Os desafios da implementação
Por Dra. Aileen Ionescu-Somers e Professor Francisco Szekely
Por Dra. Aileen Ionescu-Somers e Professor Francisco Szekely
O que impede que as empresas inovem em produtos e serviços sustentáveis, e como poderiam melhorá-los?
Os dois principais motivos dessa inércia são os mercados financeiros, que ainda focam demais no curto prazo, e muitos dos novos modelos de parcerias, são falhos. As organizações deveriam desenvolver uma inovação recíproca que busque soluções, e deveriam compartilhar o valor que criam com seus clientes. Porém, a complexidade social, as mentalidades fechadas e a falta de uma liderança empenhada dificulta a implementação dessas mudanças – este último ponto sendo fundamental. Os líderes precisam ter certas características especiais para conduzirem mudanças, como: visão externa à frente das tendências globais, capacidade de dominar a complexidade e conseguir envolver seu pessoal em torno da sustentabilidade.
Outros fatores incluem o papel periférico desempenhado pelas empresas em negociações multilaterais sobre o desenvolvimento sustentável, a falta de dinheiro e investimento para quadros que promovem a inovação para a sustentabilidade, além da complexidade do sistema como um todo.
Compartilhando melhores práticas
A complexidade do sistema – principalmente no que diz respeito ao tamanho e à burocracia – cria enormes dificuldades para as empresas poderem compartilhar melhores práticas.
Porém, compartilhar melhores práticas não deveria ser uma atividade puramente interna – muitas empresas estão começando a trabalhar com outras dentro e fora de seus ramos de negócios para compartilharem melhores práticas em questões como a forma de medir o impacto ambiental, conduzir auditorias de sustentabilidade e usar certificações para comunicar seu compromisso com a sustentabilidade. Algumas empresas também estão compartilhando melhores práticas com determinadas ONGs e outras organizações. É uma maneira eficaz de conseguir apoio governamental e, eventualmente, mudar quadros e impulsionadores econômicos.
Naturalmente, esse compartilhamento externo tem seus desafios. Com os concorrentes, por exemplo, há limites para o que pode ser compartilhado, já que a sustentabilidade está começando a fazer parte da vantagem competitiva empresarial. No entanto, é interessante ficar atento uma vez que pode se tornar um fator que retarde a renovação sistêmica se as grandes empresas e líderes relutem a se abrirem demais. Enquanto isso, ainda é possível compartilhar a pesquisa básica em um nível pré-competitivo, ou trabalhar com não-concorrentes para adaptar ideias e obter novas soluções.
Operações e a cadeia de suprimentos
A terceirização fez com que as empresas derrubassem os preços ao efetuarem compras, pois pequenas reduções percentuais no custo levam a grandes aumentos na margem de lucro. Isto significa que as compras são um fator importante de negócios.
No entanto, acontecimentos recentes como a polêmica da substituição de carne bovina por carne de cavalo na Europa têm pressionado os relacionamentos com fornecedores e prejudicado a imagem das empresas. A enorme pressão para obter melhores margens por parte de compradores tem levado a muitos exemplos de comportamentos insustentáveis e antiéticos dos fornecedores.
As empresas precisam transformar sua abordagem focada em custo para uma focada em valores, garantindo que seus fornecedores contribuam para o sucesso sustentado. Isso exige mudanças dramáticas na governança e no modo como os gerentes de compras são recompensados.
As empresas também deveriam adotar uma medida mais integrada para o fornecimento sustentável, tanto interna quanto externa. Internamente, isso pode significar estabelecer uma ligação melhor entre o departamento de compras e o de vendas e marketing, para aproveitar ao máximo as melhorias da sustentabilidade; encontrar uma linguagem em comum entre os gestores; enfatizar a necessidade da presença de líderes internos e corporativos para a promoção da mudança; introduzir novos paradigmas, tal como a organização em rede aberta da Toyota; e avançar rapidamente pelos estágios da mudança para que a empresa aprenda a andar antes de correr.
Externamente, o provável foco principal é inovar em redes, iniciar novos diálogos e introduzir novos paradigmas. É possível também instituir uma “tesouraria do conhecimento” – uma estrutura única, a qual toda a cadeia de abastecimento se reporta.
O papel da tecnologia
Grandes empresas como a Tata, líder mundial em consultoria de TI, e Ricoh, líder mundial em fabricação de impressoras e multifuncionais, estão adotando uma visão de longo prazo de 30 a 40 anos, em vez da tradicional perspectiva de dez anos. Isso incentiva um pensamento que foge do óbvio.
Essas empresas descobriram que gerentes devem ser encorajados a se mover confortavelmente dentro de um ambiente de “tentativas” – ou seja, onde o fracasso é visto como uma boa experiência de aprendizagem e uma oportunidade para testar o terreno para a inovação.
A Ricoh, por exemplo, está pensando em ir além de seu principal negócio, o da impressão. Sua meta atual é garantir que todas as inovações tratem da redução de impacto, ainda que contribua para os resultados; implementar inovações radicais como produtos e serviços que não sejam do ramo da impressão, assim como criar mais inovações incrementais como a impressão sustentável e incorporar a ideia da reutilização como um processo, e não como uma hipótese.
Mercados emergentes
Descarte todos os preconceitos de que a inovação é algo que acontece em países ocidentais antes de ser implementado em mercados emergentes. Muitas das inovações de hoje são provenientes desses mercados emergentes, e não inseridas neles. No ambiente de negócios extremamente dinâmico da China há três fatores em jogo que vão levar a uma evolução interessante da inovação estratégica para a sustentabilidade ao longo do tempo.
Primeiro, o ambiente competitivo é diferente dos outros, sendo o mais competitivo do mundo no momento. A concorrência leva à inovação, mas não necessariamente à inovação sustentável. No entanto, os chineses estão cada vez mais preocupados com questões ambientais e sociais – pois estão perto dos piores efeitos do comportamento corporativo insustentável.
Isso nos leva ao próximo fator: a China enfrenta uma escassez de talentos que possuem competências adequadas para liderar as empresas nesse ambiente competitivo. No entanto, as empresas relatam que seus melhores talentos estão baseando suas escolhas em critérios de sustentabilidade. Sem dúvida, isso também incentivará a inovação estratégica para a sustentabilidade.
Por último, embora haja uma grande dose de incerteza regulatória na China, seu novo plano de cinco anos impulsionará o consumo interno, e também incentivará o desenvolvimento de um setor econômico sustentável, inclusive do ponto de vista ambiental. E isso, nas empresas, surtirá efeito sobre os fatores-chave para a inovação sustentável.
CLIQUE AQUI para ler a primeira parte do artigo: Contexto empresarial e fatores-chave.
Dra. Aileen Ionescu-Somers é diretora do Centro Global de Liderança Sustentável do IMD (CSL).
Francisco Szekely é professor de Liderança e Sustentabilidade da Sandoz Family Foundation e Diretor do Centro Global para Liderança Sustentável do IMD (CSL).
O Centro Global de Liderança Sustentável do IMD foca principalmente na inovação estratégica para a sustentabilidade através do desenvolvimento do pensamento de liderança relevante, pesquisa e atividades de aprendizagem. Em especial, seu inovador programa “One Planet Leaders “– um esforço colaborativo com a WWF, voltado para o desafio do amanhã de viver dentro dos limites de um só planeta.
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