O Valor traz uma interessante reportagem sobre a rentabilidade dos fundos de ações sustentáveis. Segundo um estudo da Anbima (Associação que reúne as entidades dos mercados financeiro e de capital), em 2012 os fundos sustentáveis renderam em média 13,69%, mais do que os fundos tradicionais, como o Ibovespa Ativo (5,55%0 e o IBrX Ativo (7,81%).
O texto do Valor aponta para a importância de se conjugar sustentabilidade e rentabilidade. Ou seja, cada vez mais os investidores estão percebendo que uma forma consistente e de longo prazo de proteger seus investimentos é apostando em empresas com práticas de sustentabilidade e governança bem estabelecidas e comunicadas ao público.
E já que estamos falando de mercado, é bom destacar que isto acontece não porque investidores e gestores de empresas estão mais sensíveis ao canto da sereia da sustentabilidade. Proteger as condições de vida e o futuro do planeta certamente é um tema relevante para todos nós, mas quando se trata de investimento de capital as questões que sempre virão em primeiro lugar são a taxa e o prazo de retorno.
Se não houver uma boa resposta para esta equação o simples fato de que determinado fundo seja “sustentável” jamais será suficiente para garantir sua “sustentabilidade” efetiva, traduzida em capital investido.
Os números da Anbima mostram que os fundos sustentáveis, por reunirem ações de empresas que efetivamente investem em práticas corretas de governança e de relação com a sociedade e o meio ambiente, estão com seus negócios melhor preparados para enfrentar as turbulências econômicas e a crescente mobilização de consumidores e governos por negócios éticos e sustentáveis.
Isto se confirma com os números apresentados pelo ISE, o Índice de Sustentabilidade Empresarial da BM&FBovespa. Desde que foi criado, em 2005, o ISE se valorizou em 130,17%, quase o dobro da valorização do Ibovespa no mesmo período, que ficou em torno de 75,76%.
Outro aspecto importante, para o qual a própria reportagem chama a atenção, é que os fundos sustentáveis reúnem ações de empresas que pesam cuidadosamente os riscos socioambientais de seus negócios e estão preparadas para eles. Isto significa que elas estão menos propensas a serem “surpreendidas” no futuro por legislações mais severas ou aumento da sensibilidade de consumidores às sua práticas de negócio.
É, no fundo, uma aplicação prática da famosa “Hipótese de Porter”, formulada no começo dos anos 1990 pelo “guru da administração” Michael Porter, segundo a qual regulamentações ambientais mais estritas podem ser benéficas para as empresas na medida em que as obrigam a investir mais em inovação, um dos elementos essenciais para aumentar suas vantagens competitivas.
O próprio Porter, aliás, defende que a melhor forma de o capitalismo continuar a manter sua situação de prevalência como sistema econômico no futuro é investindo na geração do que chama de “valor compartilhado”(shared value). Ou seja, as empresas têm de repensar seu modo de agir, focando menos nos resultados financeiros de curto prazo e mais nas necessidades reais dos consumidores e nos elementos de alcance mais amplo que impactam no negócio, do ponto de vista ambiental e social.
Como fazer esta transição? É o que Porter no artigo “Creating Shared Value”, publicado em 2011 na Harvard Business Review:
A solução está no princípio do valor compartilhado, que envolve a criação de valor econômico de uma forma que também cria valor para a sociedade, ao incorporar suas necessidades e desafios. As empresas devem reconectar o sucesso dos negócios com o progresso social. Valor compartilhado não é o mesmo que responsabilidade social, filantropia, ou mesmo sustentabilidade. É uma nova maneira de alcançar o sucesso econômico. Não está na margem do que as companhias fazem, mas no centro. Acreditamos que o valor compartilhado pode dar origem à próxima grande transformação do pensamento empresarial.
Esta nova hipótese de Porter, de que o valor compartilhado é o passo seguinte da sustentabilidade e um elemento fundamental para o capitalismo no século XXI, ainda precisa ser provada. Mas os números apresentados pela Anbima e pelo ISE, e replicados em outros índices de sustentabilidade mundo afora, mostram que este parece ser o caminho mais sustentável, tanto para as empresas, como para a sociedade e o planeta como um todo.
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