recebido comissão."

Delfim acredita que esse documento foi obra dos militares da linha dura. "Se eles tivessem tomado o poder, ia ser muito pior do que se o partido comunista tivesse tomado o poder. Ia ser uma Cuba ainda mais subdesenvolvida. Havia uma luta interna no Exército. O Exército era como o PT. São grupos antropófagos. Quando você põe um em presença do outro, você tem uma vantagem: um come o outro."

O coronel Mário Andreazza, ministro do Interior e tocador de obras do porte da ponte Rio-Niterói e da Transamazônica, contemporâneo de Delfim no governo militar e amigo, ganhou fama de corrupto também por obra dessa facção do Exército, que não queria vê-lo candidato à Presidência, comenta Delfim.

"Vou lhe dizer, o Andreazza morreu em São Paulo. Uns amigos se cotizaram pra poder mandar o corpo num aviãozinho para o Rio. Diziam o diabo do Andreazza. Ele tinha um apartamento, que a mulher dividia com os filhos, e isso é tudo que eles têm. Diziam que o filho do Costa e Silva tinha feito a negociação de compra dos "Mirage" e recebido comissão, tá certo? Foi morar com a mãe. O grande problema é que essas coisas caminham, e você só fica sabendo a verdade 10 anos, 20 anos depois. Sei até dos filhos do Médici (general Emílio Garrastazu Médici, ex-presidente). Um morreu e o outro é professor aposentado pela UFRJ".

Era um mundo diferente, diz. "Eles tinham uma noção clara do dever. Por que nunca nenhum deles ficou um dia a mais? Você acha que o Médici, com a popularidade que adquiriu no final, se quisesse ficar mais 4 anos não teria ficado? Só que não, foi uma missão, a missão terminava no dia tal e ele foi embora."

Em 1979, Delfim volta para o governo como ministro da Agricultura da gestão Figueiredo. Embora tenha ficado para a história que ele derrubou Mário Henrique Simonsen do Ministério da Economia (na época, Fazenda e Planejamento se juntaram numa única pasta), para assumir o comando da economia, sua versão é outra. "A despeito de tudo que dizem, o Mário foi um grande amigo meu. Ele era uma figura muito interessante. Um gênio."

Sobre a crise: "Ou a Europa se salva como uma federação ou vai voltar para a barbárie".

Paul Volcker foi indicado para o comando do Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, em meados de 1979. Simonsen conhecia Volcker. Ambos haviam trabalhado no Citibank.

Delfim conta: "Um dia, entrei na sala do Mário e ele me disse: 'Quebramos, Delfim! Quebramos! Eu conheço o Volcker e onde ele vai pôr a taxa de juros ninguém sabe!', Com a dívida que fizemos no governo Geisel.... não temos como pagar."

Simonsen pediu demissão no dia 10 de agosto de 1979 sem fechar a proposta de lei orçamentária para o ano seguinte, que tinha que ser encaminhada ao Congresso até o dia 31.

"O Figueiredo adorava o Mário! Figueiredo só enlouqueceu quando soube, cinco minutos antes (do pedido de demissão), que ele já tinha feito a mudança." Simonsen embarca para o Rio e no dia seguinte vai à praia de Copacabana. Sua foto de calção de banho é estampada nas capas dos jornais cariocas.

"O Figueiredo viu o Mário em Copacabana tomando banho e o negócio pegando fogo. Ele ficou bravo porque se sentiu traído."

O temor de Simonsen se confirma. Em outubro daquele mesmo ano, Volcker começou a multiplicar os juros nos Estados Unidos, que de 3% chegaram a 20% em 1981. O aperto monetário feito para desinflacionar a economia americana, associado ao segundo choque do petróleo, deu início a uma quebradeira geral no mundo em desenvolvimento, inclusive no Brasil. Coube a Delfim gerir a massa falida.

O Brasil ficou freguês do Fundo Monetário Internacional. "O Brasil foi 16 vezes ao FMI. Acho, não sei, perdi ideia de conta, mas acho que fomos 16 vezes ao Fundo desde Juscelino (JK). Nós aprendemos tudo." JK rompeu com o Fundo depois que o acordo tinha sido assinado."

Outro grande amigo, diz, foi Roberto Campos.
"O Campos sempre foi um sujeito formidável, eu adorava ele. Mas o Costa e Silva tinha uma diferença muito séria com ele. Dizem, eu não sei se é verdade, que, quando o Costa e Silva era ministro do Exército, o Campos, ministro do Planejamento, deu um chá de cadeira nele. Depois Costa e Silva virou presidente."

O Brasil estava numa recessão brutal nessa época, lembra Delfim. Para flexibilizar as políticas fiscal e monetária, porém, era preciso acabar com o curto período de independência do Banco Central, criado em 1964, e demitir o primeiro presidente da instituição, Dênio Nogueira.

"O Dênio era um sujeito muito competente, mas praticava uma política muito restritiva. Ele foi embora e o Rui Leme assumiu o lugar dele", recorda. É o fim do projeto de autonomia concebido para a autoridade monetária pelos ministros Roberto Campos e Otávio Gouvêa de Bulhões, no governo anterior, do general Humberto de Alencar Castelo Branco.

"Não acaba a autonomia. O que acaba é a independência, que era um negócio absurdo", diz Delfim. Campos ficou irritado com a exoneração de Dênio.

"Campos era uma figura inteligente, brilhante e briguenta. Mas o que ele queria, na verdade, era continuar mandando no Banco Central independente."

As histórias vão surgindo aos borbotões de uma mente privilegiada. "O Costa e Silva dizia: 'O Banco Central é independente de quem? É de mim, mas não do Campos, né?'"

Encerrado o governo Figueiredo e o período militar, em março de 1985, Delfim se candidata a deputado federal e em 1986 volta para Brasília. Seu nome, naquela época, era o terror da chamada esquerda brasileira. Ele conta hoje que entrava no elevador da Câmara, sozinho ou com Roberto Campos, que também era deputado, e as pessoas se retiravam, em repúdio.

"O pessoal do PT saía do elevador, achando que aquilo ia me incomodar. No primeiro mandato, estávamos eu e o Campos... Então, a gente se divertia muito."

Sua avaliação do PT é crítica:
"Na verdade, eles tinham uma ideia completamente falsa do que era o Brasil. Queriam fazer do Brasil uma grande Cuba. Coisa estranha é que o Lula nunca teve essa ideia. Lula sempre teve consciência clara de que, sem hierarquia na fábrica, nada funciona."

Delfim conheceu Lula em 1974. O advogado do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Almir Pazzianoto, amigo comum, sugeriu ao ex-ministro que conversasse com o sindicalista para explicar as consequências do primeiro choque do petróleo, de 1973, que acabaria com os anos do "milagre". Numa casa nos Jardins, da mãe do deputado Eduardo Suplicy, dona Filomena, ambos conversaram por uma hora e meia. Começou ali uma empatia que culminaria com o apoio de Delfim à candidatura de Lula à Presidência da República, em 2002. Hoje se visitam com frequência.

Delfim votou em Fernando Collor de Mello nas eleições de 1989, conforme já declarou no passado. O confisco promovido então "não foi um ato de coragem, foi desespero", disse na ocasião. Mas não se arrepende. Collor abriu a economia, reduziu o tamanho do Estado e a dívida pública foi cortada em um terço. "Tudo isso, no final, propiciou o Real."

A concepção do Plano Real, que finalmente conseguiu derrubar a inflação, era brilhante, Delfim reconheceu por diversas vezes. Mas quando o país celebrava a existência de uma moeda que valia mais que o dólar, ele chamava a atenção para a crise de balanço de pagamentos que a sobrevalorização do real iria gerar. Enquanto Fernando Henrique Cardoso tomava posse como presidente da República, Delfim insistia que aquela política terminaria de forma melancólica.

Foram longos os anos ligados à USP e desse tempo ele fala com afeição.

"A universidade foi formada por um grande número de professores judeus que tinham sido expulsos da Itália, da Alemanha." A Faculdade de Economia e Administração (FEA) sempre foi uma escola aberta. "Ela nunca teve uma orientação precisa, digamos, neoclássica, keynesiana, marxista."

No início, os professores não eram nem economistas.

"Era todo mundo autodidata. O sujeito fingia que era economista e dava aula, tá certo?"

Assim como a FEA, Delfim também nunca se vinculou a uma escola de pensamento econômico.

"Nunca me liguei a nenhuma escola. Nunca. Primeiro, que eu realmente pretendia ver econometria, porque eu tinha certo domínio sobre ela. Mas passei a desacreditar desses instrumentos. Quando vejo alguém aplicar uma função de produção para determinar o crescimento do Brasil, acho uma coisa, no mínimo, engraçada."

Dos anos de estudo e prática, ele extraiu uma lição: "Não existe mercado sem Estado e não existe desenvolvimento sem mercado." O mercado, é claro, tem seus problemas e excessos. Mas o Estado também os tem. O melhor, segundo ele, é caminhar numa linha intermediária, e difícil: "Nem considerar a teoria econômica como uma religião, da qual o economista é portador, divulgador e defensor; nem achar que o Estado é onisciente e, portanto, não pode ser nem onipresente nem onipotente".

Delfim estava no segundo ano da faculdade quando adquiriu, numa livraria italiana, a obra do economista e político Constantino Bresciani-Turroni. " Era uma visão extraordinária, muito crítica do keynesianismo que eu nem conhecia direito. Aquilo foi uma revolução."

A verdadeira revolução ocorreria lá pelos anos 1949, 1950, com a chegada às livrarias do livro "Introdução à Análise Economia", de Paul Samuelson.

"O Samuelson fez a maior sacanagem com os economistas. A vida inteira ele promulgou que a economia era uma ciência. Antes de morrer, deixou um recado: 'A economia nunca foi uma ciência e nunca será'. E morreu!"

A memória está bem afiada. Delfim cita nomes de professores e debates de que participou na FEA, naquela época. O professor Paul Hugon, de economia política, ensinava que a moeda era qualquer coisa que servisse como unidade de conta, meio de pagamento e poder liberatório. "O Heraldo Barbuy, professor de matemática, germanófilo, dizia: 'Não é nada disso! Moeda é uma instituição social'".

E prossegue: "Na verdade, era um 'brainstorm'... As aulas dele [Barbuy] ocupavam o sábado de manhã inteiro, saía gente pela janela. Depois eu já tinha feito minha cátedra e fui seu examinador. Até hoje tenho uma saudade enorme dele".

O ex-ministro testemunhou todas as transformações importantes do país: a ditadura, os momentos de crise aguda, as diversas vezes em que o Brasil quebrou, a redemocratização, a hiperinflação, os problemas cambiais e a exacerbação da taxa de juros. A história da sua vida é a história do país em todos esses anos.

"Nunca trabalhei na minha vida. Tudo que fiz foi por diversão, por prazer", declara. " Vou lhe dizer mais: você não escolhe a profissão. A profissão te escolhe. E quando você tem sorte, você nunca trabalha".

Trabalho e diversão se fundiram numa só coisa, que se tornou para ele " uma forma de viver". Considera-se um sujeito de sorte e proclama, num raro momento em que fala sobre si mesmo: "Fui muito feliz, inclusive nos dois casamentos".

Viúvo, Delfim oficializou recentemente a união com Gervásia Diório, mãe de sua filha Fabiana.

Desde que perdeu a reeleição para deputado federal, em 2006, Delfim vai todos os dias ao escritório onde presta consultoria a empresas, escreve para diversos jornais e revistas e faz palestras. Os artigos são produzidos aos domingos, na máquina de escrever cinza Olympia, que tem há 40 anos. Antes de terminar o almoço com o Valor ele comenta que tem que voltar para o escritório e atender dois clientes.

Luís, o maître, se aproxima da mesa e Delfim pede: "Traz aquele carrinho aqui para a gente fazer uma tentação". São as sobremesas.

Após a temporada de dois meses no Incor, Delfim emagreceu 15 quilos, já plenamente repostos. "Perdi uma arroba e ganhei uma arroba", diz, rindo. Faz diariamente uma sessão de alongamento com um fisioterapeuta. "Ele sua pra burro e eu fico sentado."

Ele dá uma conferida nos doces, mas opta pelas frutas que Luís sugere.

"Como é que se chama esse negócio"?, pergunta.

"É pitaya mexicana", diz o maître.

"Seja lá o que Deus quiser, vamos lá, vamos comer!".

Luís traz tâmaras.
"Uma tâmara! Tá bonita, hein?, Acho que não vou perdoar."

"São israelenses", informa o maître.

Delfim diz à repórter: "Põe aí que eles importam essas frutas para eu poder comer todos os dias".

De tudo que viveu até agora, para Delfim foi a Constituinte de 1988 a responsável pela grande mudança que deu início ao Brasil de hoje.

"Com todos os seus problemas e suas utopias, a Constituição de 88, na verdade, foi construindo instituições que estão cada vez mais sólidas. Você tem um Executivo funcionando, tem um Legislativo funcionando e tem um Judiciário funcionando. Tem, ainda, uma coisa que não tem em nenhum outro país emergente, que é um Supremo Tribunal Federal independente, que defende as liberdades individuais e que frequentemente é criticado por tentar fazer justiça."

A Constituição, descreve ele, que foi deputado constituinte, tem três vetores: "Construir uma sociedade republicana em que todos, inclusive o poder incumbente, estejam sujeitos à mesma lei; construir uma sociedade democrática, em que estamos avançando numa velocidade espantosa; e uma sociedade razoavelmente justa".

"O capitalismo é uma corrida feroz, uma competição. Para a competição ser justa, a justiça se faz na saída. Então, todo mundo tem que sair daqui com os dois pés e uma cabeça, tá certo?" Independentemente de o sujeito ter nascido numa suíte presidencial do Hotel Waldorf Astória ou debaixo de uma ponte em Brasília, a carta lhe dá acesso à saúde e à educação. O resultado vai depender da sorte, do DNA e de uma porção de outras coisas. É isso que está implícito na Constituição, diz.

"Aparece um sujeito como o Lula e, intuitivamente, descobre que é isso mesmo que o povo quis por lá na Constituição", completa.

"Quantos votos tem o economista que diz que isso é besteira? Quantos? A mulher dele, provavelmente, não vota nele. Quem decidiu isso tem 50 milhões de votos. É um respeito à forma de organização. O que me parece é isto: Nós estamos nos aperfeiçoando."

- Ministro, o que o diverte hoje?

- Hoje eu me divirto vendo o Brasil melhorar.

- Sente algum incômodo, constrangimento, por ter participado dos governos militares?

- Me causa o incômodo natural que causa a todas as pessoas quando o Estado abusa do seu poder. Uma coisa fundamental é que sempre mantivemos o sistema da economia de mercado.

- Não lhe chegavam notícias dos porões do regime?

- Não! Há um equívoco completo nisso. Tinha uma divisão absolutamente total entre a política e a economia.

- Dizia-se, na época, que o senhor, assim como Simonsen, evitaram algumas prisões. É verdade?

- Quando ficávamos sabendo e podíamos interferir, nós interferíamos, é claro. A gente dava um depoimento a favor do sujeito.

"Não quero me isentar. Não quero me isentar. Eu, pessoalmente, nunca tive nenhum envolvimento em coisa nenhuma. Fiz a minha tarefa de economista. No regime autoritário, as pessoas não compreendem, não existia nenhuma ligação entre o pessoal militar e a administração. Nunca entrou no meu gabinete um oficial fardado. E os que eram militares e estavam no governo, como era o caso do Andreazza, eram civis discriminados pelos outros militares.

- Norberto Bobbio, no livro "De Senectute", fala que, com o passar dos anos, vamos perdendo a capacidade de assimilar o novo. O senhor sente isso?

- Ah, sem dúvida! Sem dúvida. Essa tecnologia moderna, o iPad, o Kindle, não sei o que mais, estou começando a aprender, mas tenho grande dificuldade. Ainda hoje é na Olympia [aquela máquina de escrever que o acompanha há mais de 40 anos], que comando meu pensamento.

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