O fracasso de Kyoto ....Ou como as Emissões Fugitivas o detonaram!
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4633, de 29 de Novembro de 2012.
13.
Série de
artigos publicados na revista Nature aponta que o protocolo internacional criado
para combater o aquecimento global falhou. Além de não ter sido possível
implementar um mercado de carbono eficiente, as emissões de gases do efeito
estufa aumentaram nos últimos anos.
"O aquecedor está ligado." A frase estampada na capa da edição de hoje da
revista Nature anuncia, com base em uma série de artigos, o fracasso do
Protocolo de Kyoto em conseguir reduzir as emissões globais de gases causadores
do efeito estufa, apesar de todo o esforço empregado em sucessivas reuniões de
cúpula dedicadas ao tema. O alerta de uma das mais respeitadas publicações
científicas do mundo é feito no momento em que, mais uma vez, líderes políticos
tentam chegar a um acordo para prorrogar a validade do protocolo, previsto para
expirar no próximo mês, durante a 18ª Conferência das Partes sobre Mudanças
Climáticas (COP18), em Doha, no Catar.
Segundo Dieter Helm, professor de Políticas Energéticas da Universidade de
Oxford, no Reino Unido, embora o principal alvo de Kyoto tenha sido reduzir os
níveis de CO2 e demais gases que agravam o aquecimento global, as emissões
permanecem em uma curva ascendente. "Elas passaram de quase 2 partes por milhão
(ppm) por ano, no início de 1990, para quase 3ppm atualmente", informa o
especialista, para quem a situação deve piorar ainda mais.
"O grande problema de Kyoto é que ele leva em consideração apenas a produção
de carbono, e não a emissão", afirma o britânico. A distorção nos cálculos
favorece o lançamento de uma quantidade maior de carbono na atmosfera. "O
aquecimento global não leva em conta as fronteiras nacionais. Se um consumidor
dos Estados Unidos compra um carro, pouco importa se o aço dentro dele é feito
lá ou na China", prossegue. "A diferença entre a produção de carbono e o consumo
de carbono não é trivial. Veja o Reino Unido: de 1990 a 2005, a sua produção de
carbono caiu cerca de 15%, mas o consumo subiu aproximadamente 19%, quando se
leva em conta o carbono embutido nas importações." O que ocorreu, portanto,
segundo o especialista, foi uma transferência das emissões, desvirtuando a
intenção do protocolo.
Se o atual acordo é falho, a elaboração de um substituto é ainda mais
problemática. "Na COP de Durban, em dezembro de 2011, o máximo que se conseguiu
foi que os países participantes concordassem que até 2015 haverá um acordo sobre
o que eles podem fazer depois de 2020", lamenta o britânico.
Mercado - Outro aspecto do protocolo que falhou em seus
objetivos e deve criar um panorama tenebroso para o mundo nos próximos anos é o
mercado global de carbono. Segundo o que foi projetado em 1997, os países
poderiam colocar um preço nas emissões - ou em seus cortes - e negociá-las entre
si. Até o início dos anos 2000, o mercado estava prestes a se tornar uma
realidade, mas uma sequência de acontecimentos minou o projeto.
O primeiro deles foi a eleição de George W. Bush, um forte crítico do
protocolo, que presidiu os EUA entre 2001 e 2009. Contudo, outros fatores, além
da resistência da maior economia e maior poluidor do mundo, outros pontos
contribuíram para o fracasso. "A crise de crédito colocou instrumentos de
negociação complexos em descrédito. A European Union Emissions Trading Scheme
(EU ETS) se viu envolta em escândalos, como o roubo de licenças de emissão e
fraudes fiscais", enumera Michael Grubb, pesquisador da Universidade de
Cambridge, também no Reino Unido. Assim, questões financeiras e políticas
formaram um gargalo para o crescimento do mercado mesmo na Europa, região que
tem se mostrado mais flexível à adoção de mecanismos de redução das
emissões.
Em um dos artigos que compõem o especial da Nature, Grubb explica que, embora
a questão tenha ganhado novo fôlego nos EUA, no período pós-Bush, a crise
econômica atuou como freio na região. "Criou-se o consenso de que os Estados
Unidos não teriam estômago para precificação do carbono - o público nunca
aceitaria uma tributação", conta. Sem um mercado grande, o comércio de carbono
viu seus preços despencarem. Atualmente, o certificado para emissão de 1t de
carbono custa tão pouco que é mais barato pagar por ele do que investir em
tecnologias verdes.
Apesar do pessimismo generalizado, Grubb elenca três passos necessários para
colocar as medidas de combate às mudanças climáticas de volta nos trilhos. O
primeiro seria a inclusão dos Estados Unidos nos esforços globais para a redução
das mudanças climáticas. Outro ponto seria o fortalecimento do comércio global
de carbono. Por fim, o britânico defende que as nações mais pobres passem a
investir em economia verde. "Os países em desenvolvimento devem parar de apontar
a responsabilidade das mudanças climáticas para os países ricos e focar seu
desenvolvimento em tecnologias limpas", completa.
Polêmica - A adoção de metas por países em desenvolvimento é
uma das questões mais polêmicas das negociações ambientais. Os países
desenvolvidos afirmam que a fatura ambiental deve ser paga por todos,
independentemente da condição econômica. Por outro lado, o grupo de países em
desenvolvimento, liderados pelo Brasil, defende que a questão da pobreza seja
levada em consideração. Segundo o grupo, os países ricos devem focar a solução
do problema ambiental, enquanto os emergentes precisam se desenvolver e retirar
sua população da miséria.
(Correio Braziliense)
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