Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

A largada da corrida///THOMAS L. FRIEDMAN

"Talvez a melhor coisa que o Presidente Barack Obama poderia ter feito aqui em Copenhagen seria dizer claramente que a América pretende vencer essa corrida", opina Friedman

Reuters
THOMAS L. FRIEDMAN DO THE NEW YORK TIMES

Copenhague - Por muito tempo acreditei em duas estratégias básicas para conter as mudanças climáticas -- a estratégia do "Dia da Terra" e a estratégia da "Corrida da Terra". Esta cúpula do clima em Copenhagen baseou-se na estratégia do Dia da Terra. Não impressionou muito. Resultou em uma série de compromissos limitados, condicionais e confusos, que não esclarecem de forma alguma como vamos mitigar a mudança climática com a velocidade e extensão que necessitamos.
Certamente, qualquer um que viu como esta conferência foi "organizada", e presenciou as discussões dos delegados no seu encerramento, deve se perguntar por que este processo das Nações Unidas de construir uma estrutura global para reverter o aquecimento terrestre, não foi bem sucedido após dezessete anos: países demais -- 193 -- e muitas peças em movimento. Saio daqui com um forte sentimento de que a América deve se concentrar, mais do que nunca, na sua própria estratégia de Corrida da Terra. Deixem-me explicar.

A estratégia do Dia da Terra afirma que a maior ameaça à humanidade é a mudança climática e que nós, como uma comunidade global, devemos nos dar as mãos e atacar este problema por meio de um mecanismo global coletivo para codificar e verificar as emissões e as reduções do dióxido de carbono de todos, e transferir bilhões de dólares em tecnologias limpas para os países emergentes com o intuito de ajudá-los a participar. Mas, como disse o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva do Brasil nesta conferência, esta estrutura do Dia da Terra somente funcionará se "os países assumirem a responsabilidade de alcançar as suas metas" e se as nações ricas realmente auxiliarem as pobres a adquirir fontes de energia limpas.

Isso nunca aconteceria em escala no clima econômico global atual. A única maneira de isso ocorrer seria se tivéssemos uma "tempestade perfeita" -- uma tempestade grande o suficiente para encerrar o debate sobre o aquecimento global de uma vez por todas, mas não grande o suficiente para acabar com o mundo. Como tal tempestade que, literalmente, dividiria o Mar Vermelho mais uma vez, e convenceria a todos os céticos de que a catastrófica mudança climática é um perigo claro e presente não ocorreu, as pressões internas em cada país para evitar uma obrigação legal e verificável de reduzir o carbono permanecerão muito fortes.

Isso significa que toda esta estratégia do Dia da Terra é uma perda de tempo? Não. O entendimento científico sobre o clima gerado por este processo das Nações Unidas e o estímulo geral para a ação que ele fornece é valioso. E, se funcionar, o mecanismo utilizado por esta conferência para possibilitar que países desenvolvidos e empresas compensem as suas emissões financiando a proteção das florestas tropicais, será enormemente valioso.

Mas, eu ainda sou mais adepto da Corrida da Terra. Acredito que prevenir a catastrófica mudança climática é uma enorme questão de escala. O único mecanismo grande o suficiente para afetar a Mãe Natureza é a Ganância do Pai: o Mercado. Somente um mercado, regido por regulamentos e incentivos que estimulem uma inovação maciça em fontes de energia limpa, sem emissões, pode reduzir consideravelmente o aquecimento global. E nenhum mercado pode fazer isso melhor do que a América.

Consequentemente, o objetivo dos Corredores da Terra é concentrar-se em fazer com que o Senado dos EUA aprove um projeto de lei para a energia, com um preço de longo prazo sobre o carbono, que realmente venha a estimular a América a tornar-se líder mundial em tecnologias limpas. Se formos guiados pelo exemplo, mais pessoas nos seguirão pela imitação do que pela obrigatoriedade de um tratado das Nações Unidas.
Durante a Guerra Fria, tivemos a corrida espacial: quem seria o primeiro a colocar um homem na lua. Somente dois países competiram e poderia haver somente um vencedor. Hoje, precisamos da Corrida da Terra: quem será o primeiro a inventar as tecnologias mais limpas, de maneira a que homens e mulheres possam viver em segurança aqui na Terra.

Talvez a melhor coisa que o Presidente Barack Obama poderia ter feito aqui em Copenhagen seria dizer claramente que a América pretende vencer essa corrida. Tudo o que ele necessitava fazer durante o seu discurso era olhar o primeiro-ministro da China nos olhos e dizer: "Vou fazer com que o nosso Senado aprove uma conta de energia com um preço sobre o carbono, de maneira a que possamos limpar o seu relógio em tecnologia limpa. Esta é a minha missão espacial. O jogo começou".
Porque, no momento em que a América competir com a China, a China competir com a Europa, a Europa competir com o Japão, o Japão competir com o Brasil, poderemos mudar rapidamente a curva da inovação-manufatura, e encolher os custos dos carros elétricos, das baterias, da energia solar e eólica, de maneira a que esses não sejam mais produtos de luxo para nações ricas, mas produtos que o terceiro mundo possa utilizar e, até mesmo, produzir.

Se você iniciar a conversa com "clima" você fará com que metade da América se comprometa com a ação. Se você iniciar a conversa com "dar à luz a toda uma nova indústria" - que nos tornará mais independentes em termos de energia, mais prósperos, seguros, inovadores, respeitados e capazes de tornar a China ecologicamente correta na próxima grande indústria global - você conquistará o país.
Por uma boa razão: mesmo se o mundo nunca aquecer mais um grau, estima-se que a população crescerá de 6,7 bilhões para 9 bilhões em 2050 e, cada vez mais, essas pessoas desejarão viver como os americanos. Neste mundo, a demanda por carros e prédios com eficiência energética e limpa, atravessará os telhados.
Uma Corrida da Terra liderada pela América - baseada nos mercados, na concorrência econômica, no interesse nacional e na vantagem estratégica -- é uma maneira muito mais autossustentável de reduzir as emissões de carbono do que um festival de compromissos voluntários e não obrigatórios de uma conferência das Nações Unidas. Vamos dar a largada para a Corrida da Terra.

Thomas L. Friedman é colunista do jornal The New York Times desde 1981. Foi correspondente-chefe em Beirute, Jerusalém, Washington e na Casa Branca (EUA). Conquistou três vezes o Prêmio Pulitzer, até que em 2005 foi eleito membro da direção da instituição. Artigo distribuído pelo New York Times News Service.

Materia extraida do site TERRA.

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