Carta da Terra

"Estamos diante de um momento crítico na história da Terra, numa época em que a humanidade deve escolher o seu futuro. À medida que o mundo torna-se cada vez mais interdependente e frágil, o futuro enfrenta, ao mesmo tempo, grandes perigos e grandes promessas. Para seguir adiante, devemos reconhecer que, no meio da uma magnífica diversidade de culturas e formas de vida, somos uma família humana e uma comunidade terrestre com um destino comum. Devemos somar forças para gerar uma sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos humanos universais, na justiça econômica e numa cultura da paz. Para chegar a este propósito, é imperativo que nós, os povos da Terra, declaremos nossa responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida, e com as futuras gerações." (da CARTA DA TERRA)

Afinal, empresa sustentável dá lucro?

 

Pesquisa da Universidade de Harvard concluiu que, no período estudado, as empresas sustentáveis deram muito mais lucro do que as não sustentáveis.

Por Jorge Abrahão*

Uma pergunta que sempre aparece nos debates sobre empresas e sustentabilidade é: empresa sustentável dá lucro? E, afinal, o que é uma empresa sustentável?
Muitos especialistas, consultorias e até órgãos da ONU já tentaram provar que sustentabilidade dá lucro. Mas, as respostas foram muito amplas, ou seja, mostraram o valor da biodiversidade ou das consequências das mudanças climáticas. Não chegaram ao cerne da questão, que é provar ao empresário que uma empresa sustentável não só garante licença para operar como dá lucro.
Pois um departamento da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, resolveu pesquisar as empresas para verificar se sustentabilidade dá lucro ou não. Harvard partiu da premissa de que empresa sustentável é aquela que tem uma “cultura de sustentabilidade” internalizada na estratégia e nas operações do negócio.

A conclusão: num período de 18 anos, uma empresa sustentável deu muito mais lucro do que uma empresa não sustentável.
Vamos ver como se chegou a essa conclusão.

Quantas empresas possuem cultura de sustentabilidade?
Para responder a essa pergunta, a universidade pesquisou as listas de vários índices de bolsas de valores e verificou quantas políticas sustentáveis as empresas listadas declaram.
Enumerou 27 políticas, entre ambientais, sociais e de governança, tais como: conduta ética perante os funcionários, a comunidade, fornecedores e clientes; adesão a pactos nacionais e internacionais de integridade; adoção de práticas promotoras da diversidade e da igualdade de oportunidades na empresa; respeito aos direitos humanos, tanto com empregados quanto com a comunidade e outros públicos de interesse; redução das emissões de carbono; programas de eficiência hídrica e energética; programa de reciclagem de resíduos; programa de inovação para diminuir consumo de recursos naturais; políticas para garantir liberdade de associação aos funcionários; e salários dignos.

Em seguida, Harvard selecionou empresas que tivessem instituídas pelo menos três dessas políticas entre 2003 e 2005, eliminando, de antemão, as instituições financeiras. Encontrou 675 empresas.
Para verificar quais delas realmente possuem uma “cultura corporativa de sustentabilidade”, Harvard estabeleceu um ranking dessas empresas, pela média ponderada das políticas de sustentabilidade adotadas. A ponderação foi feita pela quantidade de políticas existentes em relação ao tempo em que elas foram instituídas na empresa.
Quanto mais políticas e mais tempo de instituição, melhor a posição no ranking. Para validar essa avaliação ponderada, a análise das empresas foi completada por dados retirados de relatórios, sites e outras publicações, bem como por entrevistas com executivos.

Estabelecido o resultado, Harvard dividiu as empresas em dois grupos de 90 empresas cada: o primeiro, com as 90 mais bem colocadas no ranking, foi denominado “Alta Sustentabilidade” e constituído por aquelas companhias que adotaram mais de dez das 27 políticas enumeradas, ainda nos anos 1990. O outro grupo, chamado “Baixa Sustentabilidade”, identificou aquelas corporações que adotaram menos de quatro políticas nos anos 2000 e nenhuma nos anos 1990.
Empresa de alta sustentabilidade tem desempenho melhor do que a de baixa sustentabilidade
Para verificar o desempenho das empresas, Harvard estudou o setor, o porte e a estrutura de capital de cada uma delas. Completou essa análise com os resultados de uma pesquisa feita em bolsas de valores, averiguando o desempenho obtido nos últimos 18 anos (entre 1992 e 2010).
O resultado foi o seguinte:
  • As 90 empresas de alta sustentabilidade apresentaram melhores taxas de retorno, num período de 18 anos;
  • O patrimônio de uma empresa de alta sustentabilidade valorizou 33 vezes em 18 anos; o de uma empresa de baixa sustentabilidade, 26 vezes.
  • O retorno de uma empresa de alta sustentabilidade em 2010 foi de sete vezes o valor investido em 1992; o de uma empresa de baixa sustentabilidade foi de 3,5 vezes.
  • Analisando a evolução do valor das empresas ano a ano, também é possível verificar que, mesmo em momentos de queda nas bolsas, a desvalorização das empresas de alta sustentabilidade foi significativamente menor do que a das empresas de baixa sustentabilidade.
Por que as empresas de alta sustentabilidade tiveram esse desempenho?
De acordo com Harvard, esse desempenho tem a ver com o perfil dessas empresas. Elas possuem uma governança distinta, baseada nos seguintes pressupostos:
  • Têm foco no engajamento de públicos de interesse (stakeholders).
  • Estabelecem processo de diálogo formal com esses públicos e, com isso:
    • Identificam os critérios de engajamento para cada público, bem como suas necessidades e demandas;
    • Conseguem levantar riscos e oportunidades para o negócio;
    • Reconhecem os públicos-chave para a empresa;
    • Treinam executivos para engajar esses públicos;
    • Criam valor compartilhado, por atender tais demandas;
    • Atuam com proatividade e transparência;
    • Orientam investimentos para o longo prazo, isto é, para processos, produtos e serviços de supram as demandas por qualidade e segurança socioambiental, além da financeira;
    • A sustentabilidade é responsabilidade expressa da diretoria;
    • Mantêm um comitê de sustentabilidade que tem por tarefa orientar os executivos quanto às políticas de sustentabilidade e resultados esperados, bem como estabelecer comunicação com os públicos de interesse;
    • O sistema de compensação da liderança está atrelado tanto ao desempenho financeiro quanto à consecução de metas não financeiras ligadas aos indicadores-chave das políticas de sustentabilidade;
    • Boa parte dos investidores ou acionistas é orientada pelos resultados de longo prazo;
    • A tomada de decisões é baseada em dados da concorrência e do mercado, bem como nas informações relativas a stakeholders, devidamente auditadas por firmas independentes.

Estudos como esse de Harvard mostram que a sustentabilidade dá lucro, ao contrário do senso comum atual. Quanto antes governos e empresas acordarem para essa realidade, mais rápido poderemos construir o desenvolvimento sustentável que desejamos.

* Jorge Abrahão é presidente do Instituto Ethos.
Acesse aqui a íntegra do estudo, que se chama The Impact of a Corporate Culture of Sustainability on Corporate Behavior and Performance.
13/3/2013

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