Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Criação do Programa ABC- Agricultura de Baixo Carbono

O Brasil está definitivamente acordado para o grande desafio da humanidade no século XXI que é a compatibilização da oferta crescente de produtos agrícolas com a preservação dos recursos naturais, a célebre sustentabilidade.

Temos o que oferecer já feito, não precisamos prometer nada.

Nossa tecnologia tropical continua líder e o dado mais evidente desta verdade é o relacionado com a produção de grãos: nos últimos 20 anos a área plantada cresceu 25% e a produção saltou 154%. Isso significa uma “poupança” de 48 milhões de hectares de cerrado ou floresta que, deveriam ter sido desmatados para termos a atual produção total de grãos.

Temos a agroenergia, que vem ganhando destaque na direção da comoditização: a Agência Ambiental Americana considerou nosso etanol de cana como “avançado”, uma vez que ele emite 60% menos CO2 que a gasolina. No entanto, se considerarmos todo o ciclo da cana-de-açúcar, desde o plantio, a redução das emissões é de 89%, segundo as contas da UNICAMP.

Temos 6 milhões de hectares de florestas plantadas e enfim, um belo conjunto de feitos para pleitear e garantir a liderança na economia verde que vem vindo.

E o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento não deixou por menos: o Plano de Safra 2010/2011, apresentou um alentado programa batizado de ABC – Agricultura de Baixo Carbono - caracterizado por 3 conjuntos de ações.

- Alternativas Tecnológicas para minimizar GEE (Gases de Efeito Estufa).
- Estimular a redução do desmatamento.
- Incentivar a implantação de sistemas produtivos ambientalmente sustentáveis.

O primeiro conjunto, por sua vez, é composto por 5 programas:
- Recuperação de áreas degradadas, sobretudo de pastagens.
- Integração lavoura/pecuária/floresta
- Plantio direto na palha
- Plantio de florestas
- Substituição de fertilizantes químicos pela fixação biológica do N no solo.

O volume de recursos disponibilizados para o programa é significativo, da ordem de 2 bilhões de reais, a juros de 5,5% ao ano, com 12 anos de prazo e 3 anos de carência.

Os números são ambiciosos:
Recuperar 15 milhões de hectares de pastagens degradadas em 10 anos – o que equivale a reduzir a emissão de CO2 em 104 milhões de toneladas, equivalentes no período.

Quanto à integração lavoura/pecuária/floresta, a proposta é aumentar os atuais 2 milhões de hectares para 4 milhões até 2020, reduzindo em mais 22 milhões de toneladas equivalentes as emissões de CO2.

O plantio direto na palha teria um aumento de 8 milhões de hectares até 2020, sobre os atuais 25 milhões. Seriam menos 20 milhões de toneladas de CO2 emitidos.

O programa prevê o plantio de mais 3 milhões de hectares de florestas, uma outra redução de 10 milhões de toneladas.

E, por fim, a idéia de substituir adubação nitrogenada por fixação biológica de N em mais 5,5 milhões de hectares (hoje são 11 milhões assim tratados), daria outra redução de emissões, de 10 milhões de toneladas.

No total, seriam 166 milhões de toneladas de CO2 a menos! Um belo pacote.

E não para por aí: tem mais coisas, como programas de Regulação Ambiental, melhoria de assistência técnica e extensão rural, tratamento dos resíduos animais, entre outros itens.

Paralelamente, em outubro passado, sob a inspiração do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, reuniram-se em São Paulo representantes do agronegócio (Grupo Maggi e Marfrig). ONGs (Aliança da Terra, The Prince Rainforest Project) e academia, para discutir o caminho rumo a uma agricultura de baixo carbono, com foco na redução de emissões derivadas de mudanças no uso da terra.

As propostas surgidas aí estão inteiramente em linha com o Plano ABC do MAPA:
- intensificação da pecuária, com maior uso de confinamento.
- recuperação de pastagens degradadas
- integração lavoura/pecuária/floresta
- recuperação de matas ciliares e reserva legal

De fato, há avanços para exibir ao resto do mundo, tanto nas ações do governo quanto da sociedade civil.

Autor: Roberto Rodrigues - Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV-EESP e ex-ministro da Agricultura

Guess who will gonna pay the duck?

Oil pressure  rising
The world is badly placed to cope with another oil crisis

Oil and the Arab world's unrestFeb 24th 2011
from the print edition

.A MONTH ago Brent crude oil stood at around $96 a barrel and Hosni Mubarak was ensconced as Egypt’s ruler. Now he is gone, overthrown by a display of people power that is shaking autocratic leaders across north Africa and the Middle East. And oil has surged above $115. Little wonder. The region provides 35% of the world’s oil. Libya, the scene of growing violence this week, produces 1.7m of the world’s 88m barrels a day (b/d).

So far prices have not been pushed up by actual disruptions to supply. Oil hit a peak even before news emerged that some foreign oil firms operating in Libya would cut production and that the country’s ports had temporarily closed. As Adam Sieminski at Deutsche Bank points out, oil prices are driven both by current conditions and by future expectations.

Oil markets don’t like surprises. The sudden ousting of Mr Mubarak and the unrest in Libya, Bahrain, Yemen, Iran and Algeria (which between them supply a tenth of the world’s oil) had added 20% to oil prices by the middle of this week. The big worry is that spreading unrest will culminate in another shock akin to the oil embargo of 1973, the Iranian revolution or Iraq’s invasion of Kuwait.

Oil is more global than it was during those previous crises. In the 1970s production was concentrated around the Persian Gulf. Since then a gusher of non-OPEC oil has hit markets from fields in Latin America, west Africa and beyond. Russia overtook Saudi Arabia as the world’s biggest crude supplier in 2009; OPEC’s share of production has gone from around 51% in the mid-1970s to just over 40% now.

.Yet the globalisation of oil supply has not diminished OPEC’s clout as the marginal supplier of crude. Markets are tight at the moment. Bumper inventories, built up during the downturn, are running down as the rich world recovers and Asia puts on a remarkable growth spurt. Demand rose by a blistering 2.7m b/d last year, according to the International Energy Agency, and is set to grow by another 1.7m b/d this year by Deutsche Bank’s reckoning. Many other producers are already running at full capacity; OPEC has its hands on the only spare oil (see chart).

If Libya’s oil stopped flowing importers would look to Saudi Arabia to make up the shortfall. The oil could probably flow to fill the gap in Europe, Libya’s main market, in a matter of weeks. OPEC claims that it has 6m b/d on tap but that looks wishful. Analysts think the true number is nearer 4m-5m b/d, with 3m-3.5m b/d in Saudi hands. That is ample to plug a Libyan gap but would hasten the day when growing world demand sucks up all spare production capacity. Analysts at Nomura reckon that it would only take a halt of exports from Algeria as well to absorb all the slack and propel oil to a terrifying $220 a barrel.

Despite saying it stands ready to produce more oil, Saudi Arabia has so far been reluctant to turn its stopcocks. OPEC claims that the world is amply supplied with oil and seems content with a price around $100 a barrel. Traders hope that Saudi Arabia will boost production stealthily or that OPEC will call a special meeting to raise quotas and calm markets.

The worst-case scenario for oil prices would be some kind of disruption to Saudi supply itself. That concern has become livelier given the unrest in neighbouring Bahrain. The tiny island kingdom produces little oil but is of vital strategic importance in the Persian Gulf, a seaway that carries 18% of the world’s oil. America’s 5th Fleet uses the country as a base.

The Saudis may also fear that protests by Bahrain’s Shia population could spill over their own borders. Saudi Arabia’s eastern provinces are home to both its oil industry and most of its Shias, who may also have cause for grievance with their Sunni rulers. The king this week announced $36 billion in benefits for his people. One crumb of comfort is that oil facilities across the region are generally located far from the population centres, where protests tend to be concentrated, and are well defended against anything but a concerted military assault.


What might be the effects of a more general supply crisis in the Middle East and north Africa? The oil shocks of the 1970s spurred the world to build stockpiles, such as the 727m barrels of crude oil in America’s strategic petroleum reserve, to be drawn on in the event of upheaval in the Middle East and elsewhere. China is building up a strategic reserve of its own. America’s Energy Information Administration puts total rich-world stocks in the hands of governments and industry at 4.3 billion barrels, equivalent to nearly 50 days of global consumption at current rates.

The impact of a crisis would therefore depend on how much oil production was lost and for how long. Even seismic shocks in oil-producing countries might not cut off supplies for very long. Yet the example of Iran shows what can go wrong. Leo Drollas of the Centre for Global Energy Studies, a think-tank, points out that pre-revolutionary Iran pumped 6m b/d. The new regime ditched Western oil experts and capital, and it has never come close to matching that level of output since; it now produces just 3.7m b/d. Middle Eastern oil is largely state-controlled but, as Amrita Sen of Barclays Capital observes, foreign investment remains vital to north Africa’s oil industry. If new regimes emerged that were more hostile to outsiders, that might have a lasting effect on production.

The world could probably weather a short-lived crisis. But the damage if oil prices spiked and stayed high for a long time could be severe for the recovering economies of the rich world. As for the prospects of reducing the importance of the Middle East to global oil supplies, forget it. Strong Asian demand is likely to mean that OPEC’s share of oil production rises again as it pumps extra output eastward. A troubled region’s capacity to cause trouble will not diminish.

SP: Presos empreiteiros envolvidos com trabalho escravo

"PEIXES MIUDOS....MAS JÁ REPRESENTA ALGUMA COISA."

A Polícia Federal prendeu na noite de terça-feira, 22, três empreiteiros que haviam trazido trabalhadores do Estado do Maranhão, reduzindo-os à condição análoga a de escravo.


A Guarda Municipal de Campinas recebeu denúncia anônima que pessoas haviam sido trazidas para trabalhar em obra na região de Campinas e se encontravam na rua Luis Fantini, nº. 277, bairro Jardim Florence I, possivelmente sujeitos a condições impróprias de moradia e sem receber pagamento.

Por volta das 17 horas, integrantes do Grupo de Apoio Especial (GAE) da Guarda Municipal de Campinas se dirigiram ao endereço indicado, lá encontrando 26 trabalhadores, então acompanhados por representantes das empresas FKRJ e GOLDFARB.

A Polícia Federal foi acionada para atender a ocorrência, constatando que o local era inadequado para acomodação dos trabalhadores, com péssimas condições de higiene, contando com um único banheiro, não dispondo de camas, e nem mesmo colchões, para todos. Além disto, apurou-se que no dia da ocorrência havia sido fornecida uma única refeição, não sendo a alimentação suprida de outra forma.

Os trabalhadores haviam sido aliciados por representante da empresa na cidade de Gonçalves Dias (MA) e, segundo os mesmos, conduzidos à Campinas em ônibus clandestino e sem condições de segurança, arcando cada um com o custo do transporte, no valor de R$ 230,00 (duzentos e trinta reais). Chegando domingo a Campinas, foram conduzidos ao alojamento improvisado com a promessa que trabalhariam para a empresa GOLDFARB em obra da Pirelli.

As péssimas condições a que foram submetidos se mostraram conhecidas nas proximidades do alojamento, resultando na denúncia anônima formulada.

Com a presença da Polícia Federal, da Guarda Municipal e da Assistência Social da Prefeitura Municipal de Campinas, os trabalhadores foram conduzidos a um hotel, que será pago pela empresa GOLDFARB, responsável pela obra. Não está ainda definido quando e como será o retorno dos trabalhadores à sua cidade de origem.

A Polícia Federal prendeu em flagrante os integrantes da empresa FKRJ, responsáveis pelo aliciamento dos trabalhadores (J.C.S.C, proprietário, R.F.J, gerente, e J.P.S., mestre de obras), por se encontrarem incursos na conduta tipificada no artigo 149 do Código Penal – Redução a Condição Análoga a de Escravo, com pena de 2 a 8 anos de reclusão e multa.

Os presos foram encaminhados para a custódia do 2º DP em Campinas, à disposição da Justiça Federal em Campinas.

Fonte: Setor de Comunicação Social / Delegacia de Polícia Federal em Campinas

How tough will Dilma be? >>> The Economist

The new government sets out to cool an overheating economy
Brazil's fiscal policyFeb 17th 2011
SÃO PAULO
from the print edition
ON FEBRUARY 16th Brazil’s new president, Dilma Rousseff, faced her first serious test in Congress, and passed it. Trade unionists, opposition politicians and even some members of her own coalition had tried to force through a big increase in the minimum wage. Instead, as Ms Rousseff wanted, it will rise from 510 reais ($305) a month to just 545 reais, barely outpacing inflation. Tough politicking behind the scenes by Antônio Palocci, her heavyweight chief of staff, together with the bait of unfilled senior jobs in the government, kept most members of her coalition in line. Her predecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, did his bit too, telling his trade-union friends that seeking more money was “opportunism”.

At first sight it seems an odd year for Ms Rousseff to be stingy. Brazil is booming, and in the private sector many workers are getting double-digit pay rises. Brazilians have grown used to big rises in the minimum wage. During Lula’s eight years in office he boosted it by around 60% in real terms. That is one reason why income distribution has become less unequal in recent years, why Lula was so popular and, ultimately, why Ms Rousseff was elected last October.

The government’s figure stuck to the letter of a deal brokered by Lula with the unions in 2006 to raise the minimum wage each year by the sum of the previous year’s inflation and GDP growth from the year before that. In 2008 the economy shrank slightly. But if Ms Rousseff had wanted to be generous, she could have brought forward some of the whopping 13% that this formula is likely to award in 2012. The main reason for her parsimony was the impact on public-sector wages and pensions, which are linked to the minimum wage. All told, each real by which it rises costs the government 286m reais a year.

Ms Rousseff badly needs to get a grip on government spending. In 2008 government loans and tax breaks helped Brazil to escape the worst of the great recession. But rather than turning the taps off when the economy started growing again, the stimulus blended seamlessly into a pre-election binge. Last year the government missed its target of running a 3% primary fiscal surplus (ie, before debt payments). Without money from the sale of oil rights, and had it not funnelled government loans through the national development bank, it would have missed it by a mile.

The result is an overheating economy. Inflation, at 6%, is well above the Central Bank’s target of 4.5%. The currency is painfully strong and unemployment is at its lowest since records began. The bank has already raised its benchmark rate once (to 11.25%) since Ms Rousseff took office, and more increases are expected soon. Officials hope that stricter rules on banking reserves and consumer credit will also help to dampen consumer demand.

The minimum wage will not be the only policy to feel the pinch. On February 9th Ms Rousseff said she would cut 50 billion reais, or around 2.5%, from the budget passed by Congress late last year. Her finance minister, Guido Mantega, promised efficiency savings and said expenses such as daily allowances and travel costs for civil servants would be squeezed. He asked the Fundação Getúlio Vargas, a university, to run a comb through departmental payrolls. Further details were delayed until after the vote on the minimum wage.

That delay is politically understandable: budget pork added by congressmen is a prime target for cutting. But the wait has also left analysts wondering where exactly the axe will fall. Efficiency savings of the type Mr Mantega set out are worthwhile, but will yield little more than loose change. Most of the budget consists of things that cannot be cut, at least not quickly, such as payroll, health-care and education spending. The previous time Brazil endured a fiscal tightening, after Lula took office in 2003, the government resorted to chopping public investment.

Ms Rousseff has already ruled out cuts not just in social programmes, such as Bolsa Família, a cash benefit that goes to 12m poor families, but also in infrastructure spending. She may resort to new taxes. But some analysts think she will turn to private investors to finance transport improvements. That would look like a U-turn: during the campaign she attacked her main opponent, José Serra, for his alleged privatising tendencies. But she is short of other options. Upgrades for roads and airports, which bear the marks of past spending cuts, are essential if Brazil is to avoid embarrassment when it hosts the World Cup in 2014 and the Olympics in 2016—and, more importantly, if it is to sustain economic growth in the long term

Regras da logística reversa começam a ser definidas

O governo instalou na quinta-feira passada (17/2) o Comitê Orientador de Logística Reversa, que será responsável pela regulamentação das regras para o retorno às cadeias produtivas de materiais utilizados na fabricação e acondicionamento de pilhas, lâmpadas, equipamentos eletroeletrônicos, pneus, óleos lubrificantes e agrotóxicos, entre outros produtos.

A Política Nacional de Resíduos Sólidos só foi aprovada no ano passado, após 20 anos de tramitação no Congresso Nacional, e neste ano as regras começarão a ser finalmente definidas.

A partir de agora, inicia-se um processo sem volta, em que setores importantes de nossa indústria terão de se responsabilizar efetivamente por todo o material produzido e, antes da lei, descartados invariavelmente de forma errada.

Mas existe ainda um longo caminho a percorrer. Até hoje apenas alguns poucos setores contemplados no plano têm se antecipado à lei e buscado soluções de logística reversa no seu negócio. Há casos de indústrias, como as do vidro e de latas de alumínio, que já se utilizam largamente de materiais recolhidos e reciclados. Inclusive, depois do anúncio do governo para a instalação do comitê, a Associação Brasileira das Indústrias Automáticas de Vidro (Abividro) encaminhou ao Ministério do Meio Ambiente um plano de implementação de logística reversa para o setor, comprometendo-se a recolher todo tipo de embalagem de vidro depois de usada pelo consumidor final.

Para citarmos apenas esse setor, dados da Abividro indicam que hoje se recicla bem menos do que a metade do que é produzido – algo em torno de 1 milhão de toneladas por ano. São garrafas e recipientes usados para bebidas, produtos alimentícios, medicamentos, perfumes, cosméticos e outros artigos que vão parar direto no lixo, correspondendo em média a 3% dos resíduos urbanos. É bom lembrar que o vidro pode ser totalmente reutilizado. Um quilo de vidro reciclado rende exatamente 1 quilo de vidro a ser empregado na fabricação de novos produtos.

Outra indústria, a de eletroeletrônicos, disponibiliza desde o ano passado aos consumidores de todo o Brasil um serviço on-line de informações sobre programas de logística reversa e orientações para o descarte correto de televisores, computadores, celulares e outros resíduos eletroeletrônicos.

Os exemplos ainda são poucos e é necessário acelerar essa adaptação. Independentemente do ritmo de trabalho estabelecido pelo comitê criado pelo governo, que nos próximos meses deverá apresentar o cronograma e os editais para acertar com cada um dos setores os detalhes da aplicação da lei, as empresas deveriam se antecipar e agir buscando adaptar-se o quanto antes a uma nova realidade sem volta.

Falando da realidade atual, de descarte sem qualquer consciência, ela é causadora de problemas que vão das recentes inundações às contaminações do solo e da água e ao simples desperdício de materiais que ficam se deteriorando em lugar de servir para a produção de bens.

A lei é ambiciosa, pois estabelece também que todos os lixões do país deverão ser fechados até o dia 2 de agosto de 2014. A partir dessa data, apenas os resíduos que não podem ser reciclados serão enviados a aterros sanitários, onde serão estocados de forma adequada, para evitar contaminação. Os municípios com mais de 200 mil habitantes terão até o dia 2 de agosto de 2012 para apresentar seus planos de gestão de resíduos.

O problema, ou melhor, a solução apresentada pela Política Nacional de Resíduos Sólidos não pode ser vista apenas como uma questão de responsabilidade exclusiva das empresas, mas sim da sociedade como um todo. Para que as indústrias possam realizar seu trabalho, será necessário que os consumidores também façam sua parte, encaminhando corretamente os materiais para a reciclagem.

Nesse sentido, seria fundamental a realização de uma campanha maciça, de alcance nacional, explicando os benefícios da lei e do recolhimento e reciclagem, para que os objetivos venham a ser efetivamente alcançados. Essa comunhão de esforços e ações do poder público, das empresas e da sociedade é a chave para o sucesso de um dos mais desafiadores projetos nacionais: a consolidação de um Brasil alinhado com o século XXI e com os princípios do desenvolvimento sustentável.

Por Cristina Spera e Reinaldo Canto (Instituto Ethos)

Como o seu consumo afeta a maior floresta tropical do mundo

22/02/2011

http://blogdosakamoto.uol.com.br/2011/02/22/como-o-seu-consumo-afeta-a-maior-floresta-do-mundo/

Será lançado, nesta quarta, no seminário “Conexões Sustentáveis São Paulo – Amazônia” o segundo estudo “Quem se beneficia com a destruição da floresta”. A investigação traz exemplos de atores que produzem gado de corte, soja e madeira envolvidos com o desmatamento ilegal e o trabalho escravo que se conectam a outros, indústrias ou tradings, até chegar a varejistas que operam na capital paulista. Dessa forma, grandes empresas baseadas em São Paulo, e seus clientes, acabam financiando, mesmo sem saber, cadeias produtivas insustentáveis. Como sou um dos coordenadores da investigação, trago um dos casos relatados. Mas antes um pouco de necessário blá-blá-blá.

O objetivo principal da investigação é alertar as empresas e os consumidores sobre a importância de adotar modelos de negócios que não financiem a exploração predatória dos recursos naturais, a degradação de trabalhadores ou que cause danos às populações tradicionais. É possível produzir na Amazônia sem devastá-la. Obter alimentos e móveis de forma sustentável, com respeito ao meio e às comunidades que dele dependem.

Povos indígenas, comunidades tradicionais e pequenos agricultores estão no topo da lista dos que saem perdendo. No entanto, essa relação é ainda mais longa, uma vez que não só o Brasil, mas o planeta inteiro é afetado pela exploração inconseqüente dos recursos naturais, já que a floresta em pé é decisiva para a manutenção da qualidade de vida de milhões de pessoas. Entre outras funções vitais, ela regula o regime de chuvas e a temperatura média de uma extensa área do globo.

A responsabilidade social empresarial deve ser exercida em sua plenitude e não apenas em ações de marketing social ou de filantropia. O consumidor precisa urgentemente ser educado e se educar para não comprar, sob nenhuma condição, produtos que tenham crimes ambientais e trabalhistas em sua cadeia de produção. O governo precisa tornar eficiente sua capacidade de fiscalização, educação e repressão às ações criminosas. O poder judiciário deve se agilizar e fazer o que for necessário para evitar que um processo por destruição ambiental ou por trabalho escravo se arraste por anos. Os agentes financiadores, públicos e privados, não podem mais injetar recursos em processos predatórios, seja através de compras públicas ou de financiamento à produção.

O ato da compra é um ato político poderoso. Através dele damos um voto de confiança para a forma pela qual determinada mercadoria é produzida. Um exercício democrático que não é exercido apenas a cada quatro anos, mas no nosso dia-a-dia. E que pode ditar o destino da maior floresta tropical do mundo e de sua gente. Ou seja, também cabe a cada um de nós, paulistanos, decidir o futuro da Amazônia.

O formato do estudo, tocado pela Repórter Brasil e a Papel Social Comunicação, é multimídia e livre para navegar como quiser. Esse é o novo modelo de divulgação de estudos e pesquisas que vem sendo adotado por organizações sociais na Europa e nos EUA. Não polui, circula mais, é acessível ao público (que vai consumir a informação e não guardá-la no armário ou usá-lo como anteparo para o monitor) e não é (tão) chato.

Exemplo de caso: A madeira duvidosa dos prédios de luxo

O problema: Um prédio de luxo da capital paulista – que tem a Tecnisa e a Stuhlberger como investidoras e a SKR como construtora responsável pela obra – utilizou madeira comercializada pela Sulmap. A empresa está envolvida em diversos ilícitos ambientais e sociais, como uso de planos de manejo irregulares e exploração ilegal de toras em terra indígena.

O caso: A Sulmap é controlada pelo Grupo Sincol, uma das maiores companhias do setor madeireiro no país. A corporação conta com 1,7 mil funcionários e produz principalmente portas e esquadrias, abastecendo o mercado nacional e exportando para América do Norte, União Européia e Oriente Médio. Também possui marcas próprias de portas, como Silentia, Sinkit, Indoor e Corta Fogo. O Grupo Sincol detém o selo da Forest Stewardship Council (FSC), a mais conhecida certificadora de madeira do planeta. Possui tanto áreas de manejo quanto produtos certificados, mas que não se aplicam à Sulmap. Porém, em acordo com as diretrizes do FSC, o grupo “reconhece que deverá ter uma mesma política em todas as unidades de manejo sob sua administração, mesmo aquelas que não estão abrangidas no escopo do certificado”.

Apesar de ter assumido esses compromissos ambientais, a madeireira Sulmap é acusada pelo Ministério Público Federal de envolvimento em grilagem de terras, uso de planos de manejo ilícitos e invasão de terra indígena em Colniza (MT). O local é palco de violentos conflitos fundiários e a madeireira é acusada de incentivar atividades de associação de agricultores para expulsar os índios do território. Além disso, a Sulmap consta da lista de embargos do Ibama. Desde 2006, o órgão interditou a exploração de uma área equivalente a 753 campos de futebol no município de Vera (MT) por conta de desmatamento de vegetação amazônica nativa em área de reserva legal.

Em 2009, a Sulmap forneceu produtos beneficiados de madeira para a construção de um prédio de luxo – o Sollo Vila Romana – localizado na Vila Romana, bairro nobre de São Paulo (SP). A incorporação do edifício é de responsabilidade da Fábia Empreendimento Imobiliário, uma sociedade de propósito específico com capital das construtoras Stuhlberger e Tecnisa. A obra é tocada pela SKR Engenharia.

O que dizem as empresas: A assessoria de comunicação da Tecnisa afirmou que a empresa não tem responsabilidade sobre as obras do Sollo Vila Romana, pois a participação da construtora estaria restrita “à parte de investimento de capital”. Assim como a Tecnisa, a direção da Stuhlberger também afirmou que “tem sua participação na Fábia Empreendimentos Imobiliários SPE Ltda como investidora” apenas.

Já o engenheiro da SKR responsável pela obra do Sollo Vila Romana emitiu nota manifestando “surpresa” e “desconhecimento” sobre os problemas socioambientais relacionados à Sulmap. O funcionário da empresa também afirmou que os produtos de madeira adquiridos para a obra teriam sido acompanhados das devidas notas fiscais e guias florestais. “Acreditamos desta forma, que cumprimos todas as formalidades legais necessárias para evitar a compra de madeira ilegal (tendo em vista todos os documentos apresentados)”.

Para acessar o estudo, clique aqui (em flash).

Questão de pele

23/2/2011 Por Mônica Pileggi

Agência FAPESP – O Atlas de Dermatologia em Povos Indígenas foi produzido por um grupo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) para colaborar com a rotina de profissionais de saúde ou de agentes indígenas de saúde – representante da tribo ou aldeia que participa de cursos e treinamentos para atuar na atenção básica de sua comunidade – em locais onde nem sempre a presença de um dermatologista é possível.

De autoria dos dermatologistas Jane Tomimori e Marcos César Floriano, e do casal de médicos sanitaristas Sofia Mendonça e Douglas Rodrigues, o livro foi elaborado a partir de um estudo apoiado pela FAPESP, a respeito das doenças de pele mais frequentes entre os povos do Parque Indígena do Xingu.

O projeto, coordenado pelo professor Roberto Geraldo Baruzzi, do Departamento de Medicina Preventiva da Unifesp, teve como finalidade investigar os casos da doença de Jorge Lobo – micose crônica causada pelo fungo Lacazia loboi – nas aldeias do Parque do Xingu, além de capacitar a equipe local de saúde para lidar com as principais dermatoses.

“Como também fazíamos o atendimento dermatológico em diversas aldeias, até mesmo no estado do Pará, observamos muitas outras doenças de pele. Foi então que surgiu a ideia do atlas”, disse Jane Tomimori à Agência FAPESP.

A publicação está dividida em 11 capítulos, separados por tipos de doenças: causadas por fungos, bactérias, vírus ou parasitas, entre outras. No primeiro capítulo, os autores remetem o leitor à cultura indígena, abordando aspectos da medicina local e a representação do corpo para esses povos.

O capítulo seguinte serve como um guia introdutório para os agentes de saúde. Por meio de imagens e textos explicativos, os autores descrevem as lesões elementares mais encontradas durante o trabalho de campo, para futuras identificações em exames dermatológicos.

Entre as doenças de pele observadas nos atendimentos, segundo Jane, o tipo mais comum entre as populações isoladas no Parque do Xingu é o impetigo, infecção causada por bactéria – principalmente Staphylococcus aureus e Streptococcus pyogenes – de maior frequência em crianças. Contagiosa, pode ser transmitida por lesões existentes ou pelo simples ato de coçar a pele.

“Encontramos também uma doença chamada hiperplasia epitelial focal, caracterizada por verrugas na boca. Ela é descrita em algumas etnias espalhadas pelo mundo, entre elas indígenas norte-americanos, e é causada pelo papilomavírus humano”, disse a cientista.

Os pesquisadores estimam que, em vez de disseminada nas aldeias pelo homem “branco”, os índios tenham tendência genética a desenvolver tal doença, que, apesar de benigna, é contagiosa.

Populações ribeirinhas
Jane explica ainda que as variações de temperatura ao longo do dia e os hábitos dos índios influenciam não só na saúde da pele, como também ocasionam problemas respiratórios.

“À noite faz muito frio naquela região. Para se aquecer, eles dormem em torno de uma fogueira. Por conta disso, o número de índios com problemas respiratórios, como bronquite, é muito alto. Esse hábito também resseca muito a pele indígena”, afirmou.

A exposição ao fogo, aliada aos diversos banhos diários desses povos, acabam desenvolvendo ou piorando os casos de eczemas. Durante o trabalho na região, a pesquisadora conta que observou alta incidência da dermatose nos índios.

Segundo Jane, embora o título do atlas aponte para doenças observadas em indígenas, seu uso também é indicado a profissionais que atuam com populações ribeirinhas, uma vez que seus hábitos são semelhantes aos dos índios brasileiros.

•Atlas de Dermatologia em Povos Indígenas
Autores: Douglas A. Rodrigues, Jane Tomimori, Marcos C. Floriano e Sofia Mendonça
Preço: R$ 70
Páginas: 160
Editora: Unifesp
Mais informações: www.fapunifesp.edu.br/editora

Crescimento acelerado na Antártica

23/2/2011

Agência FAPESP – O estudo de pequenas criaturas marinhas coletadas na Antártica nos primeiros anos do século 20 pelo explorador inglês Robert Falcon Scott (1868-1912) acaba de fornecer novas informações sobre as mudanças ambientais no continente que rodeia o polo Sul.

Ao comparar briozoários – animais invertebrados aquáticos – existentes atualmente com exemplares obtidos nas expedições lideradas pelo capitão Scott, um grupo de cientistas do Reino Unido e dos Estados Unidos encontrou a primeira evidência conclusiva do aumento da captura e do armazenamento de carbono por uma vida marinha na Antártica.

Em artigo publicado nesta semana na revista Current Biology, David Barnes, do British Antarctic Survey, e colegas descrevem como examinaram as marcas de crescimento em esqueletos de espécimes de briozoários (Cellarinella nutti) coletados no mar de Ross por meio do Censo da Vida Marinha Antártica, programa internacional de pesquisa iniciado em 2005 como parte do Censo da Vida Marinha.

Quando comparados com espécimes pertencentes a coleções de museus no Reino Unido, Estados Unidos e Nova Zelândia, entre os quais exemplares coletados nas expedições de Scott, os cientistas observaram que desde 1900 os briozoários estão crescendo mais rapidamente do que jamais o fizeram.

Segundo eles, a explicação mais provável é a maior disponibilidade de alimento (fitoplâncton) desde o início do século 20. O estudo sugere que esse novo crescimento é um mecanismo importante para o depósito de carbono no leito do mar.

“Usamos um registro antigo de crescimento em um animal como evidência das mudanças rápidas e recentes para a vida existente no leito do mar. As coleções biológicas de Scott são consideráveis em qualidade e quantidade e se tornarão ainda mais valiosas para determinar como a vida responde a mudanças no transcorrer do tempo”, disse Barnes.

Segundo o cientista, como poucos estudos biológicos na Antártica envolvem períodos de mais de 30 anos, os dados do novo trabalho são “muito valiosos e destacam a importância de se realizar monitoramentos de longo prazo”.

Os briozoários se alimentam de fitoplâncton, pequenas plantas marinhas que precisam de dióxido de carbono para crescer e se reproduzir. O carbono no fitoplâncton é assimilado pelos briozoários e usado para formar os tecidos e esqueletos desses animais.

O crescimento acelerado dos briozoários implica que o animais atingem mais cedo seu tamanho máximo, quando são quebrados pelas correntes oceânicas. À medida que os briozoários caem, eles liberam carbono, aumentando o potencial de sequestro de carbono do leito marinho.

Scott liderou duas expedições à Antártica, a primeira de 1901 a 1904 e a segunda de 1910 a 1913, tentando ser o primeiro homem a atingir o polo Sul. Na segunda, o grupo conseguiu alcançar o polo, mas apenas para descobrir que a expedição liderada pelo norueguês Roald Amundsen havia chegado primeiro. Na jornada de retorno, Scott e seus quatro companheiros morreram devido ao cansaço, à desnutrição e ao frio extremo da região.

O artigo Scott’s collections help reveal accelerating marine life growth in Antarctica (doi:10.1016/ j.cub.2011.01.033), de David K.A. Barnes e outros, pode ser lido por assinantes da Current Biology em www.cell.com/current-biology.

Investimento de 2% do PIB combateria a pobreza

INFOMONEY 22/02/2011 00h02

Se 2% do PIB (Produto Interno Bruto) mundial fosse investido em dez setores estratégicos, seria o começo para a transição a uma Economia Verde. É o que aponta o relatório lançado pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente) ontem.

De acordo com o relatório, chamado de "Rumo a uma Economia Verde: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza", a transição global para a Economia Verde contribuiria para o desenvolvimento e para o aumento da renda per capita refletida nos atuais modelos econômicos. Além disso, ao longo do tempo, o número de empregos "novos e decentes criados" - que vão desde o setor de energia renovável até o de agricultura sustentável - compensará os empregos perdidos na antiga economia de alto carbono.

Ainda segundo o relatório, esses 2%, que correspondem a US$ 1,3 trilhão por ano, fomentaria o crescimento da economia global a níveis provavelmente superiores aos dos atuais modelos econômicos. O relatório mostra ainda que esse montante equivale a 10% do investimento total anual em capital físico.

Exploração de trabalho contamina produção de etanol

Publicado em fevereiro 22, 2011 por HC

Trabalhadores recebem por produção, o que leva muitos a morrerem de exaustão
Estudo revela as condições das famílias dos camponeses responsáveis pelo corte da cana-de-açúcar

Estudo desenvolvido na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP identificou os efeitos que a migração sazonal de camponeses do Vale do Jequitinhonha – para o corte de cana-de-açúcar e produção de açúcar e etanol – causa nas famílias desta localidade, considerada uma das mais pobres do país.

O estudo faz parte da tese de doutorado da geógrafa Lúcia Cavalieri e levou cinco anos para ser concluído. A pesquisa de campo, que coletou dados durante quatro meses, foi realizada em duas comunidades rurais: Alfredo Graça e Engenheiro Schnoor, ambas localizadas no município de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha.

Segundo dados do estudo, apenas em 2007, cerca de 7.000 homens da região de Araçuaí, deixaram sua família e sua terra e migraram para cortar cana na produção industrial do açúcar e do álcool no interior do estado de São Paulo. De acordo com a pesquisadora, o estudo, além de ser um importante para o campesinato brasileiro, evidencia o outro viés da produção de etanol e de açúcar.“Além dos homens fazerem um trabalho degradante nas plantações de cana-de-açúcar, eles também ficam cerca de nove meses longe de suas famílias. Isso causa grande desgaste emocional e desestruturação familiar. Esse é o custo que uma parcela das famílias brasileiras paga para obtermos a, equivocadamente chamada, energia limpa proveniente do etanol da cana-de-açúcar”, infere Lúcia.

Famílias

O pesar não é apenas dos bóias-frias que partem. “As mulheres são as que mais sofrem neste processo”, afirma a pesquisadora, “são mulheres fortes, que trabalham na terra, exercem atividades domésticas e que ainda são responsáveis por conceder aos serviços básicos e de educação. Contudo, sentem a ausência das relações familiares e dos maridos, que passam ao menos nove meses longe”.

Contudo, estas famílias ainda permanecem nos seus municípios de origem, mantendo uma migração temporária. Este aspecto peculiar, segundo a pesquisadora, deve-se às comunidades possuírem uma identidade muito forte e um sentimento de pertencimento àquela porção de terra e àquele modo de vida. “O dia a dia e o tratar da terra faz muito sentido. Mais sentido do que a vida fora da comunidade”.

Usinas de etanol
Os baixos salários pagos pelas usinas de processamento de cana-de-açúcar aos cortadores influi diretamente na qualidade de vida destes. “Por receberem por produção (toneladas/dia) e não por horas de trabalho, muitos cortadores morrem por exaustão, no intuito de auferir um pouco mais de renda à família”, expõe a pesquisadora.

Segundo ela, o argumento ambiental não pode prevalecer sobre os aspectos sociais. “Enquanto as usinas recebem incentivos governamentais para a produção de etanol, em grandes porções de terras, as famílias dos cortadores, continuam em situação econômica e social precárias”, conclui.

Conjuntura de Recursos Hídricos no Brasil

O Relatório de Conjuntura de Recursos Hídricos no Brasil consiste em uma importante ferramenta de acompanhamento sistemático e periódico da situação dos recursos hídricos e de sua gestão em escala nacional. Conforme estabelecido na Resolução CNRH nº 58, de 2006, é atribuição da Agência Nacional de Águas sua elaboração.

O Relatório de Conjuntura dos Recursos Hídricos é apresentado por meio de dois documentos: o Relatório de Conjuntura, com periodicidade quadrienal e os Relatórios de Conjuntura – Informes, de periodicidade anual.

O Relatório de Conjuntura apresenta o estado da arte e o balanço dos últimos quatro anos, nos moldes do primeiro Relatório de Conjuntura publicado em 2009. Será lançado sempre um ano antes da revisão periódica do Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH), representando importante apoio para o seu grau de avaliação e suas revisões, bem como da Política Nacional de Recursos Hídricos.

Os Relatórios de Conjuntura – Informes buscam atualizar as informações do Relatório de Conjuntura no intervalo entre suas edições. Mais compactos, têm como objetivo avaliar, essencialmente, as modificações verificadas no estado dos recursos hídricos relativamente ao ano precedente, ocorrência de eventos hidrológicos extremos, as condições de qualidade das águas superficiais e demais fatos relevantes em relação aos usos dos recursos hídricos, além da evolução dos instrumentos de gestão. Ao fornecer uma visão atualizada, os informes terão adicionalmente a função de subsidiar a elaboração do Relatório de Conjuntura, previsto para cada quatro anos.

Veja mais no site Conjuntura de Recursos Hídricos no Brasil
Matriz Limpa

Ipea divulga estudo sobre Biodiversidade

Série abordará ainda políticas públicas de meio ambiente, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), comércio internacional e direito ambiental

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) apresentou nesta quinta-feira, 17, às 10 horas, o Comunicado do Ipea n° 78: Biodiversidade. Parte da série Eixos do Desenvolvimento Brasileiro, o estudo apresenta questões como o conhecimento sobre a diversidade de espécies no Brasil, animais ameaçados de extinção, desmatamento na Amazônia, Unidades de Conservação, entre outros.

O Comunicado n° 78 foi apresentado no auditório do Ipea em Brasília (SBS, Quadra 1, Bloco J, Edifício BNDES, subsolo). Os técnicos de Planejamento e Pesquisa do Ipea Nilo Saccaro, João Paulo Viana e Julio Cesar Roma fizeram a apresentação do comunicado. Durante a entrevista coletiva, transmitida on-line para todo o Brasil, jornalistas tiveram suas perguntas respondidas pelos pesquisadores.

Série
O Comunicado faz parte de um conjunto amplo de estudos sobre o que tem sido chamado, dentro da instituição, de Eixos do Desenvolvimento Brasileiro: Inserção internacional soberana; Macroeconomia para o desenvolvimento; Fortalecimento do Estado, das instituições e da Democracia; Infraestrutura econômica, social e urbana; Estrutura tecnoprodutiva integrada e regionalmente articulada; Proteção social, garantia de direitos e geração de oportunidades; e Sustentabilidade ambiental.

O Comunicado do Ipea nº 78, encontra-se dividido em duas partes: Genes e Espécies e Biomas Brasileiros. Na primeira parte exploram-se questões como o estado de conservação da flora e fauna brasileiras, a conservação do patrimônio genético do Brasil e o nível de conhecimento sobre o número de espécies no país. Na segunda parte são abordados seis biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, Pampa e a Zona Costeira que tem sido mencionada como o sétimo bioma brasileiro.

A série Sustentabilidade Ambiental no Brasil: Biodiversidade, economia e bem-estar humano faz uma análise de diversos setores relacionados ao meio ambiente no Brasil. E busca servir como uma sistematização e reflexão sobre os desafios e oportunidades do tema meio ambiente, de forma a fornecer ao Brasil o conhecimento crítico necessário à tomada de posição frente aos desafios da sustentabilidade ambiental.

Comunicados
O livro Sustentabilidade Ambiental no Brasil: Biodiversidade, economia e bem-estar humano, cujos capítulos deram origem aos comunicados da série, contém outros 14 capítulos sobre temas relacionados ao meio ambiente no Brasil.

Dentro da série, ainda serão divulgados comunicados sobre comércio internacional, políticas públicas de meio ambiente, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), direito ambiental, emprego verde e sustentabilidade na construção civil.


Leia a íntegra do Comunicado do Ipea nº 78: Genes e Espécies e Biomas Brasileiros


Veja os gráficos da apresentação do Comunicado do Ipea nº 78

Poluição induz mutação

18/2/2011

Agência FAPESP – Durante três décadas, de 1947 a 1976, duas fábricas de uma multinacional jogaram um total estimado de 600 mil quilos de bifenilas policloradas (PCB), compostos organoclorados sintéticos considerados entre os poluentes com maior biotoxicidade, no rio Hudson, em Nova York.

O resultado foi o acúmulo do composto cancerígeno em um peixe local, o Microgadus tomcod, da família do bacalhau, em níveis nunca vistos em populações naturais. O surpreendente é que o peixe não sumiu da área afetada, mas proliferou a ponto de hoje ser encontrado em grandes populações.

O motivo é que o excesso de PCB induziu a um tipo de mutação que levou o peixe a evoluir para poder resistir à grande quantidade de toxinas presente na água, segundo estudo publicado nesta sexta-feira (18/2) no site da revista Science.

Esse tipo de resposta é conhecido em insetos, que desenvolvem resistência a certos pesticidas, e em bactérias, que passam a resistir a antibióticos. “Mas essa é a primeira demonstração de um mecanismo de resistência em uma população de vertebrados”, disse Isaac Wirgin, do Departamento de Medicina Ambiental da Escola de Medicina da Universidade de Nova York, que liderou o estudo.

Como Wirgin e colegas sabiam que o receptor de arilhidrocarbono (AHR2) regula os efeitos tóxicos do PCB em peixes, eles analisaram exemplares do M. tomcod para observar de que forma o receptor havia sido afetado.

O grupo verificou que esses peixes do rio Hudson e de áreas próximas tinham quatro mutações distintas no gene AHR2 que não eram comuns em outras populações da mesma espécie em áreas não contaminadas.

Segundo os pesquisadores, essas mutações parecem prejudicar a capacidade da AHR2 de se ligar a certas substâncias tóxicas presentes na água.

Os cientistas sugerem que os peixes no rio Hudson passaram por uma rápida evolução, alterando a AHR2 em um período curto de tempo, de modo a desenvolver resistência aos PCBs que infestaram seu habitat.

Embora o peixe tenha superado a poluição no rio, o resultado não foi tão bom para seus predadores ou o homem. “O M. tomcod sobreviveu, mas ele ainda acumula PCB em seu corpo e passa a substância para qualquer outro que o coma”, disse Mark Hahm, da Instituição Oceanográfica Woods Hole, outro autor do estudo. Ou seja, apesar de o peixe ter resistido e proliferado, a pesca está fora de questão.


O artigo Mechanistic Basis of Resistance to PCBs in Atlantic Tomcod from the Hudson River (doi: 10.1126/science.1197296), de Isaac Wirgin e outros, pode ser lido por assinantes da Science em http://www.sciencexpress.org/.

Distribuição Fisica de Água no Planeta


Agua no Brasil



Acesso á Agua potavel no Mundo


Comida ou biocombustível

Estadão.com
16 de fevereiro de 2011
18h56
Celso Ming
Na sua edição de ontem, o New York Times publicou matéria com este título: “Precisamos de proteína, não de biocombustíveis” (We Need Protein, Not Biofuels).

A escalada dos preços da comida está aumentando a fervura política. O Banco Mundial já avisou que a escassez de alimentos empurrou 44 milhões de pessoas para abaixo da linha de pobreza. O presidente da França, Nicolas Sarkozy, na condição de presidente rotativo do Grupo dos 20 (G-20) países mais ricos do mundo, quer intervenção para garantir a segurança alimentar.
Por enquanto, Sarkozy e os críticos ainda vêm pondo força no diagnóstico errado, o de que a disparada dos preços está sendo provocada preponderantemente pela ação dos especuladores financeiros. Mas à medida que esse argumento vai sendo rebatido – até mesmo pelo governo brasileiro – duas consequências parecem inevitáveis. A primeira delas é a maior flexibilização para desenvolvimento e produção de culturas geneticamente modificadas (transgênicas), que ainda hoje encontram fortes resistências na Europa e também aqui no Brasil. A outra é o crescimento das pressões para proibir o desvio de grãos e de outros alimentos para a produção de biocombustíveis.

Os Estados Unidos, por exemplo, canalizam mais de 100 milhões de toneladas de milho para a produção de etanol, o suficiente para alimentar 240 milhões de pessoas, nos cálculos do professor Kenneth Cassmann, da Universidade de Nebraska, citado em outra matéria do New York Times. A própria União Europeia usa óleos vegetais (especialmente de canola e girassol) para a produção de biodiesel.

E o Brasil também tem lá seus fortes programas de etanol e biodiesel. No ano passado cerca de 335 milhões de toneladas de cana-de-açúcar foram usadas para a produção de etanol e mais não foram porque os próprios usineiros puxaram mais matéria-prima para suas fábricas de açúcar, cujos preços saltaram 72% no mercado internacional. Também por aqui 1,9 milhão de toneladas de óleo de soja deixaram de ser utilizadas na alimentação e foram empregadas na produção de 2,5 bilhões de litros de biodiesel.

Por enquanto, o Brasil vem defendendo a produção de biocombustíveis a partir de matéria-prima alimentar com o argumento de que há espaço para os dois segmentos. Mas à medida que crescer a escassez de alimentos, maiores serão as pressões e mais vulnerável ficará o governo brasileiro.

O crescimento da procura de proteína tanto vegetal como animal parece inexorável à medida que cresce a população dos países emergentes que ascendem à condição de consumidores. Desapareceram as montanhas de trigo e de manteiga nos países ricos que caracterizaram os anos de pós-guerra. Esta é uma extraordinária oportunidade para o Brasil. No entanto, um após o outro, os governos brasileiros renunciaram a ter uma política agrícola. A produção vai crescendo, sim, mas na base da inércia, estimulada apenas pelo que Deus manda, enfrentando custos predatórios e uma infraestrutura precária e desestimuladora.

Mais poluente, termelétrica ganha peso na matriz energética

Estudo do Ipea prevê que nos próximos três anos a participação das usinas à base de combustíveis fósseis deve passar dos atuais 17,7% para 23,1%


 “Estamos em posição de vanguarda com relação a outros países, o que não significa, contudo, que estejamos no padrão ideal no aspecto da geração de energia”
 
Gesmar Rosa, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea
Com a construção de 122 novas usinas, as termelétricas à base de combustíveis fósseis devem aumentar sua participação na matriz de energia elétrica brasileira de 17,7% para 23,1% nos próximos três anos. Enquanto isso, a participação das hidrelétricas deve cair de 72,5% para 64,4%, mesmo com a construção de 311 novas usinas. Como resultado, a matriz brasileira, frequentemente elogiada por explorar fontes renováveis, deve aumentar sua dependência de recursos não-renováveis e mais poluentes, como petróleo e gás. Os dados constam de estudo divulgado nesta terça-feira pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

O Brasil tem atualmente a matriz energética com menor nível de emissão de gases de efeito estufa entre os países industrializados. As fontes renováveis representam 45,9% da oferta de energia interna do Brasil, uma média muito superior à do resto do planeta, de apenas 12,9%. Isso faz com que o consumo médio no país seja de 1,34 tonelada equivalente de petróleo por ano (tep), muito abaixo dos países desenvolvidos, que é de 4,69 tep, e também abaixo do consumo mundial, 1,78 tep. Mas a previsão é de que o consumo de fontes fósseis no país aumente dos atuais 1,34 tep para 1,49 tep, seguindo tendência mundial apontada pela Agência Internacional de Energia. “Estamos em posição de vanguarda com relação a outros países, o que não significa, contudo, que estejamos no padrão ideal no aspecto da geração de energia”, diz Gesmar Rosa, técnico de planejamento e pesquisa do Ipea.

Energia eólica — O que pode ajudar a frear a dependência do petróleo são as energias alternativas. O número de usinas eólicas no Brasil deve dobrar nos próximos quatro anos, das atuais 45 para 86, fazendo a participação da energia gerada pelos ventos saltar de 0,7% para 2,1% do total da matriz de energia elétrica do país, quase a mesma participação da energia nuclear, que, se concretizada a construção de Angra 3, aumentaria de 1,8% para 2,3%.

Segundo o Ipea, o crescimento da energia eólica se baseia em incentivos dados pelo governo para este tipo de energia. “Antigamente, se dizia que a energia eólica não valia a pena por seu alto custo. Hoje, isso não é mais verdade: os equipamentos não só se baratearam como se tornaram mais eficientes, sendo possível produzir energia de ventos relativamente lentos”, diz o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea, Antenor Lopes. “No Brasil, já existe uma corrida em busca dessa energia em lugares como a Bahia e a região sul do País”, acrescenta.

Energia solar - Se aprovado o Projeto de Lei 630/2003, que atualmente está na Câmara dos Deputados, o setor de energia eólica deve ganhar um impulso extra: um fundo especial para pesquisa e produção. Este fundo também beneficiaria a energia solar, que apresenta atualmente uma participação irrisória, não chegando a 0,1% da matriz. O Ipea atribui seu baixo desempenho ao alto custo e ao estágio inicial de desenvolvimento da tecnologia. “Considera-se somente o fator econômico direto como um impeditivo para o setor, mas devem-se averiguar também suas vantagens em termos ambientais e, em longo prazo, de geração de empregos”, argumenta Lopes.

Bagaço e capim — No futuro, espera-se que o equilíbrio brasileiro, a despeito da crescente dependência de combustíveis fósseis, se mantenha graças a três fontes promissoras: as termelétricas à base de bagaço de cana, o capim elefante e a energia eólica. Quanto ao capim elefante, diz Lopes, ele ainda não é significativo na matriz energética, mas apresenta grande potencial e deve começar a aparecer nas estatísticas nos próximos anos. “Ele é muito parecido com a cana-de-açúcar, possui um teor energético muito elevado e tem ainda a vantagem de ter uma produtividade por área muito maior que a da cana”, defende.

(fonte: Veja - Ciencia)

Aplicação de R$ 238 milhões do Fundo Clima será definida em março

O plano anual de aplicação de recursos do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima, para 2011, será definido em 15 de março, durante a segunda reunião extraordinária de seu comitê gestor. A decisão foi tomada nesta quarta-feira (9), no primeiro encontro do ano, em Brasília. Estão previstos R$ 238 milhões de investimentos em projetos para a redução dos impactos consequentes das alterações da temperatura global.

O fundo é um dos principais instrumentos de promoção e financiamento de atividades vinculadas à Política Nacional sobre Mudança do Clima. O BNDES vai dispor R$ 204 milhões em linhas de crédito para projetos do setor público e privado. Também serão destinados R$ 34 milhões pelo MMA, para iniciativas públicas, com recursos não-reembolsáveis.

A secretária de Mudanças Climáticas e Qualidade Ambiental do MMA, Branca Americano, explica que, até a reunião de 15 de março, o ministério terá recebido sugestões das instituições que compõem o comitê gestor. As diretrizes da Lei Orçamentária serão decididas nesta segunda reunião , ressaltou ela a cerca de 40 participantes que representam ministérios, estados, municípios, instituições científicas e setor produtivo. A primeira reunião extraordinária do comitê gestor foi aberta pelo secretário-executivo do Ministério do Meio Ambiente, Francisco Gaetani, e o principal debate foi sobre o seu regimento interno.

Branca Americano disse que os projetos a serem selecionados para financiamento terão algumas características essenciais, como serem relevantes para a mitigação das mudanças climáticas e que sejam consenso da sociedade em relação aos benefícios alcançados. O MMA apresentou um texto com as diretrizes que devem ser levadas à discussão no mês que vem.
O debate será ainda implementado logo que estiver pronto o estudo que está sendo feito pela Fundação Getúlio Vargas, a pedido do Ministério do Meio Ambiente, sobre fontes de financiamento para atividades de baixo carbono no Brasil.

Os usos de verbas previstas pelo Fundo Nacional sobre Mudança do Clima estão definidos no decreto presidencial (7.343/2010). A sua destinação deve ter como foco a educação, ciência, adaptação da sociedade aos impactos, redução de gases do efeito estufa, redução das emissões de carbono por desmatamento, difusão de tecnologias para diminuir os gases na atmosfera, formulação de políticas públicas e apoio a cadeias produtivas sustentáveis, por exemplo.

Entre as fontes de recursos estão os 60% da participação especial que cabe ao MMA nas verbas oriundas da produção de petróleo, além de dotações consignadas na lei orçamentária anual da União. O fundo é gerido pelo comitê gestor, presidido pelo secretário Francisco Gaetani e o MMA é responsável pela formulação da proposta orçamentária anual e do plano anual de aplicação financeira.

Legislação - A Política Nacional sobre Mudança do Clima foi instituída pela Lei 12.187 de 29 de dezembro de 2009. O Fundo Nacional foi criado pela Lei 12.114, de 9 de dezembro de 2009, regulamentado pelo Decreto 7.343, de 26 de outubro de 2010. (Fonte: MMA)

A difícil passagem do tecnozóico ao ecozóico, artigo de Leonardo Boff

Publicado em fevereiro 14, 2011 por HC
[EcoDebate] As grandes crises comportam grandes decisões. Há decisões que significam vida ou morte para certas sociedades, para uma instituição ou para uma pessoa.

A situação atual é a de um doente ao qual o médico diz: ou você controla suas altas taxas de colesterol e sua pressão ou vai enfrentar o pior. Você escolhe.

A humanidade como um todo está com febre e doente e deve decidir: ou continuar com seu ritmo alucinado de produção e consumo, sempre garantindo a subida do PIB nacional e mundial, ritmo altamente hostil à vida, ou enfrentar dentro de pouco as reações do sistema-Terra que já deu sinais claros de estresse global. Não tememos um cataclisma nuclear, não impossível mas improvável, o que significaria o fim da espécie humana. Receamos isto sim, como muitos cientistas advertem, por uma mudança repentina, abrupta e dramática do clima que, rapidamente, dizimaria muitíssimas espécies e colocaria sob grande risco a nossa civilização.

Isso não é uma fantasia sinistra. Já o relatório do IPPC de 2001 acenava para esta eventualidade. O relatório da U.S. National Academy of Sciences de 2002 afirmava “que recentes evidências científicas apontam para a presença de uma acelerada e vasta mudança climática; o novo paradigma de uma abrupta mudança no sistema climático está bem estabelecida pela pesquisa já há 10 anos, no entanto, este conhecimento é pouco difundido e parcamente tomado em conta pelos analistas sociais”. Richard Alley, presidente da U.S. National Academy of Sciences Committee on Abrupt Climate Change com seu grupo comprovou que, ao sair da última idade do gelo, há 11 mil anos, o clima da Terra subiu 9 graus em apenas 10 anos (dados em R.W.Miller, Global Climate Disruption and Social Justice, N.Y 2010). Se isso ocorrer consosco estaríamos enfrentando uma hecatombe ambiental e social de conseqüências dramáticas.

O que está, finalmente, em jogo com a questão climática? Estão em jogo duas práticas em relação à Terra e a seus recursos limitados. Elas fundam duas eras de nossa história: a tecnozóica e a ecozóica.

Na tecnozóica se utiliza um potente instrumental, inventado nos últimos séculos, a tecno-ciência, com a qual se explora de forma sistemática e com cada vez mais rapidez todos os recursos, especialmente em benefício para as minorias mundiais, deixando à margem grande parte da humanidade. Praticamente toda a Terra foi ocupada e explorada. Ela ficou saturada de toxinas, elementos químicos e gases de efeito estufa a ponto de perder sua capacidade de metabolizá-los. O sintoma mais claro desta sua incapacidade é a febre que tomou conta do Planeta.

Na ecozóica se considera a Terra dentro da evolução. Por mais de 13,7 bilhões de anos o universo existe e está em expansão, empurrado pela insondável energia de fundo e pelas quatro interações que sustentam e alimentam cada coisa. Ele constitui um processo unitário, diverso e complexo que produziu as grandes estrelas vermelhas, as galáxias, o nosso Sol, os planetas e nossa Terra. Gerou também as primeiras células vivas, os organismos multicelulares, a proliferação da fauna e da flora, a autoconsciência humana pela qual nos sentimos parte do Todo e responsáveis pelo Planeta. Todo este processo envolve a Terra até o momento atual. Respeitado em sua dinâmica, ele permite a Terra manter sua vitalidade e seu equilíbriio.

O futuro se joga entre aqueles comprometidos com a era tecnozóica com os riscos que encerra e aqueles que assumiram a ecozóica, lutam para manter os ritmos da Terra, produzem e consomem dentro de seus limites e que colocam a perpetuidade e o bem-estar humano e da comunidade terrestre como seu principal interesse.

Se não fizermos esta passagem dificilmente escaparemos do abismo, já cavado lá na frente.
Leonardo Boff é teólogo, filósofo e escritor

Doctors Without Frontiers - A vida dos Refugiados.

 Civis sob ataque armado. link
" O ataque á minha vila aconteceu de manhãzinha. Tropas do governo juntas com os janjaweed nos atacaram e cada uma delas tinha uma tarefa especifica. Uma delas separou os homens de idade entre 18 e 40 anos e..."

One vou encontrar água para viver?


Banheiros...como isto vai funcionar?

Onde encontrarei alguma comida para minha familia? 

Por quanto tempo permanecerei aqui?

O que acontecerá com minha familia se eu cair doente?

Como vou proteger minhas crianças das doenças? E os medicamentos?

TERRAMÉRICA - Água evapora no Peru

Por Milagros Salazar*

O notável crescimento das exportações agrícolas do Peru pode levar ao desaparecimento de um recurso essencial para a vida. A água vai embora do país, e sem custo, em cada embarque.

Lima, Peru, 7 de fevereiro (Terramérica).- Enquanto a água doce se extingue na superpovoada costa peruana, as plantações que mais exigem esse recurso crescem sem parar para o lucrativo comércio exterior. Especialistas alertam para este dano e pedem maior responsabilidade do governo e de todos os envolvidos. O valor das exportações agrícolas peruanas, de mãos dadas com os altos preços internacionais, chegou a mais de US$ 3 bilhões entre janeiro e novembro do ano passado, 30,2% mais do que no mesmo período de 2009.

Um exemplo deste pujante setor é a produção de aspargo, que gera 120 mil empregos no campo, segundo dados oficiais. Por outro lado, exige grande quantidade de água. Para um hectare de aspargo, são necessários 22 mil metros cúbicos de água, sete vezes mais do que a necessária para o deslocado cultivo de uva quebranta, tradicional no departamento de Ica, afirmou David Bayer, do não governamental Instituto de Promoção para a Gestão da Água (Iproga).

David disse ao Terramérica que estas estimativas ainda estão “muito abaixo do número real, porque não inclui a água usada no empacotamento do produto com destino à exportação ou para preparar e aplicar os agroquímicos e os produtos para crescimento dos cultivos”. Ele destacou que devem ser acrescentados outros dois mil metros cúbicos por hectare de aspargo. Há uma pegada hídrica que precisa ser considerada, afirmam os especialistas.

Ica e La Libertad, no noroeste do Peru, são as regiões costeiras com maiores extensões de cultivos de aspargo, apesar de serem as mais desérticas do país. Na zona costeira do Pacífico, que concentra 70% da população peruana, a média é de dois mil metros cúbicos de disponibilidade de água por pessoa ao ano, enquanto na área amazônica, com apenas 26%, é de 291 mil metros cúbicos por pessoa anualmente.

“A pegada hídrica é um argumento que exige a responsabilidade de todos, das empresas, do Estado e dos peruanos em geral, que precisam trabalhar na sustentabilidade de um recurso tão escasso para o planeta”, disse ao Terramérica o pesquisador Laureano del Castillo, do Centro Peruano de Estudos Sociais. Este especialista em questões hídricas e políticas rurais considera importante “evidenciar o uso da água nos diversos processos produtivos da industrial, porque não é possível continuar cultivando produtos que exigem enormes quantidades de água em regiões desérticas”.

Entretanto, Roxana Orrego, especialista em bioenergia e mudança climática do Ministério da Agricultura, disse ao Terramérica que, embora a pegada hídrica tenha a ver com a soberania alimentar do país, este assunto “não está sendo considerado” em sua área. “É um critério da Organização das Nações Unidas, mas não é algo efetivo nos países”, ressaltou. O aquífero de Ica é um dos reservatórios mais importantes de águas subterrâneas da costa peruana, mas está secando e, se continuar nesse passo, em 2013 poderá desaparecer, alertou David.

Os moradores de Ica dispõem de menos de dois mil metros cúbicos de água por pessoa, o que é considerado uma situação de estresse hídrico. Segundo um informe do Instituto Geológico de Mineração e Metalurgia elaborado entre 2006 e 2007, a carência de água em Ica chegou a “níveis críticos”. A superexploração do recurso uniu-se às mudanças no clima devido ao derretimento das geleiras de Huancavelica, região vizinha a Ica, e que abastecem de água seus principais rios.

As chuvas chegaram com atraso desta vez. Em lugar de começar em outubro, caíram apenas em janeiro, informou o Serviço Nacional de Meteorologia e Hidrologia do Peru. Também o acumulado de chuva em janeiro no Rio Ica foi 77% abaixo do normal. “É preciso reforçar o enfoque ambiental na agroindústria”, disse Alberto Limo, funcionário do Ministério do Meio Ambiente, que participou, junto com outros especialistas, de uma conferência sobre o assunto organizada pela Pontifícia Universidade Católica do Peru.

Os especialistas apontaram como outro desafio os projetos de produção de biocombustíveis, que também são promovidos à custa da cana-de-açúcar, outro cultivo que exige água em abundância. No entanto, são impulsionados como alternativa à mudança climática. Quais saídas existem? David propõe que as seis maiores empresas de exportações agrícolas de Ica deixem “de plantar a metade de suas terras para economizar cerca de 75 milhões de metros cúbicos de água por ano”.

O total de águas superficiais usado pelos 14.006 irrigadores em Ica é de 633 milhões de metros cúbicos por ano. O que se extrai do subsolo, majoritariamente por parte das agroexportadoras, chega a 563 milhões de metros cúbicos, enquanto a superexploração do aquífero é de 311 milhões de metros cúbicos, disse David. Contudo, José Chlimper, presidente da Agrokasa, a mais importante produtora de aspargo de Ica, considerou “relativa” esta escassez hídrica. Em um artigo publicado no jornal local, Correo, disse que há uma campanha de desinformação “promovida por interesses ocultos”.

“Tanto a Junta de Irrigação de Rio Seco como a de Ica e Villacurí estão trabalhando em programas de exploração responsável e na formulação de um plano estratégico público-privado para reforçar a sustentabilidade do aquífero”, disse José, insistindo que a chave está no uso eficiente da água. As empresas da região preferem a irrigação por gotejamento. David afirmou que “estas empresas nunca pagaram pelas águas subterrâneas que bombeiam de seus poços”.

“A nova lei de Recursos Hídricos, de março de 2009, agora exige o pagamento de uma tarifa. Por outro lado, os pequenos produtores que irrigam com água superficial sempre pagaram”, explicou. Alberto, por sua vez, informou que o governo de Alan García trabalha em um projeto de caudais ecológicos para determinar a capacidade de uso das bacias hidrográficas. Por outro lado, Laureano disse ao Terramérica que essa análise deve ser feita nos conselhos de bacia, do qual devem participar por lei os diversos atores envolvidos, que, no entanto, ainda não foram criados.

* O autor é correspondente da IPS.

A aldeia global em ação

Por Alberto Dines, do Observatório da Imprensa
No ano do centenário de nascimento do canadense Marshall McLuhan, o ditador egípcio Hosni Mubarak consagrou definitivamente o conceito de Aldeia Global ao colocar seus esbirros contra a imprensa internacional acampada no Cairo para cobrir a revolta popular que exigia a sua saída.

Apesar da violenta repressão, veículos dos quatro cantos do mundo (inclusive do Brasil) reagiram de forma instintiva, coerente, determinada: Mubarak, a figura e não uma estátua, começou a desabar naquele exato momento.

Depois de tantas bolhas, vacilações e vexames, a mídia noticiosa reencontra a sua história e missão. Ao atravessar a maior crise existencial e institucional, o jornalismo – é ele que está em questão – mostrou o seu ânimo, sua força, sua validade.

A humanidade tem sede de saber, a imprensa tem a obrigação de saciá-la. Sobretudo quando se trata de livrá-la da opressão e do obscurantismo. Este compromisso não pode ser regulado nem controlado por caudilhos oportunistas, diplomatas maneiristas, políticos ambiciosos, fanáticos delirantes, especuladores gananciosos.

Segunda década
Atender aos chamamentos por liberdade está na alma deste ofício, é o seu modelo de negócios, qualquer que seja a plataforma utilizada. Pela primeira vez, o jornalismo foi às ruas para evitar um banho de sangue, e não para provocá-lo. Sua presença, mais do que o seu testemunho, foi decisiva para impedir a maré montante da repressão.

O Ocidente reencontrou-se, releu talvez o discurso de Barack Obama em 4 de junho de 2009 pronunciado ali mesmo, no Cairo, e reverteu o rumo das cruzadas medievais (ver aqui, texto em inglês; vídeo aqui). Foi ao Oriente para ajudá-lo a acabar com a opressão e não trocá-la por outra. Trouxe a sua tecnologia, sua criatividade e, principalmente seu compromisso com uma utopia das Nações Unidas chamada Aliança das Civilizações.

A revolta egípcia corre o mundo e desperta entonações revolucionárias. Enquanto a China se cala, manietada por suas contradições, a praça Tahrir do Cairo força os irmãos Castro em Havana a liberar o blog de Yoani Sánchez. Um gerente egípcio do Google torna-se ídolo mundial porque assume integralmente sua condição de comunicador social e cala a boca do apedrejador persa Ahmadinejad.


Em meio a terríveis nevascas, portentosos dilúvios e presságios de fome, a segunda década do século 21 começa alentadora. Graças à imprensa – plural, livre, descontraída, diversificada.

(Envolverde/Observatório da Imprensa)

FSM - O outro mundo possível chama-se Ecossocialismo

Por Kanya D’Almeida, da IPS
Nova York, Estados Unidos, 11/2/2011 – Joel Kovel, que teve um destacado papel em várias edições do Fórum Social Mundial (FSM), que nesta semana acontece em Dacar, afirma que o movimento deve ter por base uma prática e uma lógica anticapitalistas. Considerado o pai do movimento Ecossocialista, Joel analisa a história, trajetória e o futuro do movimento. Também é um dos autores do Manifesto Ecossocialista, que detalha um caminho alternativo ao atual de destruição ambiental. Joel disse à IPS que é preciso dar nome a este “outro mundo” e posicioná-lo firmemente contra a ameaça do capital global.

IPS: Qual foi seu papel nas edições anteriores do FSM?

JOEL KOVEL: Ecossocialismo é um conceito inerentemente global, não internacional, por isso o FSM é um lugar ideal para discutir suas principais ideias. Apresentamos o manifesto em Nairóbi em 2007, e o revisamos com um grupo de centenas de pessoas. O Ecossocialismo cresce magnificamente no terceiro mundo, mas é o quarto mundo, dos indígenas e dos povos sem Estado, o que realmente está à frente neste assunto. As pessoas do quarto mundo vivem em relações comunitárias e são vítimas diretas das corporações mineradoras e petroleiras predadoras que se enfiam no coração da terra e destroem as comunidades que são parte do solo. Por isso, dependemos do espaço único do FSM para difundir as ideias do Ecossocialismo.

IPS: O que se discute no FSM sobre a crise ecológica é suficiente?

JK: O FSM tende a se concentrar em áreas específicas dentro do assunto mais amplo do ecocídio, ou ecodestruição, como as sementes geneticamente modificadas ou a acidificação dos oceanos e o desmatamento. É preciso atender esses assuntos, mas não é suficiente para lidar com a magnitude da crise, que exige um diagnóstico muito mais amplo do que apenas das causas subjacentes do problema. Há pouquíssimo rigor teórico ou agudo sobre a crise ecológica em geral no FSM por muitas razões. As pessoas estão tão aterradas, há tantas causas válidas para se lutar, os problemas são difusos, com diferentes assuntos arraigados em localidades dispersas e ninguém pode decidir quais são os limites entre uma crise e outra. São tantas interrogações, como a de quando a crise dos oceanos passou para a atmosfera. É compreensível que as pessoas se mostrem reticentes em questões simples como a proliferação das garrafas de plástico.

IPS: O que o FSM pode dar de novo para avançar rumo a uma solução?

JK: Atualmente existe um problema de definição no FSM. Surgem diferentes questões que são transtornos ecossistêmicos, como a dúvida de quando se destroi a floresta pela monocultura, por exemplo. Cada crise ecossistêmica tem sua própria realidade concreta e localização específica, como o desastre de Bhopal, na Índia. A verdadeira crise ecológica é o conjunto de todas elas, que se agravam com rapidez, se propagam pelo mundo e aumentam de forma exponencial. Se quisermos encontrar a causa das diferentes crises sistêmicas, devemos olhar todas elas em conjunto e encontrar o que têm em comum. Cada problema tem sua própria causa, mas, virtualmente cada uma está vinculada à expansão capitalista e pode-se seguir seu rastro até a porta de um banco ou uma potência imperial. Se o FSM pretende atender o problema, deve identificar e articular a questão do capital global, que pode ser pensada de forma metafórica como um câncer que apresenta metástase. Sem importar a forma escolhida para tratar a doença, deve-se reconhecer que é uma realidade.

IPS: Em que o FSM mudou desde sua primeira participação em 2003?

JK: Infelizmente, o FSM tem tendência a girar em falso devido aos limites inerentes ao seu lema de “outro mundo é possível”, que é repetido até cansar e acaba sendo desanimador porque nunca chega a ser realmente desenhado. Porém, fato é que o FSM é o único lugar no qual se pode articular uma nova realidade, não apenas pensar na possibilidade de uma. Logicamente, deveríamos poder dizer que este “outro mundo” é o do Ecossocialismo. Entretanto, dada a natureza das organizações não governamentais e sua especialização em certas crises, o FSM não se refere o suficiente à causa da crise do capitalismo. O Fórum deve identificar o inimigo e lhe responder.

IPS: Pensa que Dacar oferece uma oportunidade para consegui-lo?

JK: Totalmente. A África é um dos lugares mais vulneráveis da Terra, o que é tremendamente irônico, pois é o menos industrializado do planeta. O continente é saqueado pela desapiedada extração de recursos como em nenhum outro lugar do mundo, em primeiro lugar porque é rico. E, em segundo, pela falta de proteção para deter a chegada das companhias. Há mais incentivos na África para começar a pensar de forma sistêmica. Dacar também é um centro mundial de pesquisa em ecologia, muito mais do que Nairóbi, e até mesmo do que Mumbai. O calibre geral dos intelectuais de esquerda presentes é extremamente alto no Senegal..

IPS: O que o FSM pode fazer para lidar com os desafios apresentados no Fórum Econômico Mundial que acontece quase simultaneamente?

JK: É preciso basear-se firmemente em uma prática e uma lógica anticapitalistas. É difícil, mas certamente possível. Creio que acima de tudo o FSM é um lugar onde a grande variedade de tendências se encontra, conscientes de que seus diferentes problemas são sistemáticos e têm a ver com a penetração do império e do capital global em cada rincão da Terra. Para continuar com a analogia médica, se você tem um paciente com um tumor no pâncreas, só é possível tratá-lo se os médicos concordarem que se trata de câncer. Só a partir daí se pode reunir e pensar no remédio, e há muitíssimas formas de curar isto. Envolverde/IPS

(IPS/Envolverde)

Mudança Climática e conflito social estão associados?

Por Sérgio Abranches, do Ecopolítica
Eventos climáticos extremos podem ter tido efeito importante nos levantes populares no Oriente Médio e Norte da África? A mudança climática já está afetando as relações sociais?

A questão pode parecer uma dessas vias forçadas para alertar sobre a mudança climática. Mas não é. É uma preocupação relevante e essa conexão já vem sendo estudada por cientistas das mais diversas áreas, climatologistas, ecologistas, sociólogos, economistas. A pergunta é mais complexa do que ela aparenta à primeira vista. Ela indaga sobre duas relações nada triviais: entre eventos climáticos extremos e mudança climática e entre anomalias climáticas e conflito social.

Os cientistas resistem sempre a atribuir a emergência de eventos climáticos extremos específicos à mudança climática. Argumentam, com razão, que não há base científica para associar um evento em particular ao fenômeno global e de longo prazo da mudança climática. Mas o climatologista Kevin Trenberth, diretor da Seção de Análise Climática do Centro Nacional para Pesquisa Atmosférica, nos Estados Unidos, defendeu recentemente uma visão diferente desse problema, conhecido na ciência climática como “o problema da atribuição”. Em entrevista exclusiva ao editor do blog Climate Progress, o físico Joseph Romm, Trenberth disse que:

Os cientistas sempre começam com a afirmação de que não se pode atribuir um evento isolado à mudança climática. Mas ela tem uma influência sistemática sobre todos esses eventos climáticos atuais, segundo ele, por causa do fato de que há mais vapor d’água circulando na atmosfera do que se tinha, digamos, trinta anos atrás. É uma quantidade extra de 4% de vapor d’água. Ele aumenta a força das tempestades, dá mais umidade para essas tempestades e é ruim que o público não veja isto como uma manifestação da mudança climática. A perspectiva é que esse tipo de coisa só aumentará e piorará no futuro.

A quantidade de gases estufa na atmosfera, segundo a maioria dos cientistas, já tem um efeito de aceleração do aquecimento da Terra. Portanto, a mudança climática decorrente deve ser vista como um processo em curso com tendência de agravamento ao longo do tempo. Ou seja, é de longo prazo, mas as coisas não acontecem todas no futuro de uma vez só. Vão acontecendo progressivamente, com aumento de frequência e intensidade.

E qual a relação com os fatos no Oriente Médio e na África do Norte?

Tivemos um período atípico de grande quantidade de eventos climáticos extremos em 2010 e no início deste ano. Secas, enchentes, ondas de calor e frio, tempestades intensas, nevascas, queimadas. Esses eventos afetaram negativamente a produção agrícola mundial em todas as partes do mundo: os casos mais exemplares foram no Casaquistão, na Rússia, no Canadá, na Austrália, nos Estados Unidos, na China e no Brasil. O resultado foi uma forte alta dos preços internacionais das commodities agrícolas e inflação de preços de alimentos. Uma inflação climática.

O blog Climate Progress organizou uma série de referências de cientistas e da imprensa a essas relações. Entre elas, estudo dos economistas Rabah Arezki, do FMI, e Markus Brückner, da Universidade de Adelaide na Austrália. Eles estudaram o efeito de variações nos preços internacionais de alimentos sobre as instituições democráticas e conflitos internos em mais de 120 países, entre 1970 e 2007. Essa análise mostra que existe uma clara relação para os países de baixa renda: observa-se a deterioração das instituições democráticas e o aumento da incidência de conflitos de rua, demonstrações anti-governo, e movimentos de massa.

Por que nos países de baixa renda? Nos países de renda alta essa relação não é significativa. Porque quanto menor a renda do país, maior a participação dos alimentos no orçamento doméstico e, portanto, maior a sensibilidade da população a elevações fortes do preço da comida.

Estudos históricos mostram que há relação entre mudança climática e colapso social. Quebras de safra e consequente elevação dos preços de comida são causas frequentes de levantes populares e revoluções na história da sociedade moderna e contemporânea. A história do próprio Egito registra casos históricos de conflitos associados ao preços dos grãos (infelizmente não tenho cópia digital deste artigo). Na Índia, também foram muitos os episódios. O mais notável talvez tenha sido a “revolta dos grãos” de 1918, provocada por desabastecimento e elevação de preços dos grãos resultante de monções com chuvas excepcionalmente fracas.

Em vários desses episódios históricos a relação era direta: a elevação dos preços dos alimentos causava a revolta. No caso atual, as causas são outras. Para entender o que se passa no Egito, por exemplo, é preciso distinguir entre o que causa o descontentamento profundo e o que detona a revolta. O que causou o descontentamento foi a própria tirania. Um governo autocrático, um ditador no poder por 30 anos, uma administração corrupta. Repressão, censura, prisões arbitrárias, tortura. No plano social, muita pobreza, imensa desigualdade de renda e de riqueza, falta de perspectiva de mobilidade social para os jovens. Nos últimos anos houve várias manifestações de protesto, todas duramente reprimidas, mas nenhuma do porte da revolta de massas que começou no dia 25.

O que detona o levante das massas? Uma conjuntura, isto é, uma convergência de fatores, antes dissociados, que se encontram e formam “a gota d’água”, provocam a virada, o tipping point, que levam um protesto como outros inúmeros se transformar em explosão de descontentamento geral, em revolta incontrolável e espontânea da massa.

No Egito houve fatores econômicos, políticos e aceleradores importantes que criaram essa conjuntura. O econômico foi a elevação dos preços dos alimentos, que atingiu duramente as famílias mais pobres. A subida dos preços do petróleo, moradia e educação, bateu no orçamento da classe média. Esse choque de preços ocorreu em uma economia debilitada, na qual o desemprego de jovens é muito alto. O desemprego agrava uma situação de baixa mobilidade social, anulando as perspectivas de futuro dos jovens. Em alguns casos, jovens com qualificação sofrem descenso social, sendo forçados a trabalhar em setores de baixa qualificação. O desespero dos jovens se transmite facilmente para os pais e famílias.

O fator político foi a notícia de que o filho de Hosni Mubarak, Gamal Mubarak, seria seu sucessor, provavelmente já como candidato nas eleições de cartas marcadas previstas para setembro. A possibilidade de uma dinastia Mubarak provocou enorme rejeição, em um país de passado dinástico.

O quadro sócio-econômico no Egito não é muito diferente do que se observa nos outros países. Na Tunísia, no Sudão, mesmo na Arábia Saudita, há tirania, muita pobreza, desigualdade de renda e riqueza, desemprego de jovens e elevação de preços de alimentos. Ouvi recentemente entrevista de um dos príncipes sauditas, na CNN, falando que a situação em seu país é diferente, mas que há, realmente, insatisfação com o aumento de preços dos alimentos e da moradia. O governo aumentou os salários para que pudessem absorver o custo adicional. A evidência mostra que subsídios e aumentos salariais para compensar os efeitos da inflação alimentar têm efeito temporário e acabam por realimentar os preços.

No Egito, o aumento dos preços dos alimentos foi muito forte, como se vê no gráfico em - http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Inflation-in-Egypt.jpg.

Os preços dos alimentos subiram 40% e os de moradia e educação, mais de 10%. Os pobres são sensíveis à inflação nos alimentos e na moradia. A classe média à inflação na educação, na moradia e nos combustíveis.

O que acelerou a revolta e permitiu que se transformasse em um movimento de massa, muito rapidamente? As mídias e redes sociais e o efeito-demonstração do levante na Tunísia, que se propagou por essas vias digitais. É evidente que as mídias e redes sociais não fazem revoluções. Elas são uma revolução na forma como nos comunicamos e trocamos informação. Nisso têm sido revolucionárias. Mas, na sociologia dos conflitos sociais seu papel é de acelerador e transmissor, permitindo, por exemplo, o contágio inicial, que depois passa a se dar por contato físico, nas ruas e nas praças, e na propagação de eventos que acabam tendo o efeito de aumentar a propensão à ação.

Além disso, podem ter o efeito de prolongar o contágio. A sociologia já decifrou como terminam os processos por contágio, como os arrastões, por exemplo: quando não há mais pessoas a contagiar e a cadeia se quebra. As redes e mídias sociais – no caso do Egito principalmente o SMS – trazem mais pessoas para o movimento e realimentam o contágio.

Não é por acaso que essas revoltas ocupam as ruas e praças das cidades. O meio urbano é muito mais propício ao contágio das massas. O crescimento da população com acesso à telefonia celular dá o principal instrumento de contágio.
 Veja os gráficos para o Egito (http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Egypt-Mobile-subs.jpg ) e a Tunísia (http://www.ecopolitica.com.br/wp-content/uploads/2011/02/Tunisia-Mobile-subs.jpg).

Mas a internet teve importante papel de manter o mundo informado sobre o que se passava no Egito, provavelmente evitando um banho de sangue, e na comunicação entre os egípcios. E por isso o governo fechou o acesso à Web.

Nada é simples nesse processo. Estamos falando da convergência de processos complexos no sistema climático, no sistema social e na sociedade global. Essa convergência só aumentará nos próximos anos e décadas. Viveremos mais turbulência climática e social, no meio de uma revolução científica e tecnológica sem precedentes.

Para ouvir o comentário do autor na rádio CBN acesse http://www.ecopolitica.com.br/2011/02/02/mudanca-climatica-e-conflito-social-estao-associados/.

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