Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Cresce interesse por hotéis verdes /// Estadão

Estabelecimentos investem na adoção de práticas ecologicamente corretas para preservar o ambiente e o clima.

Afra Balazina
O luxo e o conforto oferecidos pelos hotéis estão frequentemente relacionados a extravagâncias e desperdícios. Mas a cada dia é mais comum que empreendimentos e hóspedes tentem aliar o bem-estar e o aconchego com o respeito ao ambiente. O movimento é observado no Brasil e no mundo.

Entre as ações adotadas estão o tratamento de esgoto, a separação do lixo, a redução do consumo de água e o aproveitamento de fontes alternativas de energia, como a solar.

Mas um dos pontos que ainda faltam avançar no País é a certificação no momento de construir os prédios - nenhum hotel tem. Segundo a ONG Green Building Council Brasil (GBC), hoje existem só 14 empreendimentos certificados com o Leed - Leadership in Energy and Environmental Design, selo verde para a construção civil. Em processo de certificação são 150 obras, entre as quais alguns hotéis. Um deles será instalado na zona sul de São Paulo e outros, na Região Nordeste.

INTEGRAÇÃO
Além de ações de sustentabilidade, alguns hotéis vêm adotando medidas de integração com a comunidade onde eles estão instalados. Esse é o casos do Paraíso Eco Lodge, em Ribeirão Grande, no Vale do Ribeira. O empreendimento patrocinou um grupo de artesãos da região e promoveu o renascimento de grupos de dança de fandango.

Praticamente todos os funcionários são de Ribeirão Grande, de preferência do bairro mais próximo do hotel. "Não destruir e respeitar a natureza é o mínimo, mas não podemos deixar de lado o elemento humano", diz o coordenador do Paraíso, Manoel Pereira Lizo Filho.

O hotel também faz tratamento de esgoto produzido nos chalés que foram construídos com sobras da indústria de laminação de madeira. O estabelecimento tem lareiras apenas decorativas. Para não perder o charme, mas evitar a queima de lenha e a emissão de gás carbônico, o hotel usa velas.

E não há piscinas. "Alguns hóspedes pedem, mas para quê gastar com água e manutenção se na área há lagos que permitem a natação e um contato mais próximo com a natureza?", questiona Lizo Filho.

Em Visconde de Mauá (RJ), o Hotel Bühler criou o projeto Lixo Mínimo. Os resíduos orgânicos vão para uma miniusina e são transformados em adubo, usado posteriormente no jardim e na horta orgânica. De acordo com Norma Bühler, os hóspedes são convidados "de forma simpática" a fazer a separação do lixo reciclável - depois, o material é doado. O hotel também planta eucaliptos para abastecer a sauna e as lareiras.

Na Costa Rica, país procurado por suas belezas naturais, o Paradisus Playa Conchal faz mensalmente uma revisão na frota de carros e motos para verificar as emissões de poluentes e, se necessário, fazer a regulação dos veículos.

Mauricio Ramírez, gerente de qualidade ambiental do hotel, conta que foram recicladas mais de 325 toneladas de resíduos desde 2004. Os hóspedes são convidados a contribuir com US$ 1 por estada para beneficiar uma área de conservação estadual - em cerca de dez anos, arrecadou-se aproximadamente R$ 400 mil. O empreendimento conquistou a certificação ambiental ISO 14001.

CUSTO-BENEFÍCIO
As construções que obedecem às normas de certificação Leed têm um aumento de 5% a 10% no custo de implantação. No entanto, os gastos na operação são reduzidos em 40%. As novas tecnologias ajudam a garantir economia de energia e de água: é possível usar lâmpadas mais eficientes - como as fluorescentes e as de LED - e sensores para iluminação e para torneiras, além de privadas com dois botões de fluxo de água (um mais curto e outro mais longo).

O engenheiro civil Marcos Casado, gerente técnico do GBC Brasil, incentiva o uso de energias alternativas, como a solar e a eólica, e o respeito à biodiversidade. A iluminação do empreendimento à noite, por exemplo, "deve ser somente o mínimo necessário para garantir a segurança e não atrapalhar os pássaros noturnos".

Paulo Gustavo Moura Gomes, coordenador de marketing do Pestana na América do Sul, diz que a rede possui um comitê de ecossuficiência que atua em questões relacionadas a obras e reformas. "Percebeu-se que o letreiro não precisava ficar aceso a madrugada toda. E que nem todos os elevadores precisavam funcionar durante a noite."

A rede, com nove hotéis no Brasil, promoveu o plantio de 5 mil mudas de árvores por meio de um projeto da Fundação SOS Mata Atlântica. Nos quartos, são apresentados guias de educação ambiental para os hóspedes e, em abril, realizará um evento para conscientizar também funcionários. Gomes não é contrário à certificação, mas diz que esses mecanismos não são estritamente necessários. "Se o hotel tem regras próprias e projeto claro, isso fica evidente para o cliente. Não é preciso outra propaganda."

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